spoiler visualizarLirio.Adler 22/12/2022
A misógina em Os filhos da lua: O pacto dos lobos.
Os filhos da lua: O pacto dos lobos é um livro narrado em primeira pessoa do ponto de vista do João e do Jordan. Após a morte do seu pai, o Rei do Norte, Jordan vai atrás de vingança, já que ele acredita que quem matou seu pai foi o Rei do Sul. Depois de ter sua vila destruída por uma ataque de lobisomens, João se vê envolvido com o alfa deles Jordan. O rapaz levanta a hipótese de que o Rei do Sul não matou o pai de Jordan, o que pode trazer um caminho de paz caso ele consiga provar.
Esse foi um livro difícil de ler, quase desisti em muitos momentos. A grande pergunta que eu me fiz foi: por que o autor publicou um projeto tão imaturo e com tantos erros? Erros "imperdoáveis", sim, pois não está mais no wattpad. E tudo bem ter erros e, claro, os primeiros projetos são os que mais têm tropeços. Porém aqui faltou muita coisa, vi que o livro passou por revisão, me pergunto que revisão foi essa, o livro tem tantos erros narrativos que é difícil. Já no prólogo tem furo e aí é só ladeira a baixo, o livro está cheio de furos.
A primeira coisa que tenho que apontar é que esse livro poderia ter 200 páginas, mais da metade dele é descartável, tem excesso de descrição, narração e personagens que não agregam em nada. Tenta abraçar tudo e não abraça nada. A um excesso chatíssimo de críticas mal feitas ao cristianismo, em que não se encaixa com a história e eu só pensei ?Não era mais fácil fazer um textão no face?? porque, você sente que tem um textão do face no meio da narrativa e você só fica (??). E isso nos leva para outra questão: a ambientação, esse livro é de fantasia, tem como referência a inquisição já que é citado a caça às bruxas. Se seu livro, mesmo sendo fantasia, tem uma referência de época, pesquise sobre. É óbvia a falta de pesquisa o que te tira da imersão da leitura. João é incrivelmente progressista para sua época, claro só nas partes que lhe é confortável, já que ele tem uma visão misógina sobre mulheres (todo o livro tem uma visão misógina e vou falar disso mais para frente).
Algumas falas e narrações parecem ter sido tiradas do twitter. João está super revoltado por ter que casar através de um casamento arranjado. Que seu pai traia sua mãe, que mulheres sejam tão vulgares, ele odeia toda a parte promíscua da cidade. Todos esses questionamentos construídos na narrativa, fazem João parecer um jovem que vai xingar muito no twitter, não um jovem que tem uma visão crítica e a frente do seu tempo. Claro, que no meio disso tudo o João é a alma pura e sensata, se igualando muito a uma s/n virgem, sem carisma, inteligente quando é conveniente na narrativa. Não que nesses momentos o João realmente fosse inteligente é só que os outros personagens são muito burros e, claro, ele tem que ser salvo, já que cabe a Jordan o papel do ?alfa? da história.
Os dois protagonistas não são carismáticos, nenhum personagem é, talvez pelas falas genéricas, excesso de personagens que não são explorados. Tipo Castiel o melhor amigo do João, que é esquecido no meio do role e é vilanizado, apenas para tornar mais penosa a jornada forçada de João. Jordan, que seria o grande pica dessa história, não convence nem como alfa dos lobisomens, nem como um monarca. O personagem é muito ?burro?, uma pessoa criada na realeza que não investigou a morte do pai, nem o inimigo e saiu matando, sem nem saber que mulheres daquele povo não eram guerreiras. Abandonou o próprio reino por vingança, podendo sofrer um golpe. Olhou o João e ?Nossa quero casar, ter filhos e torná-lo meu rei?, sem pensar em questões políticas. E tudo bem se esse romance tivesse alguma explicação, pois de início dá a entender que o João tem algo especial, já que ele pode falar com Jordan na sua forma de lobisomem, e tem a profecia (muito mal feita), porém nada é realmente explicado. João é o único humano a falar com lobisomens, não tem explicação é isso, eu esperava que houvesse uma explicação para justificar a paixão avassaladora do Jordan por ele, já que pela narrativa essa paixão não se justifica.
Vamos para minha grande questão com essa história: a misoginia. Todas as mulheres dessa história ou são vilãs e putas ou não tem importância. A vilã da história Elizabeth é uma versão da Wanda piorada (e a Wanda no MCU já é horrível). Uma mulher que não sabe lidar com os próprios sentimentos, após ter acesso a magia das bruxas procura vingança. Você entende ela querer a cabeça do Rei do Sul, mas todo resto é forçado. As bruxas na história são vilãnizadas, mesmo o Rei do Norte, tendo as expulso de suas terras por serem poderosas demais. O autor até tenta mostrar que essa decisão do Rei foi ruim, mas ele opta por manter Elizabeth como a louca do rolê. A mãe de João é uma egoísta, uma péssima mulher, Margaret é ambiciosa, mimada e entrega o João, porém aparece do nada no final do livro para incentivar o João a dar para o Jordan. Mesmo com mulheres na alcateia de Jordan, Charlotte mal tem participação e cabe a Emilly ser a única que peita Jordan ser vilãnizada, tendo até uma fala homofóbica que não casa com o povo de Jordan que é descrito como progressista.
O resto das mulheres da história estão ali apenas, para serem putas e servirem aos homens e serem julgadas por isso. Jordan, que é apresentado como um personagem que gosta de homens e mulheres, passa a rejeitar todas as mulheres (claro ele não tem olhos para outras pessoas a não ser o santo João). Porém a narração torna essas mulheres rejeitadas putas, despeitadas e raivosas. Jordan tinha um romance com um escravo (olha a hipocrisia, julgando as pessoas da aldeia e tendo escravos. A narrativa tenta amenizar para o lado dele, o garoto é livre e pago, mas a própria narração diz que ele não conseguiria sobreviver fora do castelo) esse jovem rapaz que poderia ficar com ciúmes por ser rejeitado, o que faria mais sentido, não fica, mas todas mulheres ficam.
No final o livro não convence como fantasia nem como romance pelo seu mau desenvolvimento, falta de pesquisa e excessos. Mas a maior questão fica pela visão de mundo do autor, que quis fazer uma fantasia com críticas, mas as estruturou como um textão imaturo do face. Que mostra que apesar de ter aversão e problemas de como o cristianismo lida com a homoxualidade, o proprio tem uma visão misogina e heteronormativa de mundo.