Coisas de Mineira 17/03/2024
O PARADOXO DE ATLAS E A REFLEXÃO SOBRE PODER
O Paradoxo de Atlas é aguardada sequência do dark academy A Sociedade de Atlas, sucesso do Tiktok
O livro, da autora Olive Blake, e é o segundo de uma trilogia de dark academy, que mistura fantasia e ficção científica numa pegada de realismo mágico, já que temos magia, sociedades secretas, bibliotecas seculares, e até mesmo viagem no tempo convivendo entre pessoas sem essas habilidades. É uma sequência imediata, se aprofundando nos mistérios da sociedade e os alunos convidados para uma competição. Por ser uma sequência, essa resenha pode conter spoilers do primeiro volume da trilogia.
Em A Sociedade de Atlas, 6 pessoas com habilidades especiais foram selecionadas para competir por uma vaga na Sociedade Alexandrina. Foram eles: os físicos Libby e Nico, a naturalista Reina, a telepata Parisa, o empata e manipulador emocional Callum, e Tristan, que consegue ver através das ilusões. Apenas 5 poderão entrar na sociedade, e as habilidades e resiliência dos competidores são testadas. A Cada 10 anos acontece uma competição semelhante, e geralmente quem perde é eliminado pelos próprios colegas.
Entretanto, dessa vez não houve eliminação, porque uma candidata desapareceu: Libby simplesmente sumiu, e seus colegas acreditam que ela está morta. Na verdade, ela foi raptada pelo ex-namorado, Ezra, aliado de Atlas, que pretendiam destruir a Sociedade.
Os cinco participantes restantes senguem em suas atividades, e precisam apresentar um plano de estudos como próxima etapa. Cada um reage a sua própria maneira, mas o ‘fantasma’ de Libby está sempre rodeando as conversas. Além disso, eles acabam descobrindo alguns pontos bem polêmicos em relação à Sociedade e ao seu interlocutor, Atlas Blakely.
"Fazia quase um ano desde o dia em que seis deles haviam colocado os pés na mansão da Sociedade Alexandrina e recebido a ardilosa promessa de poder. Todo o conhecimento do mundo sob um único teto. Uma vida inteira de prestígio, para coroar o privilégio de ter acesso aos maiores segredos do universo."
RESENHA DO LIVRO O PARADOXO DE ATLAS DE OLIVIE BLAKE
O Paradoxo de Atlas vai acompanhar o segundo ano de iniciação na Sociedade, e a tentativa de encontrar Libby, que, como sabemos logo no início, se encontra no passado. Ela também busca ferramentas para voltar para sua época, mas naquele tempo, as habilidades mágicas ainda estão em desenvolvimento.
Portanto, um primeiro ponto é que esse livro não é cheio de ação como o primeiro, quando os alunos estavam empenhados numa competição que impulsionou grande parte do livro. Ainda que a busca por Libby seja mais ativa em alguns momentos, boa parte é dedicado ao desenvolvimento dos personagens, que tentam se enquadrar nessa nova formatação. Afinal, a presença da física era catártica – para o bem ou para o mal – nesse grupo. Os sentimentos e os planos se movem numa discussão sobre poder e moralidade.
É essa exploração, que define alguns aspectos da dark academy (ou academia sombria), que permeiam grande parte do livro. Alguns leitores poderiam considerar um livro lento, mas é de fato, mais filosófico. Os personagens estão confusos, alguns obcecados, em relacionamentos nos mais diversos tons.
"Cada iniciado revelava sua própria preferência, o conhecimento imperfeito dos outros, e, se eles ainda estavam competindo até a morte estavam? Supostamente, não, mas mesmo assim -, essas seriam fraquezas óbvias. Fraturas para desfazer o todo."
PERSONAGENS COMPLEXOS, QUEBRADOS, PODEROSOS
Os personagens são uma caixinha de surpresa. Terminei o primeiro livro com uma visão muito clara de cada um deles, mas tudo se mistura e embaralha novamente. Eles são bombas-relógio demasiadamente quebradas.
Libby continua meio imatura, mas o caminho dela no passado passa por um amadurecimento bem interessante. Ela sabe de coisas que não são comuns para aquele tempo, e o caminho que ela faz, sem revelar muito, e ao mesmo tempo, conduzindo, a fez pisar em ovos. O Nico… como nunca tinha percebido o que o move, de fato? Poxa, ele teve, nos momentos finais, pontos altos, em um relacionamento que provavelmente é o mais amado pelos leitores.
Callum… como eu o odiava. Passado, viu?! É outro personagem, ou o mesmo, claro, mas mais bem desenvolvido. Bom, isso quando ele se permite estar sóbrio, mas saber que não deveria estar vivo deve causar um incômodo que só a alienação, alcoólica no caso, ajude. O mesmo com Parisa, por quem não tinha nenhuma ligação, mas ela está mais humana – só um pouquinho – e foi o suficiente para mostrar que ela é grandiosa. Ela percebe que não é tão indiferente assim aos outros.
Tristan, pobre menino… cheio de medos e traumas, mas vamos descobrindo algumas facetas realmente assustadoras. Meio apático em boa parte do livro, luta para compreender o tamanho de suas habilidades, que podem ser capazes de reescrever a própria realidade. Reina… bom, desenvolvi uma relação de amor e ódio com ela. Será que ela pode ser realmente uma deusa? Suas habilidades são de fato poderosas (não consigo deixar de correlacioná-la ao Aquaman, cujo poder era o de ‘conversar com peixes’)?
"Da forma como colocara seu distintivo, o endireitara, o polira até brilhar e então pensara consigo: Destino era uma escolha."
UM FINAL COM UMA GRANDE REVIRAVOLTA
O Paradoxo de Atlas alterna os pontos de vistas de todos os personagens principais, além de inserir poucos trechos de Ezra, Gideon, e uma nova personagem chamada Belen, uma estudante filipina e ativista climática em Los Angeles dos anos 1980 que acaba conhecendo Libby. A interação das duas será determinante para a criação do Fórum, uma organização focada em expor a Sociedade, porque acreditam que o conhecimento deve ser para todos, não apenas para um grupo seleto.
E se grande parte do livro é focado nas elucubrações dos personagens, no terço final as tramas e as linhas do tempo começam a convergir, forçando os alunos a se unir para enfrentar uma nova ameaça. Quando Libby consegue mexer em definitivo com as peças para seu retorno, os acontecimentos subsequentes levam a mais um final explosivo – eu e meus trocadilhos infames…
Enfim, esse é um livro sobre poder, a extensão de habilidades que podem interferir na vida, no tempo. Toda a discussão possivelmente caminhou para nos preparar para o terceiro e último livro, que deverá ser lançado ainda esse ano. As habilidades, as intenções, as consequências – tudo fica às claras. E como é tênue a linha entre bem e mal… Portanto, da mesma forma que os alunos precisavam se movimentar para adquirir o conhecimento que a biblioteca tentava esconder, você também terá de dar um passo além para criar suas próprias conjecturas.
"O Olimpo estava vazio e o inferno também. Os demônios estavam todos ali, naquela casa."
Por: Maísa Carvalho
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