Hélio 10/12/2023Quem tem medo dos evangélicos?Um ótimo ensaio sobre os evangélicos e sua relação com a política. Em um dos pontos centrais do livro, o teólogo assembleiano Gutierres Siqueira, faz uma defesa dos evangélicos mostrando que eles não são culpados pela má qualidade da democracia brasileira contemporânea. O autor diz que o Brasil tem uma longa tradição autoritária, e essa tradição não nasceu com os evangélicos. Ele cita vários momentos de autoritarismo na história do Brasil, como a Colonização, Escravidão, Ditadura do Estado Novo, Ditadura Militar e outros momentos pontuais. De fato, Gutierres tem razão, pois, é como ele frisa, "se os evangélicos apoiam o autoritarismo e demostram uma cultura democrática fraca, assim o fazem não porque são evangélicos, mas porque são brasileiros."
Concordo com o autor que não há motivos para a elite intelectual brasileira temer que venha exitir no Brasil uma teocracia evangélica, pois, como o autor pontua muito bem, "os evangélicos são fragmentados, divididos e concorrentes uns dos outros - e sem um poder central não existe regime totalitário. (...) Não é possível falar em projeto de poder evangélico no singular, mas apenas e tão somente no plural. Um grupo que tem inúmeros projetos de poder acaba não tendo nenhum. É justamente a desorganização e as disputas internas no movimento evangélico que impedem qualquer totalitarismo."
Ainda em defesa dos evangélicos o autor afirma que é exagero cômico falar em perseguição religiosa aos evangélicos no Brasil. "Somos um dos países com maior liberdade de culto do mundo. Mas, infelizmente, é inegável o preconceito que parte da elite pensante brasileira nutre contra esse grupo. Perseguição não existe, mas o preconceito é evidente e está fora do escopo das pautas identitárias."
Gutierres também não poupa críticas ao próprio segmento evangélico que ele pertence e faz críticas aos cristãos bolsonaristas por cometerem um erro gravíssimo de interpretação bíblica ao associar Bolsonaro ao rei Davi, afirmando que ele foi ungido e escolhido por Deus. Gutierres também lamenta a propagação de teorias conspiratórias nos púlpitos das igrejas.
Trata-se de uma excelente leitura que merece a atenção tanto dos evangélicos, como daqueles que falam sobre esse movimento sem ao menos conhecê-los.