mimi 03/01/2024
A resenha mais completa sobre esse livro.
Eu li várias resenhas e todas possuíam pontos em comum, mas, nem de longe, chegaram a comentar muitos aspectos erráticos desse livro.
Minha nota para tal foi 0,5 e foi somente pela escrita da autora. Porém, não se engane, pois foi avaliando a escrita de forma técnica, ou seja a gramática e a coerência são boas, o que torna a leitura fluida. Isso porque coesão é algo que não se encontra aqui...
Vamos lá (essa resenha vai conter spoilers)...
Essa obra é o maior exemplo do que acontece quando uma pessoa tenta escrever um livro sem roteiro, sem bloco de notas, sem rascunhos, sem nada, apenas os pensamentos da sua cabeça, porque a impressão que passa é que a autora escreveu o livro às cegas. Não há planejamento algum.
Por exemplo: logo de início é apresentada ao leitor uma cena com Lia, Sofia e Thaissa na clínica psiquiátrica, que culmina com o diário de Lia sendo roubado. Por que? Nem a autora deve saber já que nunca se dignou a explicar. Você pode imaginar que como a Thaissa foi lá pra saber se a Lia ainda tinha algo com o ex, por isso o roubo. Porém, tal fato nunca mais é retomado na narrativa, além de comentar que Leandro foi atrás de Thaissa pra obrigá-la a devolver o objeto. Ainda assim, qual a importância da cena? Aliás, que clínica é essa que deixa qualquer pessoa fazer visita? Ainda mais no caso de pessoas que tentaram suicídio? Mas como a autora é psicóloga, ela deve saber mais do que eu acerca disso.
Logo no início Lia e Sofia se encontram e você pensa que algo vai acontecer, que aquela primeira cena será retomada. Afinal, como a Lia poderia deixar batido o roubo de algo tão importante para ela? Até porque a mesma cita como, apesar de fragilizada, as pessoas continuam tentando fazê-la de boba. Contudo, eis que o leitor descobre que, pasme, a Lia sofreu um acidente e perdeu a memória.
Juro, eu eu dei uma risada na hora, porque não era possível que a autora teria metido essa. E já que estamos falando do acidente, você nunca entende o que aconteceu, porque a autora não achou que seria importante, ela só diz que Lia e Mateus sofreram um acidente e Lia perdeu a memória, mas fez tratamento para recuperá-la. Outra coisa que a autora joga e nunca mais retoma: no início do livro Leandro está com o braço quebrado porque brigou com Mateus após o término dele com Lia. Aí você pensa: nossa, esse Mateus deve ser um personagem super importante já que tá envolvido em todos os acontecimentos do livro, né? Errado. Ele só aparece em UMA cena no final do livro, quando tudo já está resolvido, sem contar um flashback tosco que vou comentar mais pra frente.
Eu acho horrível quem coloca as tropes no início da sinopse, mas levando em consideração o mercado editorial brasileiro (apesar de crescente), as autoras infelizmente precisam atrair leitores de todas as formas. Apesar disso, o livro é vendido como um slow burn, só não sei onde, porque lá pelo terceiro capítulo as personagens já estão criando interesse uma na outra. Slow burn não é só demorar a beijar e transar, autora, se suas personagems já se interessam nos primeiros capítulos (spoiler: a Lia já tinha criado interesse desde a cena na clínica).
E já que estamos falando do romance, não acho que a bissexualidade da Lia foi bem retratada. Contudo, como não sou bi, não vou entrar em detalhes, o máximo que posso dizer é que parece que nem ela sabia que era bi de fato até certo momento que parece conveniente. Enfim...
Eu achei muito engraçado como a Sofia ama os avós e fala que tá morrendo de saudade, mas quando chegou lá naquele show de horrores de homofobia não via a hora de ir embora. Como uma lésbica não-assumida para a família e que sabe que nunca será aceita, eu sei que os sentimentos por familiares são conflituosos, mas eu achei muito contraditório a autora querer fazer ela tão chegada nos avós pra no final só sofrer lesbofobia da avó. E que show de lesbofobia, viu? Aliás, é engraçado como só a lésbica da história sofre preconceito, enquanto a bissexual é aceita por todos e em momento algum passa pelos mesmos vexames que a Lia, afinal, ela já gostou de homem, né? Então porque perderiam tempo com ela se tem uma personagem lésbica pra fazer sofrer durante toda a história? Outro ponto é: como a Maria, mãe da Milena, não sabia que a Sofia é lésbica porque a avó trata o assunto como segredo, mas a vizinha sabe porque estudava com ela e ela era exposta na escola de uma cidade pequena como aquela? Me poupa, né?
Já que comentei sobre as personagens, vamos falar sobre a personalidade delas. Vou ser bem breve, não se preocupem... A personalidade da Lia é a depressão e ser leitora e a da Sofia é usar droga e ir pra festas todos os dias. Pronto! Eu disse que seria bem rápido. Ambas não possuem um pingo de profundidade, assim como qualquer personagem, trama e cena apresentada nesse livro. Você não sabe de mais nada que elas gostam além dessas coisas, não somos apresentados a nenhuma cena diferente além de festas e bares ou cenas em casa ou na faculdade, é meio patético até.
Agora vou comentar sobre alguns pontos que muitas pessoas reclamaram, o primeiro deles é a depressão da Lia. A única coisa que me surpreendeu no livro foi o fato dele ser escrito por uma psicóloga, pois há sim todo o cuidado para tratar do tema, mas... nossa, é tão genérico que dá pena. Parece um daqueles livros de 2014-2015 em que a personagem é depressiva e fica o tempo todo se lamuriando. A depressão realmente faz isso conosco, mas como alguém comentou, aqui é retratada de forma caricata. A Lia não consegue formular UMA frase sem se colocar pra baixo, juro. Tem até um momento que ela tá bebendo café e fala que quem fez foi o irmão porque ela não serve nem pra isso. Achei muito engraçado como ela sempre aceita ir pra festas, mesmo com a doença, porque parece que ela nunca tem um pico depressivo de verdade. Afinal, a autora só comenta mesmo sobre aquele clichê de bateria social, sendo que vai muito além disso. Sobre a depreciação da Lia, eu estava entendendo e me identificando, ate chegar na metade do livro, tudo era sobre como ela não presta, como ela era ruim em tudo e bla bla bla. Nunca no mundo que essa menina tem só depressão, talvez se a autora tivesse cuidado com a personagem os leitores teriam o mesmo cuidado com a mesma. Contudo, ela se tornou uma personagem intragável. O ápice pra mim foi a Sofia xingar a ex enquanto fala que essa ex tentou beijá-la e a Lia desligar na cara dela porque ficou com ciúme. Mesmo com depressão as pessoas não são tão burras assim, e mesmo com inseguranças tem muitas formas de lidar com a situação. O problema aqui é que a autora criou uma personagem que não devia e nem ta pronta pra namorar e insiste em fazê-la namorar outra pessoa que igualmente não devia namorar. Por mim internava as duas na clínica psiquiátrica.
Ainda falando sobre a cena do beijo forçado da Milena com a Sofia, a autora nunca se deu ao trabalho de tratar a cena como realmente era: um caso de assédio. É até engraçado como a querida só marcou o capítulo com aviso de assédio quando foi um homem praticando... Mais engraçado ainda é como mais ninguém lembrou disso ou se importou o suficiente pra comentar na resenha.
Porém, um ponto que todos falam é como a autora romantiza o uso de drogas. Fiquei meio errr... nos primeiros momentos de uso de drogas, mas infelizmente é algo comum porque muita gente acha super cool usar. Contudo, é absurda a quantidade de vezes que a Sofia dá drogas para a Lia. É álcool, é maconha, é ecstasy... E mais absurdo ainda é a falsa moralista da Lia querendo militar pra cima da mãe dela, usuária de crack, sendo que ama uma droguinha recreativa. Autora, você é DOIDA? Que tipo de profissional você é retratado personagens com problemas dessa forma? Você deveria no mínimo ter mais responsabilidade, porque eu li o livro até o final esperando alguma reviravolta sobre isso e nada, é como se não fosse nada. A Lia tomava medicamentos de manhã e enchia o c* de drogas de noite, mas em momento algum há uma cena pra mostrar como isso é errado ou como ela pode se igualar a mãe.
Aliás, iniciei até um debate com minha namorada sobre o fato da Lia ter uma mãe dependente e ter sido afetada diretamente por isso, mas achar legal encher o rabo de droga por influência da namorada. Então mesmo sabendo que as pessoas reagem de formas diferentes, eu acho que a autora deveria ter usado isso para mostrar as consequências do uso de drogas e dar um arco muito melhor pra Lia. Se ela parasse de se depreciar pelo menos 30%, o livro diminuiria umas 100 páginas, que a autora poderia ter enriquecido a história. Isso porque como comentei, é muito hipócrita e contraditório a Lia ver a situação da mãe, querer militar, mas logo depois ir se encher de Ecstasy com a Sofia.
Sobre a Sofia, ela é a típica patricinha viciada em compras, festas e drogas. A autora até tentar dar uma profundidade a ela com o fato dela gostar de ler e ser traumatizada, mas nada aqui é bem tratado então foi em vão.
A partir do momento que os ápices do livro eram uma ex namorada perseguidora e o fato da Thaissa, melhor amiga da Sofia, não poder saber do relacionamento dela com a Lia, eu soube que o livro estava perdido. Porque é como eu disse, uma repetição inútil das mesmas cenas: festa, droga, Lia se depreciando.
Eu juro que não quero ofender, mas parece que o livro foi escrito por uma fã de Riverdale que assistiu ao vídeo "top 10 patadas para se dar na escola", porque qualquer embate com a Milena era os dois lados soltando patadas que minha prima de 6 anos fala. Sem contar a Lia dizendo que gosta de soltar o seu "lado bitch" ???? e a Sofia falando "beijos de luz". Bicha, a gente ta em 2024, essas coisas ficaram no máximo lá em 2019.
E já que falei de idade, vamos comentar sobre a Lia falando sempre que tem 23 anos e destratando o Leandro, irmão que a sustenta e o único familiar que se importa com ela. Nossa, me deu gastura todas as vezes que ela tratou ele feito um lixo. Se ela tivesse 15 anos seria até aceitável, mas ela tendo 23? Depressão não é desculpa pra ser uma merda com quem só te quer bem. O Leandro era sim superprotetor, mas a Lia tinha tentado se matar, sofreu um acidente, perdeu a memória, saia e as vezes nem voltava pra casa, não seguia o tratamento direito, e ainda assim ela queria que ele não desse a mínima? Sendo que fica chorando porque os pais não ligam pra ela.
Outra coisa que me incomodou foi a cena da foto do Mateus. A Sofia encontra a foto, fica chateada e a Lia fica "ain, é só uma foto", mas essa tonhona (pra não dizer outras coisas) ignorou que a namorada sofreu uma situação de abuso da ex e ainda ficou com ciuminho disso. Eu dou meu c* se, caso contrário e a Sofia tivesse uma foto da Milena, a Lia não ia ficar toda ciumenta e desaparecer da vida da Sofia.
Aí o livro continua com suas patadas de 2015, a Milena perseguindo, a Lia sendo insuportável, elas se drogando como se a Lia não tomasse remédio... Chega o momento da Thaissa descobrir sobre o relacionamento delas. Momento de tensão, né? Não, pois não acontece nada demais e depois disso a Thaissa sequer aparece de novo.
Por falar de amigas, a Sofia devia ficar sozinha porque não tem uma amiga que preste, meu deus. Uma fica brigando por macho ao ponto de ir atrás da outra menina em uma clínica, outra faz piada com automutilação e ficam insistindo que ela tem depressão, e a última é uma esquisita que vive em festa se drogando e quando a Sofia comenta sobre a ex, a Pérola se recusa a tirá-la da festa, mesmo vendo como a amiga tá nervosa.
Acho que o livro morreu pra mim mesmo no momento em que a Sofia aceitou ir pra casa da ex durante o término com a Lia, mesmo depois de ter sido abusada e assediada. E lá ela novamente ela é abusada e assediada, mas claro que a loirinha de família nobre é burrinha demais pra saber o que aconteceria, né? Claro que não, a autora só foi maluca de colocar essa cena, como se fosse acrescentar algo. Todos já sabiam que a Milena não prestava, incluindo a Sofia. Então, me diz, qual a utilidade da cena?
Enfim, fiquei com impressões terríveis desse livro, assédio entre mulheres é totalmente normalizado na história, até entre as personagens. A doença mental é tratada como sem cuidado, só com frases de militância. Não há planejamento, uma vez que a narrativa toda é cheia de furos. Esse livro é uma tortura do meio pro final, não recomendo pra ninguém e se eu fosse a autora removia a publicação e só republicava depois de uma revisão pesada, porque potencial tem, ela só não soube aproveitar porque se ocupou normalizando o uso de drogas e abuso entre mulheres. Ela pode ser uma ótima profissional, mas não conseguiu colocar isso na história, deveria trabalhar melhor na escrita para que erros como esses não se repitam.