Henrique Fendrich 04/03/2020
Eu escolhi ler esse livro, e não “O paciente inglês”, bem mais famoso, porque, além de o escritor ter nascido no Sri Lanka, a história também se passa lá, o que me pareceu mais interessante para um ano de “leituras asiáticas” como o que estou fazendo. Mas não posso dizer que tenha gostado do livro.
Tudo o que pude descobrir sobre o Sri Lanka durante a leitura foi que, em época recente da sua história, o país foi convulsionado por duas terríveis guerras civis simultâneas, aparentemente uma de motivação política e a outra de motivação étnica. Mas, pela simples leitura, eu sequer pude saber o que realmente estava em jogo para cada um dos lados envolvidos nesse conflito. Apenas fui apresentado a um cenário onde os assassinatos haviam se tornado uma prática rotineira.
Não foi muito mais o que soube acerca do país, a não ser o fato de que por lá mesmo os homens vestem um tipo de saiote chamado “sarongue”.
Louvo o trabalho de investigação do autor para a criação de personagens que fogem do seu cotidiano. Ondaatje criou uma protagonista que era antropóloga forense, outro personagem que era arqueólogo, e ainda um que era médico em um hospital caótico durante os conflitos. Ou seja, os personagens não são escritores ou jornalistas, como tantos escritores, por comodismo, preferem utilizar. A criação desses personagens exigiu pesquisa e acho isso um grande mérito, o problema é que a história em si não foi estruturada de um jeito que me parecesse muito atraente.
A orelha do livro chega a dizer que a história poderia ser lida como “uma emocionante história de suspense”, mas isso só pode ser brincadeira. Há um mistério sobre a origem de um esqueleto, mas a história está longe de configurar um suspense, muito menos emocionante.
Também não cheguei a ver “o cruzamento entre prosa e poesia”, que dizem ser tão pronunciado no autor. Honestamente, eu só vi prosa, no máximo um ou outro momento de prosa escrita em tom mais lírico, o que não me parece suficiente para ser classificada como poesia.
Em meio a história dos conflitos no país, há também certos mergulhos nos dramas pessoais de cada personagem, mas achei que faltou algo como uma “unidade” maior na trama.
Enfim, não se pode acertar sempre com as leituras.