Caroline.Jacoud 27/05/2024
A singularidade de uma obra narrada por criança.
Maria vive uma solidão sem escolha. tentando entender o mundo e seus próprios sentimentos enquanto todos a volta sofrem pelo diagnóstico terminal do seu irmão, Maria enlaça o leitor com seus questionamentos acerca das questões da vida e da morte.
apesar da escrita em 3ª pessoa, passamos toda a leitura conectados intimamente com a personagem Maria, que com a ingenuidade comum à uma criança, dá um tom todo especial aos acontecimentos da trama. a invisibilidade dos sentimentos dela frente ao seu próprio luto e ao luto dos pais, a culpa pela situação do irmão e o desejo dilacerante de que tudo aquilo tivesse fim, as punições que ela pensava que merecia quando, na verdade, só deveria ser vista e compreendida.
Dias de se fazer silêncio pois Maria, mesmo muito nova, percebeu que há dias e momentos que somente o silêncio cabe. silêncio de reconhecimento, de constrangimento, de acolhimento e alívio. silêncios que precisam ser vividos e respeitados, não negligenciados.
há também as cores e os cheiros que Maria usa para ajudá-la a entender melhor sobre os seus sentimentos, pensamentos, percepções e sensações, boas ou ruins. é de uma simplicidade tão profunda que assusta, na mesma medida em que aproxima.
eu acredito muito nessa literatura que Camila nos apresenta aqui, aquela literatura possível, que alcança feridas sociais necessárias e que também é capaz de ser alcançada por todos, que possibilita diálogos importantes e sensíveis, que cria pequenos movimentos internos necessários na direção de algum tipo de revolução.