mia 15/03/2024
Química boa
O romance, apesar de rápido, é bem prazeroso de acompanhar e a química dos personagens foi um ponto muito forte na narrativa. Os personagens em si também são ótimos, é impossível sair desse livro sem amar o Ander e a Clara.
Entretanto, tenho algumas ressalvas que me incomodaram durante a leitura:
1. A escrita da autora me incomodou muito. Ela parava orações no meio e colocava um ponto final sem concluir a frase, fazendo ela ficar sem sentido e até confusa. Tiveram vários momentos que tive que reler o mesmo parágrafo porque fiquei confusa na narrativa.
2. A autora, apesar de ter boas intenções, faz questão de jogar monólogo cansativos e longos sobre o autismo e sobre a necessidade de respeitar autistas. Ela não está errada e é bom ler obras com essa representatividade, mas esses monólogos ficaram artificiais dentro da narrativa e parecia que a intenção da autora não era mostrar que está antenada em pautas sociais. Acho que essa representatividade pode ser construída de modo mais natural e esses monólogos poderiam ter sido destrinchados em diálogos construtivos entre os personagens.
3. Apesar da representatividade LGBT, em um momento a autora usa o termo "assexuado" para se referir à assexuais. Assexuado não é um sinônimo para assexual e é um termo incoerente com a sexualidade. Além disso, o Yulen se encaixou no estereótipo de bissexual que pega todo mundo.
4. A autora criou narrativas que ficaram sem conclusão e sem sentido dentro da história. O relacionamento da Penelope com a amiga da Michelle, Rossy, foi discutido em alguns momentos, mas não teve conclusão, e no final a Penelope ficou com uma mulher aleatória. Os romances do Yulen também ficaram sem desenvolvimento/em aberto. A narrativa da Hiba com o Juan foi só largada e resolvida em um piscar de olhos, como se ela tivesse acordado de um feitiço. Acho que a autora criou muitos personagens e não soube lidar com todas essas histórias, o que resultou em muitas pessoas rasas e com desenvolvimentos fracos ou a total ausência deles.
5. Voltando à escrita da autora, eu acho que ela fez um uso indiscriminado de capslock a um ponto que atrapalhou a leitura. Eu acho capslock uma ótima maneira de ressaltar sentimentos, mas quando abusado dá um tom infantil ao autor. Um momento que me incomodou MUITO foi quando a Clara estava competindo nas Olimpíadas e quando vocês bate o olho no parágrafo que vai descrever a luta, você vê logo embaixo um "EU GANHEI", e quem lê sabe que as vezes você lê sem querer só de ver as palavras de relance.
O livro tem seus pontos fortes e acho que a autora tem potencial para mantê-los e aperfeiçoar suas falhas. De qualquer maneira, a leitura me agradou e me divertiu.