Paulo 04/06/2024
Werner Herzog é um grande cineasta alemão e de quem gosto muito, a sua filmografia inclui alguns documentários sensacionais. Em sua estréia no romance, Herzog se revela também um excelente prosador. Este é um romance mas apenas parcialmente uma ficção, é como um documentário em prosa escrito por Herzog, embora haja um narrador onisciente em terceira pessoa e bastante lirismo.
É muito mais interessante que se entenda do que a história se trata antes de começar ou de dar continuidade à leitura, e aqui diz isso quem odeia spoilers e não gosta de saber nem o enredo das histórias, mas nesse caso sabendo de antemão se entende todo o contexto e a grandiosidade da história e se absorve com admiração a veracidade dela, embora romantizada: Onoda foi um soldado/tenente japonês designado a tomar conta de uma ilha nas Filipinas durante a Segunda Guerra Mundial, em 1944, até que o império japonês retomasse o completo poder da ilha e ganhasse a guerra. A guerra acabou em 1945, Onoda, porém, isolado na ilha e completamente entregue à sua missão, não acreditou durante 3 décadas que a guerra tinha terminado, contudo, como pontuado pelo narrador, várias guerras ocorreram após o fim da Segunda Guerra, o que pode ser somado como parte da culpa de Onoda se acreditar numa única guerra sem fim. Aliás, é extremamente interessante notar que cada guerra que sucedeu, e apenas pouco depois, à Segunda Grande Guerra teve participação, se não início, dos EUA, e foram várias as guerras.
A prosa de Herzog não é um relato objetivo, como num ótimo romance ela é carregada de lirismo e de descrições extraordinárias do ordinário, o relato dessa sobrevivência surreal e quase lunática é agoniante mas também impressionante, quase encantadora, digo "quase" porque o próprio conteúdo não permite que seja apropriado chamá-lo assim.
Recomendo este romance curto a qualquer leitor e é uma sugestão especial para historiadores e talvez até geógrafos.