Tuca 28/05/2021“Você nos toca com os olhos, Thomas! Há uma pureza neles que é difícil de ignorar (...)”
Em um universo imaginário, em uma era similar à medieval, os servos do barão serviam um chá e eram o entretenimento das ladies – damas nobres- da região. Thomas foi um desses jovens servos, selecionados para serem um corpo a disposição e treinados por Milady Lily para obedecer aos desejos – especialmente os sexuais - das mulheres ricas em troca de ouro para sua família, que antes disso vivia na miséria.
“Eu não era Thomas ali, era apenas um pedaço de carne pelo qual elas se sentiram tentadas.”
As muralhas do castelo do barão, onde Thomas passara a morar, eram um mistério, assim como quem era aquele homem poderoso dono de tudo aquilo ( algo que eu queria muito ter descoberto), e por boa parte da história, qual era a completa natureza daquele chá e sua origem. Com um enredo bem diferente do que aquilo com o qual eu estava acostumada a ver em um romance medieval (ou similar a uma era medieval), “O chá das ladies” é uma narrativa bem original, justamente para quem está cansado/a das mesmas tramas, e quer algo que envolva tanto mistério, quanto intrigas, ciúmes, e um grande quê de erotismo com um aperitivo de romance.
O despertar sexual forçado de um jovem criado em um meio estritamente religioso me levou a enquadrar esse livro em algo como um soft dark, porque existem várias linhas tênues nessa história, principalmente na compreensão de liberdade e escolha e como isso se desenvolve para os personagens, além do florescimento do amor, nesse meio tão adverso e no qual apaixonar-se era proibido. Às mulheres ricas era permitida a liberdade sexual em segredo, aos homens e às moças pobres recaía de um lado a limitação do desejo pelo medo da punição do pecado, e do outro a obrigação de se vender como forma de se livrar dos grilhões da fome, e até mesmo se livrar da prisão do pecado. Libertar a mente e prender o corpo, ou prender o corpo enquanto tenta se libertar a mente. De qualquer forma, algo sempre estaria aprisionado. Não havia liberdade plena. Não enquanto Thomas pertencesse ao barão.
“Ela era Salomé, o pecado em forma de mulher, a beleza em forma de mulher e tudo aquilo se debatia dentro de mim, mas eu não podia falar aquilo.”
Para mim, o foco do livro não é o romance, apesar de seu desfecho ser sobre ele, mas sim sobre o enigma a ser desvendado pelo leitor/a e por Thomas (o narrador) e a construção de mundo tanto do castelo, um grande protagonista do enredo, quanto dos chás das ladies outra peça tão importante para o quebra-cabeça dessa história, além do modo como o tão doce Thomas não perde sua inocência e sua bondade jamais, ele na verdade, contagia aqueles ao seu redor. Porém, a paixão de Thomas e Milady Lily tem sim sua importância, não apenas por no amor eles encontrarem a liberdade que ambos haviam perdido, quanto para recuperar os direitos que tinham sob seus corpos ao se dedicarem um ao outro com sentimento. Thomas e Lilly, duas pessoas escravizadas em níveis diferentes, mas ambos sim escravizados, encontram no seu amor um pelo outro a sua forma de rebelião mesmo que sem essa intenção.
“Ela até escolheu a mesma cor de sua túnica para o vestido! Era como dizer que você era dela, sem poder dizer.”
Assim como um chá quente, acho que esse livro deve ser degustado, calmamente, e apreciado em suas incógnitas, na construção do ambiente sensual que traz também um pouco da cultura romana, no erotismo e no romance de um jovem rapaz religioso e uma cortesã misteriosa.
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