Albert 07/04/2023
Tocante
No potente Gulag, Applebaum dá voz às vítimas dos campos de concentração soviético escancarando o horror do sistema penal que deixou cicatrizes profundas na sociedade russa até meados dos anos 80.
Esgotado no Brasil, o livro da escritora norte-americana foi relançado em 2022 em Portugal pela Bertrand editora. Applebaum expõe os comoventes relatos e experiências das vítimas. De início, para que o leitor possa se situar no contexto do campo de concentração, a autora inclusive, cita uma comparação entre os campos do Gulag e de Auschwitz e que em sua pesquisa chamou mais atenção pelas diferenças entre as experiências das vítimas do que pela diferença entre os dois sistemas dos campos. O contexto da morte de um prisioneiro era diferente em ambos os campos. Da perspectiva humana, é dilacerante a forma como o sistema tratava os prisioneiros, que separados da família e dos filhos tinham de conviver com tortura, privação, trabalho extenuante e sem o devido julgamento. Pessoas inocentes enviadas para campos longínquos sucumbiam diante de doenças e fome.
Ao longo da leitura o leitor verá a complexidade e a enorme dimensão que os campos tomaram em toda a URSS do ponto de vista social e econômico. Prisioneiros trabalhavam em obras colossais como canais e construção de cidades. Embora boa parte da economia russa dependesse dos prisioneiros, Applebaum sustenta que o interesse de Stálin em campos de concentração pudesse não ter uma fonte racional e que sua obsessão em construções faraônicas com trabalhadores forçados era a sua forma megalômano de ser.
Gulag, vencedor do prêmio Pulitzer narra além do cotidiano dos prisioneiros, aborda os guardas, as rebeliões, as estratégias de sobrevivência. A perspectiva econômica e social se faz presente, mas a política não. Esta obra é reservada para as experiências das vítimas. Gulag pode até ser, guardada as devidas proporções, uma obra intimista. Suas páginas expõem os sentimentos em poemas, canções, desenhos e pinturas feitos pelos prisioneiros.