Day 31/07/2022Duas escritoras incríveisMe apaixonei primeiro por Katherine Mansfield. Quando descobri que Virginia Woolf era sua amiga e invejava a escrita de Katherine resolvi ler Virginia também. Solicitei esse livro na troca do Skoob. Comecei por Virginia e não entendi. Alguma coisa devia estar errada. A história não ia para lugar nenhum. Descrições primorosas, trechos de prender a respiração. Parece que por um instante você está vendo a cena, está dentro do livro, você respira o ar gelado; mas apenas um recorte. A sensação é como se sentássemos em uma mesa durante uma festa e observássemos pequenas histórias acontecendo aleatoriamente. Não sabemos o antes, nem o depois. Tudo o que se mostra ali é o que sabemos. Então queremos saber mais, queremos saber tudo. Mas só ficaremos com o recorte. Leitura desafiadora, odiada e agora já tornando-se carinhosa. Em especial depois que li sobre Virginia e sua escrita saindo do padrão da época, inovando em um segmento tão fechado, a ponto de ser esse conto publicado pela editora do seu marido. Enfim, poder escrever o que quiser sem ceder ao formato adequado e aceito na época. Admirei. Depois li Katherine. Os dois contos no mesmo livro é uma experiência intrigante. Sou fã de Mansfield não faz muito tempo. Confesso que por mais que o conto dela também tenha essa característica que nos leva a não saber nada do passado ou futuro, apenas o recorte presente de vários personagens intrigantes, eu ainda amo cada pedacinho, cada parágrafo. Ela já tem meu coração. Independente de não seguir os padrões de livros que estou acostumada, ambas, Virgínia e Katherine me fascinam por me mostrarem mais possibilidades de escrita, de pensamento, de abordagem. Leia a primeira vez e odeie. Na segunda leitura busque preciosidades. Na terceira camadas escondidas que você não percebeu. Na quinta imagine como alguém imaginou tudo isso.
Deixo um pequeno trecho de cada conto para vocês degustarem:
Na Baía - Katherine Mansfield
Ah, que alívio, que diferença fazia o homem fora de casa. Até suas vozes haviam mudado enquanto chamavam umas às outras; soavam calorosas e amorosas como se compartilhassem um segredo. Beryl foi até a mesa. "Tome outra xícara de chá, mamãe. Ainda está quente". Ela desejava, de alguma forma, celebrar o fato de que poderiam fazer o que bem entendessem agora. Não havia nenhum homem para perturbá-las; todo esse dia perfeito era delas.
O Quarto de Jacob - Virginia Woolf
"Portanto, escreveu Betty Flanders, afundando os saltos dos sapatos na areia, "não havia nada a fazer a não ser partir."