Resenhas - Planta oração

Toni 16/03/2023

Leituras de 2022

Planta oração [2022]
Calila das Mercês (Bahia)
Editora Nós, 2022, 144 p.

O primeiro livro de contos de Calila das Mercês pede leitura lenta, tempo de germinação. Isso não é apenas um conselho, mas princípio composicional que acompanha em diferentes níveis a feitura da obra: na linguagem que se espraia aos sabores de tempos, sons e afetos; no risco das narrativas que, como frutos, guardam uma generosidade agridoce e inusitada; na coesão dos títulos e na poesia concreta que serve de preâmbulo a cada conto, emulando um florescimento que é da própria autora, mas também da arte da ficção, de nosso percurso como leitores e leitoras, dos sentidos deste “Planta oração” que conecta o chão aos céus: o que temos de raiz e o que temos de divino.

A dicção do livro é versátil, ora nos entrega um falar migrante, de histórias miúdas em grandes cidades, ora faz dengo nos corações e ouvidos nordestinos, com um forte acento que transpira a quentura acalantadora do interior baiano. Há, também, nesses contos, uma presença muito forte do familiar — quartos, casas, quintais e lembranças que as personagens percorrem com o mesmo desembaraço ou desejo com que nos despimos para entrar no rio da infância ou nos achegamos à vizinha. O costumeiro “fique à vontade” das casas de interior é tão persuasivo que quando os contos acabam, ficamos sem saber se nos levantamos para ir embora ou quedamos um cadinho mais, curtindo a presença do pedaço de mundo que ficou em suspenso na sala.

Contos como “ipê” (o mais brasiliense), “umbuzeiro” (sobre uma tia que desaparece de casa e cujo quarto vira tabu familiar), “castanheira” (que começa com um delicioso “Deus me livre de fofoca…”), “dendezeiro” e “nogueiras, pereiras, moreiras, oliveiras”, para citar apenas alguns favoritos, são exemplo do quanto “Planta oração” não parece uma estreia na ficção. Pelo contrário, é um projeto em que transparece a maturidade de uma contadora de histórias nata, alguém que aprendeu com os dois pés no chão os segredos alquímicos que permitem transformar terra-água-semente-tempo-ventania em narrativas-patuás, plantadas no terreno mais íntimo de seus leitores.

Lhyz 18/08/2023

Não sabia que tantas ávores-histórias podiam ser tão impactantes.
Já disse e repito que caramboleira e planta oração são os meus contos preferidos. Agradeço imensamente ao meu amigo que me entregou em mãos esse leitura com uma única palavra: "Leia!".

Cada história parece ter uma voz diferente, a cada conto e delicadeza me deparei com várias emoções adormecidas. A beleza, a edição bem planejada, esse livro é uma experiência.

Wallace17 14/05/2023

Leiam Planta Oração
Planta Oração foi um livro que li devagar, tive medo de acabar rápido, tentei ler um conto por dia para evitar o fim! Foi o meu drama particular do mês de abril! Li algumas resenhas sobre o livro e descobri que outras pessoas passaram pela mesma peleja do término. É verdade que fui envolvido pelas histórias, ainda assim deus me livre de fofoca, mas a Calila (@dasmerces - Instagram da autora) podia ter escrito mais páginas para ter evitado esse chororô todo!

Sobre a minha experiência de leitura, gostei da mediação entre poesia concreta e das histórias atravessadas por um cenário que volta e meia trazia elementos da natureza, um contraponto que me tirava do cinza poluído de SP, um refúgio do meu cotidiano com poucas árvores.

A versatilidade dos temas propostos nos contos de Planta Oração é o meu ponto de destaque. Sentir na pele a experiência das personagens dos contos, inclusive muita delas se parecem com pessoas que conheço. Essa proximidade quase que íntima com as personagens deu um tom especial. Planta Oração é compromissado com a pluralidades de existir, livro bom de ser levado para salas de aula.

Pra fechar, queria dizer que tem uma composição da Bia Ferreira que diz: "que eu seja o que meus ancestrais sonharam". Tenho certeza que a trajetória literária da Calila é um sonho realizado de muitas e muitos ancestrais!

Leiam Planta Oração! ?

Vitoria 24/12/2023

Planta oração é um livro-poesia. Os contos, cada qual enraizado em uma planta diferente, falam de memórias, histórias, fragmentos de vida.

Ana Cristina 03/01/2024

Encontrei este livro na BibliON e o devorei, mas com calma. Porque cada capítulo me fazia sentir coisas diferentes. Alguns contos gostei mais que outros, mas a forma que a autora escreve nos transporta para aquelas histórias e nós ficamos ali; espiando os personagens conversarem, contarem, viverem, dilemas e preconceitos. Além da sensibilidade e da poeticidade, um livro que fala sobre ancestralidade e oralidade, subimos em uma grande árvore para conhecer cada personagem... Não sei explicar, apenas sentir...

luisa302 29/06/2023

Mesmo problema de sempre: contos
realmente nao sei pq eu ainda tento sempre leio e acho q tem uns mt bons outro bem meh e no final eu dou 3 estrelas aiai

Sasah 26/09/2023

Uma leitura lenda que demanda tempo para apreciar cada detalhe cultural nos contos.

A oralidade que está presente na leitura é fluida, nada artificial.

As plantas estão tão ligadas ao ser humano e a autora consegue expressar isso sempre que um novo capítulo vai iniciar colocando mais um elemento da natureza, como água, caule, etc.

O peso dos sentimentos é forte e emociona, livro sensacional!

J^! 06/10/2023

Cada conto um conto
São galhos, Ramos e troncos que vamos encontrando nesse caminho arborizado. Um pouco de poema e sabedoria.

Andrey 31/12/2022

Aquele livro que te abraça e te aduba, Calila lança seu primeiro livro de contos. Cada capítulo tem uma história a partir de uma árvore.

Caique 07/01/2024

Essa leitura me levou pra outro canto. Não só outro canto do Brasil, mas outros cantos de outra(s) pessoa(s) e suas histórias-poesias ilustradas por árvores e suas metáforas para ancestralidade e resistência.
Em tempos de correria e pressa, Planta Oração convida a fazer uma pausa pra olhar o passado sem fugir do presente, lembrando que o futuro tá logo ali mas não é um terror. O tempo é nosso amigo, as memórias são aconchego e lembrança do que fomos, nos tornamos e também que continuaremos a mudar e redescobrir-nos nessa vida.
É uma leitura linda, cada conto proporcionando um suspiro diferente, onde cada dor também traz um momento de beleza, acalanto, como pra nos lembrar que toda tristeza não é eterna, não mata pra sempre, a gente se fortalece e passa a enxergar as coisas de outra forma até não incomodar mais. É um retrato do nosso mundo feito com a maestria que só alguém que vê a vida dessa forma bonita e filosófica conseguiria.
Uma preciosidade que indico pra todos!!

Loren 21/01/2024

Chorei confesso
Acabei de ler o segundo
Quem está contando? EU
Que texto delicioso, foi escalando de uma maneira tão surpreendente, confesso que chorei

tavim 30/03/2024

Planta Oração, de Calila das Mercês
Sob pés se enraíza gerações e suas vontades, por muito podadas pelos donos das terras. donos, que como galhos secos-engruvinhados coagem, se apossam de espaços --- é como o mundo é moldado. mas a matriz do plantio, o sagrado do solo, zela lá pelas mãos postas à lavra. oração do ser-à-terra, comunhão entre encontros ancestrais: o humano que morre-renasce; a natureza que enflora-perdura. desse vínculo, há de se dizer que sacro são as plantas deixadas por nós-passado, e que de certo são elas que oram pela nossa salvação.

são dezesseis contos que compõem o livro de calila das mercês, contos que, cada um, traz protagonismo a uma respectiva planta-árvore com as pessoas que a cercam. entre contos ainda há intervenções, uma espécie de ladainha pra conjurar memórias que subsistem na planta a qual irá se manifestar na história a seguir. nessa interação de gente e árvore sempre sobra afetos, convívio que geração após geração se resgata nesse laço em usufruir dos frutos um do outro. uma dança contínua entre corpo e terra, entre folha e alma.
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No Instagram, publico mais resenhas e ilustro todas as capas dos livros que leio.
Acesse @tavim para ver.
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Andreia Santana 10/05/2024

Oração pela família e as memórias da infância
Planta oração fala diretamente às memórias da menina que apanhou na infância por quebrar as mangas dos candeeiros da avó com seu jeito desengonçado e sem coordenação motora de crescer e existir.

Sussurra para a outra menininha de 3 anos que, puxando a irmã de 5 pela mão, atravessa a rua na confiança cega da inocência, sem temer os carros ou possíveis sequestradores, só pelo prazer de, diante da avó muito braba com a traquinagem, estufar o peito e afirmar que veio sozinha porque sabe o caminho.

Planta oração tem o cheiro do quintal da casa da tia muito amada em dia de fogareiro aceso para assar milho verdinho e que estala na grelha. Tem também o cheiro do pelo do cachorro com nome de matemático [Newton], mas que ninguém sabia pronunciar e que assustava a mãe só por seu tamanho descomunal.

Tem, ainda, o brilho das fogueiras das viúvas em noite de São Pedro, com a fumaça das chuvinhas e o som das bombas e da porta sendo batida com a chave dentro, para desespero da menina destrambelhada e da tia que calculava o tamanho do prejuízo.

É um livro com a força dos braços ainda jovens dessa mesma tia, que de machado em punho, arrebentou a porta frágil do quintal para conseguir entrar de novo em casa, espantando para longe a possibilidade de uma noite ao relento.

A mistura de poemas, contos, cantigas e acalantos, com a trilha sonora do farfalhar das folhas das árvores mais antigas que o tempo, fere como as farpas do vidro da cristaleira quebrada, que entram na pele da criança largada descalça no meio dos estilhaços, e nunca mais saem. 

Cicatriz de décadas, que só anuncia presença em noite de lua cheia, quando as lembranças da vida machucam mais ao recordar a infância com uma comichão fantasma na planta do pé.

O livro de estreia de Calila das Mercês, poeta e escritora baiana nascida em Berimbau (Conceição do Jacuípe), mesma cidade da outra avó, é um álbum de recordações para quem nasceu e cresceu nas periferias do mundo ou no subúrbio ferroviário de Salvador. E viu de perto a afetividade meio bruta, meio bullying, das mães da vizinhança, praguejando a cada vez que o colchão molhado pelos terrores noturnos precisava arejar ao sol.

Quando terminei de ler Planta oração, perguntei para minha irmã se tinha sido ela quem comentou primeiro comigo sobre o livro. Não foi. E tudo o que consegui dizer é o quanto é a nossa família que está em suas páginas.

Nossa família miscigenada, meio disfuncional, ora afeto, ora susto, ora surra, aconchegante em seu gosto do tempero do vatapá que ninguém nuca mais vai fazer igual ao da minha mãe, com a delícia do caruru de domingo da minha tia, com o melhor bolo de tapioca que nunca mais vou ganhar de aniversário, com a toalha de mesa estendida no chão da sala para fazer piquenique. 

É como se Calila tivesse crescido na casa ao lado da nossa...

Ficha Técnica
Planta Oração
Autora: Calila das Mercês
Editora: Nós, 2022
144 páginas
R$ 36,50 (livro físico, Amazon) e R$ 25,62 (Kindle). O livro também pode ser lido gratuitamente, em sua versão digital na Biblion.app

@pinhanh 29/04/2024

Escrevivências.
? Acredito que seja o melhor livro de contos que já li até hoje! Que obra prima!
? Neste livro vamos encontrar 15 contos, onde cada um possui o nome de uma árvore diferente, que tem relação com cada história.
? Não teve sequer 1 conto que eu não tenha gostado! Gostei muito do livro, pois encontrei diversas referências da minha Bahia. Gírias, culinária, costumes, lugares. Que livro enriquecido de cultura.
? Além desse pontos, cada conto retrata sobre algum tema em específico, como: racismo, abandono paternal, homofobia, traição, amor/afetos, perdas, memórias afetivas, resumindo, muita coisa. Por retratar temas como esses citados anteriormente, você sente tantos baques, pois muitos contos relatam situações reais do cotidiano. Muitos deles tiveram um grande atravessamento em minha vida. Potentes demais.
? Meus contos favoritos são: limoeiro, umbuzeiro, caramboleira, goiabeira e coqueiro.
? Leiam! São contos potentes e de mais pura maestria e simplicidade, com um toque de realidade e adversidades da vida. Vale muito a pena a leitura. Ela flui de uma maneira tão viciante e cativante. Com certeza entrou para os meus favoritos.

Aila Cristina 01/05/2024

Favorito do ano, da vida!
Plantação de palavras.

Escrita sensível e profunda que continua a ecoar em mim até agora.
Poética, interiorana, viva! Calila, eu te admiro.
Este livro provocou em mim memórias-palavras de um tempo recente da minha vida. Cresci cercada de plantas, frutas. Elas contam histórias, nos nomes, nas memórias. A autora me lembrou disso. E com ela e as palavras, reaprendi a plantar a vida, memórias, sonhos, amores!

Plantação! Planta oração! Colheremos!

Recomendo a leitura. Muitíssimo.