denis.caldas 08/11/2023Crítica literária, uma homenagem e um continhoQuando comprei esse livro, me senti atraído pela oportunidade do preço, pelo autor e pensando que eram ensaios literários. Não arrependo da compra, o autor nunca me decepciona, porém a maioria dos ensaios é sobre crítica literária de obras de diversos autores, o que me pareceu enfadonho no começo, mas depois peguei o ritmo e é muito proveitoso. Orwell é um gênio. A seguir, um resuminho de cada ensaio.
Em 1. Dentro da Baleia, o autor trata da literatura inglesa e norte-americana nas décadas de 1920 e 1930, com destaque ao livro realista, porém nu e cru, "Trópico de Câncer" de Henry Miller, que escandalizou a época por trazer uma realidade artística e devassa de Paris.
Em 2. Mina Abaixo, o autor faz uma justa homenagem aos mineiros ingleses que sofrem nos subterrâneos de carvão mineral, movidos pelo capitalismo industrial da época, mas extremamente necessários para mover a civilização, pois tudo dependia do carvão mineral. Escrito antes do boom do petróleo e do gás natural, que não deixam de ser um carvão mineral líquido e um gasoso (me corrijam se tecnicamente não é), até hoje dependemos.
Em 3. Inglaterra, sua Inglaterra, Orwell faz críticas aos ingleses, aos britânicos, ao império, tanto ao povo em si como às outras classes e que, perderão a guerra contra os organizados nazistas. Aparentemente o ensaio foi escrito antes do final da 2ª Guerra; nada como um dia após o outro, embora se não fosse a baita ajuda soviética que descumpriu o Pacto Molotov-Ribbentrop celebrado entre o Bigodinho e o Homem de Aço Vermelho...
Em 4. O Abate de um Elefante, o autor conta um caso ocorrido quando ele era servidor britânico na então Birmânia, responsável para manter a paz e a ordem, e como ele era motivo de chacota, alimentando o ódio sempiterno que ele tem pelo império britânico, ao mesmo tempo que odeia os nativos. Ai ai, Orwell, não esquenta, você é um cidadão do mundo, não se apegue às fronteiras nacionais...
Em 5. Lear, Tolstói e o Bobo, o autor trata de um planfleto quee Tolstói critica duramente Shakespeare, quer seja por convicções religiosas e políticas, como por questões literárias, além de criticar os ingleses e todo o resto do mundo que adora Shakespeare. Não vou dar spoiler kkkkk.
Em 6. Política versus Literatura: uma análise de As Viagens de Gulliver, Orwell nos mostra qual foi o objetivo da obra-prima de Jonathan Swift, que nada mais era que uma fábula criticando a sociedade da época e os diferentes estilos culturais dos países da Europa no século XVIII.
Em 7. A Política e a Língua Inglesa, o autor analisa como a maioria dos textos literários e políticos são mal escritos, independente do viés ideológico, além de dar várias dicas do que ele acha que é o certo. Para quem leu alguns de seus livros, ele sabe o que está falando, principalmente em "1984" onde ele nos trouxe a Novafala e todo o esquema de censura e ressignificação da história escrita. Camarada, se você já via isso há 80 anos, imagina agora...
Em 8. A Prevenção contra a Literatura, Orwell trata da liberdade de expressão, de imprensa e todo o mal que isso traz. Lembrei do seu livro "1984".
Enfim, em 9. Semanário de Meninos, o autor percorre 30 anos de literatura barata disponível em bancas de jornais para crianças, jovens e, porquê não, adultos que ainda têm aquela criança curiosa dentro de si. Traz todo o padrão repetitivo e a linha de pensamento da época, assim como os costumes e a ilusão criada entre autor e leitor.