Narrativa da vida de Frederick Douglass

Narrativa da vida de Frederick Douglass Frederick Douglass




Resenhas - Narrativa da vida de Frederick Douglass


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Kamilla 04/09/2022

Aterrador
A narrativa da vida de Frederick Douglass por diversas vezes me deixou com um nó no estômago, é totalmente diferente ler sobre o período em um livro de história e ter a história narrada em primeira pessoa.

Desenvolvi uma admiração imensa por Douglass e pela sua trajetória, pela fortaleza mental que ele teve que construir para não deixar que a condição de homem escravizado destruísse o seu espírito e a sua resistência.

O mais triste é ler sobre os amigos e familiares que ficaram para traz, que viveram e morreram na brutalidade da escravidão sem jamais conhecer a liberdade. Os que não tiveram as oportunidades que Frederick Douglass teve e que naturalizaram para si mesmo a condição de escravos.

É assustador tentar se colocar na mentalidade da época, mas a narrativa deixa clara como a instituição da escravidão corrompeu toda a sociedade, de uma forma ou de outra todos os grupos étnicos envolvidos perderam muito de si para sustentar uma sociedade baseada em trabalho escravo.

Os escravos perdiam o senso de si mesmo, a sua liberdade, a capacidade de formar laços familiares e emocionais, de se desenvolver intelectualmente, nascer na escravidão basicamente era perder tudo o que faz com que nós nos consideremos humanos.

Por outro lado, os donos de escravos desenvolviam um tipo de hipocrisia sociopata - por falta de uma expressão melhor - Douglass mostra que era impossível alguém possuir escravos sem ter que abrir mão de sentimentos como empatia, honestidade e moral. O que tornou o Cristianismo praticado na região uma religião brutal e hipócrita.

Infelizmente ele não pode entrar em muitos detalhes relativos a seus aliados, seus relacionamentos e sua fuga, pois o livro foi escrito durante o período escravista e entrar em detalhes significaria perseguição e até prisão aos envolvidos.

Enfim, fiquei fascinada com a história de Frederick Douglass, planejo descobrir mais sobre ele, recomendo o livro a qualquer pessoa que tenha dúvidas ou curiosidade sobre o período histórico e a questão da escravidão nos EUA. Indispensável.
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Caiomb 20/06/2021

Um dos melhores livros que já vi.
A leitura e simples e rápida, e explica de uma forma bem simples as complexidades sobre a escravidão e o racismo.
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Giordano.Sereno 23/07/2023

Os horrores da escravidão narrados em primeira pessoa
O livro desnuda os horrores da escravidão nos Estados Unidos de uma forma surpreendente. É impossível ler esse livro e permanecer indiferente. De um jeito ou de outro, você terminará a leitura diferente de como começou. O mais chocante é que se trata de uma história real, um livro de não-ficção. E quanto mais você reflete sobre isso, mais forte o livro fica. É uma história conhecida já há muito tempo, nos livros da escola. Mas é totalmente diferente ler sobre o período em um livro de história e ter a história narrada em primeira pessoa.
Durante a leitura, não pude deixar de me lembrar de outro livro fantástico. Em "Um defeito de cor", da brilhante autora Ana Maria Gonçalves, também temos a escravidão narrada em primeira pessoa. A diferença é que não foi a autora que viveu tudo aquilo. Ela se baseou em manuscritos antigos e teve que preencher algumas lacunas. Ou seja, há um pouco de ficção na obra.
É surreal imaginar que havia um argumento bíblico (e religioso) para justificar a existência do sistema escravista. Acreditava-se (ou fingia-se acreditar) à época de que todos os africanos eram descendentes de Caim, que fora amaldiçoado por Deus por ter assassinado seu irmão Abel. E que a maldição de Caim atingiria toda sua descendência.
Douglas derruba esse argumento com facilidade. Ele afirmou (e imagino que todos sabiam disso, embora fingiam desconhecer) que muitos dos senhores abusavam sexualmente das mulheres escravizadas. E, muitas vezes, esses abusos acabavam gerando filhos. A legislação vigente estabelecia que o filho de uma mulher escravizada herdava essa condição. Portanto, os senhores, além de extravasar sua luxúria e devassidão, acabam se beneficiando por receberem mais um escravizado para incorporar em seu patrimônio.
Portanto, os escravizados não eram descendentes de Caim. Pelo menos não todos. Eles eram descendentes, muitas vezes, de seus próprios senhores.
Douglas era um homem culto, inteligente, que falava e escrevia muito bem. Só o fato de Douglas existir já serviu para derrubar o argumento da pretensa inferioridade racial dos africanos, que ajudava a defender a manutenção da escravidão. Ele mostrou, simplesmente por existir, que os escravizados eram seres humanos como todos os outros. Eles só precisavam de oportunidades, aprender a ler e a a escrever, para se desenvolverem intelectualmente como qualquer outra pessoa. Ou seja, não era inferioridade, mas falta de oportunidade.
Isso tudo parece bastante óbvio, não é mesmo? É inacreditável imaginar que na época de Frederick Douglas isso soou revolucionário....
A observação de que quanto mais religioso (ou que fingisse ser religioso) fosse o senhor, mais perverso e cruel seria ele, é bastante curiosa (na falta de um adjetivo mais adequado). E não se trata de uma conjectura ou mera opinião, mas um fato, uma experiência de vida, uma dor sentida na própria pele (literalmente) pelo autor. E, conforme "reza" (piada pronta né?) a sabedoria popular, contra fatos, não há argumentos. O que significa uma contestação como essa? Passa a impressão de que a religião (ou a pretensa religião) era utilizada para justificar o injustificável: a barbárie. Existe uma palavra para isso: hipocrisia. Viviam de aparência. Frequentavam as igrejas regularmente, ocupando os púlpitos e posições de destaque, proferiam orações fervorosas, sempre rezando em voz alta. Mas, ao chegar em casa, destituíam os escravos de toda sua dignidade.
Douglas faz questão de esclarecer que não é, de maneira alguma, antirreligioso. Ao contrário, declara-se um fiel seguidor de Cristo e demonstra relativo conhecimento bíblico. Apenas diferencia o cristianismo puro e divino, daquele da terra, praticado pelos senhores de escravos que utilizam a região para encobrir ou até mesmo justificar seus crimes. É a imagem do sepulcro caiado que esconde sua imundice nunca foi tão bem aplicada. Um sepulcro caiado é um túmulo com uma bela lápide; mas do que isso adianta se o que ele guarda é apenas imundice. Se o que você parece ser não condiz com o que realmente é, você está vivendo em incoerência.
Vejam alguns versículos citado diretamente pelo autor em seu texto: "Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície. Assim são vocês: por fora parecem justos ao povo, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e maldade" (Mt 23, 27-28).
Ensinar um escravizado a ler e escrever era contra a lei, além de ser considerado perigoso. Os senhores sabiam que isso abriria os olhos dessas pessoas para a sua terrível condição. E, assim, passariam a sonhar e a lutar pela liberdade. E eles tinham razão. Foi o que bastou para Frederick Douglas tomasse consciência do horror de sua condição e passasse a lutar pela liberdade, com todas as armas disponíveis.
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Filino 15/07/2021

Uma obra pertinente, pungente e atemporal
Frederick Douglass apresenta ao leitor um relato pleno de sofrimentos, no qual a condição dos negros é apresentada em toda sua crueldade. A "terra dos livres e o lar dos bravos" promovia (e incentivava), em seus próprios domínios, um tratamento animalesco aos seus semelhantes de pele escura. Não há como alguém passar incólume pelos episódios relatados pelo autor em seu curto (e riquíssimo) relato da própria vida.

Complementam a obra três outros escritos, originariamente elaborados para circunstâncias diversas. Nesses textos, de modo mais incisivo, Douglass desvela a hipocrisia dos religiosos, assinalando como aqueles que se diziam cristãos (e até mesmo anunciavam o Evangelho no púlpito) tratavam os negros. É de se ressaltar os argumentos simples mas poderosos que o autor utiliza para desmontar o racismo norte-americano: demonstra como tal prática não é nada arraigado no ser humano (e cita justificativas pertinentes para defender isso), bem como atesta que o problema não é tanto a cor da pele, mas a posição que um negro venha a ocupar numa sociedade: se é um serviçal, nada há contra ele; todavia, se demonstra "qualidades" semelhantes a um indivíduo refinado e de cor branca, é desprezado.

Trata-se de um livro importantíssimo sobre a questão racial. A hipocrisia desvelada por Douglass (em seus diversos aspectos: político, religioso etc.), tal como ele observava nos Estados Unidos da América, são valiosos ainda hoje. Apresentam elementos bastante pertinentes para se refletir acerca desse tipo de discriminação, que infelizmente ainda permeia o nosso tecido social.
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