Bruno.Dellatorre 09/02/2024AfffFoi meu primeiro livro do autor. E assim, não posso prometer nada, mas muito provavelmente também foi o último. Dizem que ele escreve sempre o mesmo livro várias vezes. E de fato. Fui ler a sinopse dos outros e é tudo meio igual: um personagem chamado Jean começa a relembrar coisas de seu passado bla bla bla blalaaa e ele é escritor. Está escrevendo um livro.
Acho que esse é o plot que mais odeio na vida: o de um escritor que está escrevendo um livro. Pior ainda (eu acho) se o livro em questão for justamente aquele que a gente está lendo! Olha que genial! Ai que legal! - todos dizem. Eu acho um saco. Poço de autoindulgência.
E esse livro é bem isso. Autoindulgente. O autor parece bem satisfeito com a pouquice que escreveu. É sim, gostoso de ler, fluido, legal de ver as pecinhas do quebra-cabeça se juntando, tal tal tal. Mas não dá em nada no fim. É um livro-esteira. Corre, corre, corre e fica sempre no mesmo lugar.
Eu não me incomodo com finais abertos, tô acostumado, acho até mais eficiente que finais fechados em alguns contextos. Mas pra você fazer um final aberto, você precisa construir uma base sólida, deixar coisas em que o leitor possa pensar. E aqui não tem isso. Não tem material suficiente pra gente teorizar, pensar na história. Eu acabei de acabar e já esqueci de um monte de coisa.
Confesso que até tava gostando do livro até a parte que uma das personagens avisa ao protagonista: ó, tem alguém querendo seu mal. Até ali, tinha sido construída uma boa base de mistério, dava pra ter ido por N caminhos. Mas o autor escolheu não ir pra nenhum.
E eu sei que não é um livro de suspense ou thriller policial, ele não tinha mesmo obrigação de se apegar à convenções do gênero, reviravoltas, sei de tudo isso. Esse é pra ser um livro sobre tempo e memória. Mas até nisso ele falha.
Repetitivo demais. Silêncios demais. O autor até fala explicitamente da "arte de calar", mas ficou bem claro que ele não sabe manejar essa arte, pelo menos não nesse livro. É tanto vazio e ausência de background que a gente acaba não ligando pro personagem. Eu sou naturalmente curioso, então queria saber o que estava acontecendo. Mas se o rapaz explodisse, se atropelassem ele, se alguém fritasse ele no alho e óleo, eu não ia ligar. Você não se importa com os personagens, e como consequência, não se importa com o livro em geral.
Então "ai, ele gosta de calar, gosta de silêncios". Pode até gostar, não significa que saiba usar.
"ain, mas ganhou o Nobel"
KSKSKSKSKSKSKSK
Não significa nada, gente. Só pra pessoa que ganha mesmo.
Me irritou também essa coisa de "ai, a folhagem da castanheira oscilava, ai a manhã de agosto! ai, a manhã ensolarada!"
Quem será que começou com essa palhaçada? Será que alguém acha legal? Sou super a favor de ambientações fortes, com atmosfera rica e tudo mais. Mas ficar falando várias vezes que "fazia sol", o "coração do verão", "ele não sabia se aquilo era real ou não", "ó, as folhagens!", "ó, uma mancha de luz entrava pela janela". Desnecessário.
Mas o que mais me irritou foi a Síndrome de Botchan do narrador. Pra quem não sabe o que é, leia Botchan do Natsume Soseki. Lá, o narrador passa O LIVRO INTEIRO chamando os outros por apelidos. Você chega a querer matar ele. Custa chamar pelo nome?
Aqui, o narrador faz o mesmo com a Camille, "VULGO CAVEIRA"
toda vez que ele acrescentava esse vulgo caveira, eu ficava PQ@ QUE CARA CHATOOO DO CARAAAAAAALLLL
vocês entenderam.
Ele sabe o nome dela. Mas sente necessidade de escrever TODA. HORA.
Camille, vulgo "Caveira".
CHATO. A gente já entendeu que esse é o apelido dela.
Não só com isso ele é repetitivo, mas com vários dos eventos narrados. O autor parece pensar que a gente não é capaz de lembrar o que aconteceu três páginas antes. E precisa frisar sempre. "Ai, mas é uma técnica literária"
I-R-R-E-L-E-V-A-N-T-E
Isso que achei do livro, na verdade. Irrelevante. Foi uma leitura agradável até pouco mais da metade. Depois começou a me irritar. Mas o tempo todo eu sentia que não tava ganhando em nada prosseguindo com a leitura, que ao término dela eu seria exatamente o mesmo de quando comecei. Dito e feito.
Me arrependi de ter gasto 18 reais com ele. Podia ter pego outro livro. Pelo menos foi barato e evitou que eu comprasse outros do autor. Quase fiz a loucura de comprar "O circo passa", que a Carambaia lançou por 70/80 REAIS. Isso mesmo. Um livro menor que esse, até. Que deve ser esquecível igual.
É um livro sonso, gente.
Legalzinho por um tempo, divertidinho, mas não elucida nenhuma das questões que levantou, não faz nenhuma reflexão marcante a respeito do tema proposto, não traz personagens interessantes nem qualquer elemento ou cena capazes de sobreviver na nossa mente.
Pode dispensar, sem culpa.