Carol 04/11/2021Impressões da CarolLivro: Meninas {2002}
Autora: Liudmila Ulítskaia {Rússia, 1943-}
Tradução: Irineu Franco Perpetuo
Editora: 34
168p.
A primeira mulher a ser publicada na já tradicional Coleção Leste, da Editora 34, é Liudmila Ulítskaia, recorrentemente cotada ao Prêmio Nobel de Literatura. E, afirmo, com toda justiça. Fui arrebatada pela capacidade dela de dizer muito, de maneira tão sucinta.
Como posso eu, uma brasileira, criança entre as décadas de 1980 e 1990, ter me identificado tanto com essas meninas soviéticas, que estão ali entre a infância e a puberdade, perto da morte de Stálin, em 1953?
Antes de tudo, creio que pela universalidade dos temas retratados nos contos: as amizades, as alegrias, as tristezas, os conflitos, as brincadeiras, tudo o que compartilhamos quando crianças, quando o mundo dos adultos não passa de um murmúrio.
Gosto também de como Liudmila constrói suas personagens, que aparecem e reaparecem a cada conto. As gêmeas armênias Gayané e Viktoria - e a vibe meio Paola e Paulina Bracho, meio Ruth e Raquel -; Tamara Kolivânova, que bordou com os pés um retrato para o camarada Stálin; a judia Lílietchka e seu bisavô Aarón, entre outros.
Como se vê são personagens multiétnicos, com interesses distintos nessa URSS, formada por quinze Repúblicas Socialistas, naquele mesmo ímpeto imperialista que vem desde o czarismo dos Romanov e chega hoje ao "neostanilismo" de Putin, de quem Ulítskaia é opositora ferrenha.
Adorei ter lido "Meninas" nesse ano de leituras russas. Acredito que Liudmila Ulítskaia foi a autora que mais conversou com suas contemporâneas, Elena Ferrante, Doris Lessing e Alice Munro, nisso de rememorar o passado e jogar holofotes em quem antes não tinha vez.? Basta ver como ela, de ascendência judia, trata de forma tão delicada o tema do antissemitismo no conto "No dia 2 de março daquele mesmo ano". Ela narra sem julgar suas personagens, e basta.
Li "Meninas" para o Clube do Livro Russo, mediado pelo @litrussa. Indico a vocês seguirem o perfil @leiturasrussas para não perderem a oportunidade de ler autores e obras menos conhecidas. Vamos diversificar as leituras, povo, nem só de Tolstói e Dostô vivemos.