Desi Gusson 04/01/2023
Chave de Ouro
The Golden Enclaves começa exatamente onde The Last Graduate parou. Sim, diretamente daquele gancho matador do último livro, aquela coisa cruel que, mesmo a gente sabendo que era impossível acabar tudo bem, que era impossível tudo ir de acordo com o plano (porque né, não seria uma trilogia assim) a gente se apega demais ao ritmo insano do último capítulo. #deixaramagentesonhar
Mas ok, vida que segue. E como segue, porque não temos (por nós eu me refiro à El, maravilhosa) nem uma semana de sossego. E ainda é um sossego nem um pouco sossegado, a Sra. Mãe Maravilhosa Ser de Luz não sabe bem como tratar a filha depois de uma perda tão terrível. Uma perda que, ao que tudo (tudo sendo aquele bilhete furreca contrabandeado pelo aluno novo) indica, A Gwen sabia que aconteceria e não se dignou a elaborar. Ou pelo menos é a conclusão que El chegou. Ah El, minha amada pessimista realista meio niilista que vive muito pokas ideias o tempo todo. Eu te entendo.
É muito bom ter uma protagonista tão foda, tão poderosa, tão grandiosa, que não fique no “Ai de mim” ou “Isso tudo é minha culpa, vou ali chorar e me lamentar”.
Ela passa o livro inteiro, a trilogia inteira, na base do ódio. E não hesita em soltar um 🤬 #$%!& *suspiro* cada vez que mais uma bola de cocô vem em sua direção lançada pelo universo. E aparentemente o Universo tem um estoque infinito de bolas de cocô pra lançar.
Não dá pra dizer muito sobre o que acontece depois, não sem estragar surpresas, mas adianto que o mundo é uma grande Scholamance, pronto pra devorar todos os feiticeiros que dobram esquinas em desatenção. Os Enclaves são o alvo, de boas ou más intenções e objeto de desejo de (quase) todos.
Então chega um plot twist e, sinceramente, fui pega de surpresa. Eu me considero, se não muito arrogantemente pelo menos de forma sincera e realista, uma leitora experiente de fantasia em seus mais diversos subgêneros. Então não tem um tropo usualmente empregado pra esse tipo de livro que eu já não esteja acostumada a ver. Eles geralmente são construídos ao longo da história e tem sinais em comum, então você meio que já sabe onde vai dar. Não é vidência, alô Marcia Sensitiva, ou falta de criatividade do autor, só muita fantasia YA na cachola.
Falei tudo isso pra dizer que: eu não vi essa chegando. E minha reação aos novos fatos foi muito igual à da própria El, o que me enche de orgulho ao mesmo tempo que me faz procurar o telefone da terapia. Inclusive El, por favor menina, vai procurar ajuda.
Não que todos os outros personagens não sejam igualmente traumatizados, afinal eles acabaram de passar anos trancados numa escola que queria comer cada um deles, então temos todos os níveis de estresse pós-traumático disponíveis no mercado. Mas Novik escolhe não se apegar a isso.
Da mesma forma que ela não se apega ao romance, tipo, eles tem coisas mais imediatas pra resolver. Pra El até bater com um pedaço de madeira na cabeça do Orion é mais importante e eficiente que abri espaço pra “sexy time” na agenda. De novo, eles saem de um ambiente assassino e caem em outro, então é super entendível e esperável, pra ser sincera.
O fechamento perfeito pra uma trilogia que se tornou uma favorita e referência, a partir de agora, para livros tentadoramente sombrios. Os simbolismos usados, as estocadas lançadas, e toda a representatividade que Naomi tentou (e conseguiu, na minha opinião) mostram como o imperialismo nunca saiu da mente da humanidade e que nossos piores monstros são os que trazemos dentro do peito. Vai demorar um pouco pra eu ser arrebatada assim de novo.
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