Cena de um crime

Cena de um crime Patrick Modiano




Resenhas - Cena de um crime


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Higor 25/12/2023

"LENDO NOBEL": sobre escolhas editoriais que manipulam e induzem o leitor ao equívoco
Foi com surpresa que encarei o retorno de Patrick Modiano às livrarias brasileiras. É preciso entender que o autor nunca teve muita aclamação, vendas fenomenais ou críticas por aqui, tanto que seus livros retornaram apenas por conta do anúncio do Prêmio Nobel: três dos livros mais famosos tiveram novas edições, junto ao mais recente à época, em 2014, pela editora Rocco, enquanto três inéditos foram lançados pela Record, em 2015. Pareceu bastar antes de o autor voltar ao esquecimento.

Então, no final de 2023, sem maiores alardes e pedidos por parte dos leitores, tanto a editora Carambaia, em uma edição primorosa, como de costume, quanto a Record, em mais uma de suas edições desastrosas, trouxeram mais livros do autor, em um fôlego inesperado e, sinceramente, talvez bastante desnecessário.

Digo isso porque, ainda mais depois de ler este oitavo livro do autor, Modiano parece não ter nada de novo a nos contar. Já pela quarta história dele, ainda em 2015, eu já senti que, para entender sua obra e até mesmo a persona, bastava ler dois de seus livros: o sensacional "Remissão da pena", sobre sua infância penosa, e o eficiente "Para você não se perder no bairro", que remete ligeiramente às consequências de tal acontecimento.

"Cena de um crime" é, então, uma leitura dispensável em vários sentidos, a começar pelo título: super apelativo e com a intenção vergonhosa de abocanhar um público específico, que devora todo livro de suspense e teor investigativo. Originalmente intitulado "Chevreuse", o livro faz referência ao vale francês de mesmo nome, uma área de baixa altitude cercada por áreas mais altas, montanhas. Apesar de entender a dificuldade de trazer um título mais convincente e vendável para o público brasileiro, a escolha certamente foi feita da maneira mais enganosa possível a quem vai comprar o livro esperando um thriller eletrizante e encontrar algo totalmente diferente.

Pois bem, em "Chevreuse", o protagonista, Jean, como em todos os livros do autor, na casa dos vinte anos, em uma tranquila vida de escritor, passa a perceber que certos nomes, tanto de pessoas quanto de lugares, evocam lembranças até então esquecidas de sua infância, talvez em uma espécie de amnésia ou trauma que o fez ter um apagão. No entanto, os demônios do passado estão voltando, e parecem lançá-lo para um momento de sua vida que ele reluta em reviver.

Quem já leu qualquer coisa do autor, com exceção, talvez, de "Dora Bruder", concorda que o plot geral, o esqueleto de suas obras, é exatamente o mesmo: um Jean, como o próprio Jean Patrick Modiano, escritor com uma vida estável, revive o passado ao andar pelas ruas de Paris, ao ver letreiros de hotéis e restaurantes, ou ao encontrar listas telefônicas, agendas e jornais, e a partir daí, como em uma explosão contida, os fatos ressurgem para montar um quebra-cabeças seletivo ao texto.

Preciso confessar que bebi muito de Modiano em 2016, para escrever um conto sobre os ataques terroristas de novembro de 2015 em Paris, pois os passeios do autor, pelas ruas e arrondissements são, embora simples e pouco detalhados, muito precisos e eficientes, convidativos até, para se imaginar na França ou até mesmo tentar vislumbrar sua rua, sua cidade, com um olhar mais afável, mas, obviamente, a fórmula vai se desgastando a cada livro, a cada novo passeio, por mais que, como é comum em toda capital ou metrópole, Paris tenha muito a se explorar, conhecer e caminhar.

Então, embora tenha demorado apenas um dia para ler este livro, não o fiz por estar inteiramente interessado, precisar saber o que aconteceu a Jean no passado, mas unicamente por se tratar de uma leitura fácil, com um espaçamento e fontes confortabilíssimas, que fazem as páginas passarem mais rapidamente.

Sem nada de novo a oferecer ao leitor, "Cena de um crime" parece mais, por conta das escolhas editoriais brasileiras, um livro enganoso ou catalogado no gênero errado. Enquanto isso, Patrick Modiano aparenta ainda não estar com seu passado e demônios pessoais resolvidos, mas até quando ele vai nos dar pequenas pinceladas, pequenos detalhes de sua vida, e enfim, contemplaremos o quadro inteiro de uma vez?

Este livro faz parte do projeto "Lendo Nobel".
edu basílio 25/12/2023minha estante
segundo amigos que tenho na frança há mais de 20 anos, nem os próprios franceses curtiram o nobel de mondiano (no caso anterior, le clézio, eles sequer compreenderam). refizeram as pazes com estocolmo em 2022, com ernaux.


edu basílio 25/12/2023minha estante
(sonho com o dia em que 'brigaremos' sobre oS méritoS doS nobéIS do brasil, e não mais ter que ficar escutando néscios bêbados e barrigudos contando gols de time de futebol A ou B, nem disputando se a melhor 'cantora' de funk é X ou Y. credo.).


Higor 26/12/2023minha estante
Eduardo, eu corri na tua estante antes de postar a resenha e vi que não leu nada do autor, logo, imaginei que Modiano não é tão querido mesmo em sua terra natal. Tenho uma leve simpatia por Le Clezio, mas nada de grandioso; acho as resoluções que dá para as situações são bem preguiçosas. Agora eu acho que, podemos ter, quem sabe um dia, 10 Nobeis, em várias áreas, mas serão esquecíveis, nada relevantes ou pomposos como os títulos da Copa do Mundo, infelizmente.


edu basílio 26/12/2023minha estante
... mon cher, vivi na frança uns bons 7 anos, mas sou tão brasileiro quanto vc :-))) ao meu retorno, com apenas 2 malas e 1 mochila (e 0,5 coração e litros de lágrimas), tive que fazer escolhas dolorosas sobre o que viria e o que ficaria. perto de 80 livros ficaram; dentre eles, "rue des boutiques obscures", que eu achei bem... esquecível (nenhum dos deixados para trás aparece em meu skoob porque essa simples lembrança me pinça o coração). agora, do le clézio eu descobri a existência da mesmíssima forma que descobri a de abdulhazak gurnah há 2 anos: no anúncio do nobel ?




Bruno.Dellatorre 09/02/2024

Afff
Foi meu primeiro livro do autor. E assim, não posso prometer nada, mas muito provavelmente também foi o último. Dizem que ele escreve sempre o mesmo livro várias vezes. E de fato. Fui ler a sinopse dos outros e é tudo meio igual: um personagem chamado Jean começa a relembrar coisas de seu passado bla bla bla blalaaa e ele é escritor. Está escrevendo um livro.
Acho que esse é o plot que mais odeio na vida: o de um escritor que está escrevendo um livro. Pior ainda (eu acho) se o livro em questão for justamente aquele que a gente está lendo! Olha que genial! Ai que legal! - todos dizem. Eu acho um saco. Poço de autoindulgência.
E esse livro é bem isso. Autoindulgente. O autor parece bem satisfeito com a pouquice que escreveu. É sim, gostoso de ler, fluido, legal de ver as pecinhas do quebra-cabeça se juntando, tal tal tal. Mas não dá em nada no fim. É um livro-esteira. Corre, corre, corre e fica sempre no mesmo lugar.
Eu não me incomodo com finais abertos, tô acostumado, acho até mais eficiente que finais fechados em alguns contextos. Mas pra você fazer um final aberto, você precisa construir uma base sólida, deixar coisas em que o leitor possa pensar. E aqui não tem isso. Não tem material suficiente pra gente teorizar, pensar na história. Eu acabei de acabar e já esqueci de um monte de coisa.
Confesso que até tava gostando do livro até a parte que uma das personagens avisa ao protagonista: ó, tem alguém querendo seu mal. Até ali, tinha sido construída uma boa base de mistério, dava pra ter ido por N caminhos. Mas o autor escolheu não ir pra nenhum.
E eu sei que não é um livro de suspense ou thriller policial, ele não tinha mesmo obrigação de se apegar à convenções do gênero, reviravoltas, sei de tudo isso. Esse é pra ser um livro sobre tempo e memória. Mas até nisso ele falha.
Repetitivo demais. Silêncios demais. O autor até fala explicitamente da "arte de calar", mas ficou bem claro que ele não sabe manejar essa arte, pelo menos não nesse livro. É tanto vazio e ausência de background que a gente acaba não ligando pro personagem. Eu sou naturalmente curioso, então queria saber o que estava acontecendo. Mas se o rapaz explodisse, se atropelassem ele, se alguém fritasse ele no alho e óleo, eu não ia ligar. Você não se importa com os personagens, e como consequência, não se importa com o livro em geral.
Então "ai, ele gosta de calar, gosta de silêncios". Pode até gostar, não significa que saiba usar.
"ain, mas ganhou o Nobel"
KSKSKSKSKSKSKSK
Não significa nada, gente. Só pra pessoa que ganha mesmo.
Me irritou também essa coisa de "ai, a folhagem da castanheira oscilava, ai a manhã de agosto! ai, a manhã ensolarada!"
Quem será que começou com essa palhaçada? Será que alguém acha legal? Sou super a favor de ambientações fortes, com atmosfera rica e tudo mais. Mas ficar falando várias vezes que "fazia sol", o "coração do verão", "ele não sabia se aquilo era real ou não", "ó, as folhagens!", "ó, uma mancha de luz entrava pela janela". Desnecessário.
Mas o que mais me irritou foi a Síndrome de Botchan do narrador. Pra quem não sabe o que é, leia Botchan do Natsume Soseki. Lá, o narrador passa O LIVRO INTEIRO chamando os outros por apelidos. Você chega a querer matar ele. Custa chamar pelo nome?
Aqui, o narrador faz o mesmo com a Camille, "VULGO CAVEIRA"
toda vez que ele acrescentava esse vulgo caveira, eu ficava PQ@ QUE CARA CHATOOO DO CARAAAAAAALLLL
vocês entenderam.
Ele sabe o nome dela. Mas sente necessidade de escrever TODA. HORA.
Camille, vulgo "Caveira".
CHATO. A gente já entendeu que esse é o apelido dela.
Não só com isso ele é repetitivo, mas com vários dos eventos narrados. O autor parece pensar que a gente não é capaz de lembrar o que aconteceu três páginas antes. E precisa frisar sempre. "Ai, mas é uma técnica literária"
I-R-R-E-L-E-V-A-N-T-E
Isso que achei do livro, na verdade. Irrelevante. Foi uma leitura agradável até pouco mais da metade. Depois começou a me irritar. Mas o tempo todo eu sentia que não tava ganhando em nada prosseguindo com a leitura, que ao término dela eu seria exatamente o mesmo de quando comecei. Dito e feito.
Me arrependi de ter gasto 18 reais com ele. Podia ter pego outro livro. Pelo menos foi barato e evitou que eu comprasse outros do autor. Quase fiz a loucura de comprar "O circo passa", que a Carambaia lançou por 70/80 REAIS. Isso mesmo. Um livro menor que esse, até. Que deve ser esquecível igual.
É um livro sonso, gente.
Legalzinho por um tempo, divertidinho, mas não elucida nenhuma das questões que levantou, não faz nenhuma reflexão marcante a respeito do tema proposto, não traz personagens interessantes nem qualquer elemento ou cena capazes de sobreviver na nossa mente.
Pode dispensar, sem culpa.
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Yeda 18/07/2023

Uma leitura surpreendente, eu esperava que fosse algo mais policial, mas ele vai mais para o suspense. Ainda assim, a trama do crime é mais como uma porta que se abre para discussões mais subjetivas como a memória e a obliquidade do passado, o que foi muito agradável para mim. O protagonista sente a todo momento que falta uma peça essencial de seu passado para chegar a uma resposta que ele não sabe o que é, mas necessita desse elo para compor o quadro. Então, ele busca incessantemente essa última peça, e nessa busca, percebe que outras pessoas têm mais informações do que ele e sente que está em uma armadilha. Todo o livro é muito elusivo, mas isso é muito bom, pois deu abertura para explorar a subjetividade da memória, do passado e da necessidade humana de buscar uma resposta para sua própria vida. Além disso, também há a presença do subgênero ?livro sobre um livro?, onde a vida do protagonista e seu livro se misturam e se desenrolam juntos.
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Felipe.Raul 05/10/2023

Não entendi!
A única coisa que se sabe é que o protagonista não sabe de nada. Mas achei a leitura muito confusa. No início eu não entendi nada, e no final parecia que eu estava no início. Não curti! Mas se o livro ganhou prêmios, ele tem seu valor. Porém para mim, não rolou.
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tharcifernandes 09/09/2023

Gostei bastante da vibe que esse livro traz que é algo misterioso ao mesmo tempo meio sombrio e a história de vida do personagem se mesclando com o livro que estava escrevendo pensando se tal coisa ou acontecimento foi real ou não deixando o leitor na dúvida junto do personagem e também ressaltando a escrita elusivo que foi um toque a mais pra narrativa, muito bom mesmo.
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Katharina.Pedrosa 09/10/2023

Não entendi a trama
O protagonista sabe que falta alguma informação do seu passado, e tenta resgatar pela memória o que pode estar faltando. Nessas idas e vindas, eu não consegui acompanhar onde o autor queria chegar, e o final não fez nenhum sentido para mim.
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