mams 01/09/2021Uma história okEu dei 2,5 estrelas para esse livro porque acredito que muitas pessoas podem encontrar nele uma leitura divertida, despretensiosa, que proporcione uma distração, apesar de eu não ter gostado tanto da experiência de leitura.
A premissa da história é bastante atrativa e interessante. Eu, particularmente, gosto muito de ler sobre dimensões paralelas e sonhos que se confundem com a realidade. Natália usou essa base para criar seu livro e posso dizer que ela foi bastante feliz na escolha desse tema. A autora utiliza uma narrativa poética que, por vezes, é belíssima. Seus textos são bastante floreados, com descrições muito bonitas dos ambientes e situações. Algumas frases do livro merecem ser grifadas e anotadas, de tão lindas.
No entanto, percebo que essa narrativa, em alguns momentos, fica bastante tumultuada. A autora tenta criar camadas de adjetivos e sensações que acabam por fazer um texto carregado demais, um pouco confuso até, o que acaba por deixar a leitura mais lenta. De vez em quando precisei parar e reler para compreender o que a autora quis dizer em alguns parágrafos. São cores, que são sons, que são cheiros, criando uma sinestesia bastante complexa, mas não necessariamente de um jeito bom.
Os personagens não são muito bem construídos. Todos os personagens masculinos, além de serem todos interesses românticos da personagem principal (com exceção do pai dela e de uma esfinge), são praticamente a mesma pessoa: todos são bonitos, altos, e tem algum sentimento de proteção ou cuidado em relação à Lunara. As únicas diferenças entre eles eram a cor do cabelo e a cor dos olhos. A própria Lunara é uma personagem que não desperta nenhuma empatia. Ela não tem nenhum defeito significativo além de ser mimada e teimosa, o que a torna irreal demais. Quando começa-se a especular o fato de Lunara ter algum poder mágico, ela consegue utilizar esse poder sem nenhum esforço além de chorar e pedir por favor. Mesmo sem treinamento, mesmo sem nem saber que possuía esses poderes, ela consegue acessá-los sem qualquer dificuldade. É uma personagem rasa, meio chata até. É difícil até mesmo de torcer por ela, porque não há muito pelo que torcer.
O texto possui alguns erros ortográficos e de concordância. Acredito que, por ser uma publicação independente, não tenha sido feita uma revisão detalhada ou uma leitura crítica. Algumas frases começam de um jeito e terminam de outro, como se a autora tivesse mudado de ideia sobre como escrever uma passagem, mas tivesse esquecido de apagar uma preposição ou um verbo, sobrepondo as ideias e deixando o texto um pouco poluído. Alguns conceitos e ambientações também ficaram estranhas, a ponto de dar um nózinho na cabeça enquanto eu lia e tentava imaginar o cenário (por exemplo: em um momento a Lunara está em uma sacada, mas ai ela se dirige a um rio, sendo que sacadas ficam necessariamente acima do nível do chão. Ou seja, a Lunara pulou o guarda corpo e caiu de uma altura de dois andares para ir ao rio?). Existem também contradições nas falas das personagens de um capítulo para o outro, o que, de novo, acredito que se dê pela falta de uma boa leitura crítica/betagem.
Tive dificuldade em entender o real conflito pelo que a personagem principal está passando. Parece que o conflito, a principio, é ela estar vivendo em uma realidade semelhante à nossa, mas com memórias de um outro mundo e outra vida, com castelos, cavaleiros e dragões e não saber o que é a verdade. Mas em outro momento, parece que a autora mudou de ideia e a grande questão muda para qual o destino que ela escolhe seguir, que escolhas ela fará. Depois, parece que o conflito é mais relacionado ao romance, aos interesses românticos da Lunara em uma realidade e em outra. Apesar da autora afirmar que o foco do livro não é o romance, ele foi o que mais me saltou aos olhos durante a leitura. O conflito interno da personagem sobre ela querer ou não ser rainha ficou em segundo plano ao meu ver, e ele só é apresentado de fato quando a leitura já está bem avançada.
Resumindo: para o meu gosto pessoal, esse livro não foi muito bom. Eu não recomendo essa leitura para quem já tem muito contato com literatura fantástica ou que goste de histórias como O Senhor dos Anéis, O Hobbit, Guerra dos Tronos ou Harry Potter, porque a trama e o desenvolvimento dos personagens e do próprio enredo são bem mais simplórios (diria quase bobos) que os presentes nessas obras. Acredito que essa seja uma boa leitura para quem não costuma ler fantasia e gostaria de começar a consumir esse gênero, por ser um universo bastante simples, com conceitos fantásticos bem primários. Eu entendo as referências da autora, sei que ela se inspirou em fantasias épicas e nos livros da Sarah J Maas, mas, para mim, não chegou lá. Tenho certeza de que ela irá evoluir e crescer cada vez mais em sua escrita, corrigindo suas falhas e aprendendo com seus erros. O esforço e o trabalho da Natália, de ter lançado um livro de maneira totalmente independente, devem ser reconhecidos e aplaudidos, independentemente de gosto. Ela queria escrever a história que gostaria de ler e foi o que ela fez.