Resenhas -

Flávia Menezes 14/06/2022

OS LIVROS QUE UM ESCRITOR ESCREVE, DIZEM MUITO SOBRE ELE.
?Three weeks with my brother? (publicado em português como ?Três semanas com meu irmão?), lançado em 2004, é um passeio encantador pela vida do mais famoso escritor de romances da atualidade, Nicholas Sparks, e seu irmão Micah Sparks.

Apesar de há alguns anos ter sido grande fã dos trabalhos do Nicholas, tendo lido vários de seus livros e assistido a vários filmes baseados em suas obras, eu não conhecia muito sobre a história pessoal do autor, e quando a minha amiga Daniele (obrigada, amiga!) me falou sobre esse livro, não resisti, e iniciei a leitura no mesmo dia.

Quando eu comecei, confesso que não me interessei tanto sobre os relatos da viagem que os irmãos fariam, porque os locais não me chamaram tanta atenção assim. Mas é claro que, como se trata do Nicholas Sparks, é certo que sua escrita romanceada logo de cara me conquistou. Sem contar que as reações dos irmãos, quando os guias falavam sobre vasos e artefatos arqueológicos, era tão parecida com o que eu teria, que não havia como não me divertir lendo.

Bom... além disso, não tem como não se apaixonar pelo Micah, e sua personalidade tão carismática, extrovertida, sagaz e muito atraente. O que me fez perceber de onde o Nicholas Sparks tirou tanta inspiração para personagens masculinos tão apaixonantes! Micah é exatamente o que muitos dos personagens dele são: o homem romântico, protetor e bastante leal.

Na verdade, não apenas ele, mas muitos de seus personagens possuem em sua essência alguns de seus familiares. Como é o caso de sua irmã, que inspirou uma das histórias mais tocantes escritas pelo autor: ?Um Amor para Recordar?. Ou do seu pai, que lembra muito o pai do personagem de ?Querido John?. Sem contar o seu filhinho que inspirou a escrever o personagem de ?O Resgate?.

Mas na vida de Nicholas Sparks nem tudo foram apenas flores, e além de uma infância complicada por conta do pai ausente, e das dificuldades financeiras, para que a mãe pudesse ajudar nas despesas da casa, por muitas vezes os irmãos tiveram que ser corajosos o suficiente para tomar conta de si mesmos, enquanto a mãe ia trabalhar.

Muitos dos relatos da infância de Nick e Micah marcam bastante esse livro. Os ensinamentos da mãe, as peraltices dos irmãos, e os relatos comoventes sobre a irmã mais nova que, por dividirem a mesma data de nascimento, todo ano fazia questão de cantar um ?Parabéns a você? para o Nick, e só entre os dois, deixando a data ainda mais especial.

Engraçado que ao ler o início da história de vida do Nick, a forma como ele vai narrando cada um dos seus familiares, nos permite sentir cada um deles, tanto quanto o que vai acontecer com cada um deles quando o livro terminar.

Aliás, a forma como ele fala da mãe, ou da irmã mais nova, é tão cheia de carinho e ternura, que nos faz ver como uma criação amorosa, mesmo sendo rigorosa, é capaz de criar homens que sabem como tratar bem as mulheres.

Quando Nick descreve a irmã mais nova, Dana, a sensação que temos é que ele escreve sobre um anjo. E dá para sentir todo o poder que ela teve em sua vida. Aliás, desde o começo dá para sentir que sua vida, em algum momento e por algum motivo, será interrompida brevemente. Nick tem tanto cuidado com a imagem da Dana, que sentimos o quanto ela foi preciosa na vida dele.

Um outro ponto da biografia de Nicholas que me deixou encantada, foi a forma como ele tratou o autismo do filho. Engraçado como nos anos 1990, mesmo no final dessa década, alguns transtornos psicológicos ainda eram tão desconhecidos. Foi angustiante ler sobre todos os testes que essa criança foi exposta por falta de precisão no diagnóstico. E no final, toda a diferença foi feita pelo próprio pai, que com muita força de vontade, como uma verdadeira Anne Sullivan (a mulher que ajudou a Hellen Keller a aprender a falar e se comunicar), foi ele quem ajudou o próprio filho a falar suas primeiras palavras.

E se você acha que ele não fala sobre a vida de escritor, ele fala sim. Mas esse não é o ponto principal, e eu achei isso tão tocante, porque a verdade é que um dom aparece, nos ocupamos dele, o multiplicamos, mas a verdadeira missão não é só vender livros e ter sucesso. É tudo o que acontece ao seu redor, enquanto você escreve.

E uma observação que faço da parte do escritor que me surpreendeu, é que Nicholas Sparks era fã de ninguém mais e ninguém menos do que Stephen King. Ah, Nick! Olha que agora minha teoria de que ?Um Porto Seguro? teve sua inspiração vinda de ?Rose Madder? do King, foi confirmada, hein?

Falando sobre família, sobre lealdade, sobre fé e sobre amor, Nicholas nos traz uma delicada autobiografia, nos ensinando através de todas as suas tragédias que a vida pode ser cheia de obstáculos, mas que não podemos perder a fé, e nem mesmo de continuar a dar o nosso melhor, em especial, para a nossa família. Tenha ela os defeitos que tiver.

O único conselho que deixo, caso você se interesse por essa leitura, é de não esquecer de ler em um lugar tranquilo, porque não é fácil controlar as lágrimas quando ele nos conta sobre suas perdas, e suas dificuldades. Mas de uma coisa eu te garanto: que as lições que eles nos deixam, vale cada lágrima, e cada pedacinho do nosso coração que fica partidinho, sofrendo junto. Até porque com essa narrativa à la Nicholas Sparks, é impossível não se emocionar.