Sâmella Raissa 09/07/2023Um futuro que encanta e assusta ao mesmo tempoDepois de conhecer a escrita poética da Ioná em poesias com Entranhas e logo mais em prosa com Eclosão, Crisântemo de Ferro veio não só pra nós fazer mergulhar de vez no sei potencial de escrita e, mais ainda, viajar num mundo completamente novo e cuja construção e detalhes, de longe, podiam ser parte de um filme facilmente, tamanha criatividade e sagacidade da autora ao criar e conduzir cada personagem nesse clichê e ao mesmo tempo inesperado enredo e plots.
Pela narração em terceira pessoa acompanhamos a fundo não apenas da protagonista, Érida Rúbia, como também dos príncipes em disputa por um casamento diplomático com ela pelo torneio O Cravo e A Rosa. Desde as primeiras páginas tudo se desenvolve com gamas distintas de intensidade, tensão e muitas jogadas políticas de todos os envolvidos (ou quase). Só lamento que isso, em certo ponto, tenha me soado cansativo por não estar acostumada com o grau de detalhes já que a autora toma, ao descrever muito da tecnologia e afins do reino de Álvares, ao ponto de me dispersar um pouco da trama em si em alguns momentos.
Da mesma forma, o jogo político é tão intrincado e arriscado para todo, principalmente em meio ao clima de ataques dos Antitecs em torno de Érida, que a tensão falou bem mais alto por boa parte da narrativa e mesmo os momentos para explorar um pouco de romance no enredo acabaram, para mim, soando vagos e não consegui me envolver à ele como esperava e tanto ouvia de um ou outro comentário sobre a história. Érida, em particular, demorou a me convencer de si própria diante do enredo, mas na verdade isso é bem mérito da trama, uma vez que representa bem o quão distante e apática ela fora não só criada, mas podada mesmo pelos pais, pois mostrar fragilidade, qualquer traço mínimo que seja dela, não é bem visto entre os alvafenses, famosos pela postura guerreira e tecnológica.
Apesar disso, a história como um todo ainda me prendeu, e o fato de ser uma duologia me deixa especialmente curiosa para ver como Ioná pretende encerrar tudo, ainda mais após aqueles capítulos finais!!! Ousadia é sem dúvidas um adjetivo interessante para compor essa história. Criatividade, como falei, também corre solta aqui, juntamente com ótimas doses de representatividade principalmente da cultura nordestina, em forma de pratos típicos e uma ou outra expressão aqui e ali que, como natalense, muito colaboraram para que eu me aproximasse da leitura.
Enfim, Crisântemo de Ferro é um prato cheio para quem busca novos ares na distopia e fantasia, diria até que com um teor mais adulto pelas eventuais cenas de violência em que a protagonista se vê presa em tantos momentos, então fica o aviso para quem for mais sensível. E que venha o próximo livro!