A formação da classe operária inglesa (V. 1)

A formação da classe operária inglesa (V. 1) E. P. Thompson




Resenhas - A formação da classe operária inglesa (V. 1)


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Joachin 02/12/2012

A porta de acesso para o volume I: A árvore da liberdade (1987) do conjunto de três obras reunidas sob a título de A formação da classe operária é um poema de William Blake, artista inglês desajustado em relação às elites, que no fim do século 18, declarou que “a besta e a prostituta governam desenfreadamente”. Trata-se de uma epigrafe que revela, com um toque de erudição, um pouco das intenções de E. P. Thompson, logo de inicio.

No prefacio, Thompson acerta as contas com os marxistas tradicionais acerca do conceito de classe social e consciência de classe. Mais do que uma estrutura fixa ou uma categoria social limitada a determinismos economicistas, o autor se refere à classe enquanto uma forma de experiência social que estabelece relações fluidas com o tempo histórico.
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Paulo_Duque 14/01/2024

Primeiríssimas origens do movimento operário inglês
Ao invés de esperarmos uma clássica história do movimento operário partindo da Revolução Industrial e de suas consequências sobre a vida dos trabalhadores, o autor nos apresenta uma história totalmente diferente. Acaba se baseando nas tradições religiosas dissidentes e nas sociedades que lutavam por liberdade nos anos de 1790.
O mais interessante nesse livro para mim foi observar os detalhes historiográficos que o autor vai apresentando em sua narrativa e as relações que vai fazendo com o movimento operário do século XIX.
Ao iniciar a leitura do texto, esperava que fosse enfadonha e academicista, mas encontrei uma leitura fluida e detalhista. A narrativa me envolveu e as relações com o movimento operário futuro foi o que mais me atraiu.
A melhor parte do livro foi o prefácio, em que o autor traz sua concepção de classe social como relação e experiência, muito diferente das abordagens marxistas estruturalistas tradicionais.

De fato, todo mundo esperava que uma história da classe operária na Inglaterra tivesse relacionada ao movimento cartista, de 1832. Thompson volta mais pra trás e remete a 1790, que é quando pela primeira vez, os trabalhadores ingleses começam a expressar uma linguagem própria para se definir como classe. Mas essa linguagem não era na forma de movimento social ou sindicato. Ela era cruzada por várias outras tradições, inclusive religiosas. Ou seja, dialogava com o que eles viviam.
Em outras palavras, a classe não nasceu pronta, ela foi se tornando agente do seu próprio "fazer". Foram os sujeitos que criaram a linguagem de classe e suas formas de expressão e consciência específicas (como sindicato, partido, movimento etc). E isso tudo remete a um termo: EXPERIÊNCIA!
O constitutivo da classe trabalhadora não foram as relações de produção ou as forças produtivas no abstrato, mas sim como os sujeitos entendiam isso a partir do que viviam. Entendiam não porque um teórico tirou da cartola a teoria que ia salvá-los, mas porque eles viviam e sentiam o capitalismo em sua origem. E porque percebiam que sua linguagem, seus costumes, seus hábitos, não eram suficientes para dar explicação para aquele novo tipo de exploração que vivenciavam.
Thompson olha para como os trabalhadores enxergaram suas próprias experiências na época e, mais do que positivo ou negativo, eles ressignificaram todo o seu mundo. É, portanto, na experiência vivida que as relações produtivas se concretizam, tanto quanto é na experiência vivida que o amor se concretiza. A luta de classes, dessa forma, não é um chamado de batalha, em que os exércitos se perfilam um de frente para o outro, mas sim, luta constante, ora aberta, ora velada, onde os sujeitos realizam a grande síntese marxiana.
O significado político desse livro é quw qualquer projeto político invariavelmente precisa estabelecer uma relação dialógica com o que as pessoas vivem, sentem, experimentam. Sem isso, é só abstração, só metafísica e pouco materialismo.
A teoria revolucionária é importante, claro. Mas sem ser dialógica, ela é só abstração, ininteligível na maioria das vezes. É essa ponte entre o vivido e o pensado que as novas linguagens, hábitos e culturas de classe se desenvolvem. (Fernando Pureza)
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João Victor Uzer 07/05/2014

THOMPSON,Edward P. Plantando a Árvore da Liberdade. In: A Formação da Classe Operária Inglesa. Vol 1. São Paulo. Paz e Terra, pag. 158 – 204
E. P. Thompson inicia esta segunda parte do ultimo capitulo exemplificando uma das ações de uma das sociedades descritas na primeira parte. Mais especificamente uma manifestação ocorrida em 26 de outubro de 1795, convocada pela SLC. Thompson afirma que a esta altura, alguns intelectuais como Thelwall – personagem que será mais explorado com o decorrer do texto – acreditavam que reunir uma única grande associação política. Outra diferença apontada nesta manifestação de outubro de 95 era de que, desta vez, o “protesto” foi dirigido diretamente ao Rei .
Citando uma frase de John Thelwall ... “A corrupção Parlamentar, como um redemoinho espumante, suga o fruto de todo os nossos esforços” E.P. Thompson começa a dissertar sobre a promulgação das Duas Leis.
Estas duas leis, foram promulgadas por Pitt – então primeiro ministro inglês – em resposta ao ato ocorrido contra o rei. A carruagem real foi alvo de um pedregulho que lhe quebrara a janela, fazendo o rei discursar perplexo na câmara dos lords: “atiraram em mim”.
As ditas leis eram: 1) seria acusado de traição àquele que incitasse o povo contra o rei, a constituição ou o senado. 2) ficou proibido a ocorrência de encontros de mais de cinquenta pessoas sem uma notificação a algum magistério, e este teria plenos poderes de para interromper os discursos e efetuar prisões. Pitt ainda acrescentou que “o desrespeito às ordens do magistrado era pássivel de pena de morte”.
Referente à aplicação das leis, Thompson afirma que, embora tivessem certo êxito, “Mais latiam que mordiam”, só sendo aplicada uma pena de morte, mesmo com a suspensão do Habeas Corpus, pouca foram presos sem julgamentos. Seu êxito se deu sobre tudo para afastar alguns membros, como o senhor na cidade de Chatham, que fora convidado a se retirar por ter questionado se a reunião não ultrapassava a marca de cinquenta pessoas estipulada pela lei .
O autor continua relatando que a SLC virou-se para dentro, entrando em uma fase de dissensão e desintegração em 1796, com a prisão de John Binns, um de seus lideres.
Quanto ao tamanho das sociedades, afirma-se que existe uma grande dificuldade em precisar os números, por que, embora a sociedade anunciasse grandes cifras, estes números eram virtuais, englobando por vezes pessoas que já não participava das reuniões a tempos. Além deste fato, a lei de que as seções deveriam dividir-se quando alcançasse o numero de 45 membro – regra estabelecida após a implementação das Duas Leis – nem sempre era seguida, tendo registros de encontros com 17 membros e outros com 170. Os números eram facilmente manipulados, sejam pelos próprios membros das sociedades em anúncios ou pelos espiões do estado infiltrados nas reuniões.
Um dos pontos cruciais do E.P. Thompson, era a forma como essas sociedades agiam socialmente, ou seja, o que elas faziam para a sociedade. A SLC agia por vezes como uma Associação Educativa dos Trabalhadores, se reunido em casas particulares, ou per vezes em tabernas, ensinando o trabalhador a pensar, a respeitar e a educar os filhos, fazendo-os pensar politicamente. Este era um dos objetivos de Place.
Se vários dos propagandistas mais ativos da sociedade etam intelectuais, a maioria dos comitês dos comitês eram compostos com artesões e comerciantes .
A espionagem era recorrente nas reuniões das sociedades e na vida de seus lideres, ou pelo menos era o que eles acreditavam: “Bastava entrar numa cafeteria e pedir o desjejum, e algum estranho, mas bem-vestido, se sentaria do outro lado do meu reservado” Contou John Binns.
Não por menos, foi por um espião que o primeiro ministro – Fox, na época – soube da participação de marinheiros nas Sociedades, e para evitar as propagandas feitas pela SLC nos portos, propaganda esta que já ocorria – embora negada pela sociedade – o primeiro ministro, procurando efetuar um combate, promulgou mais duas leis que levavam a pena de morte aquele militar que rompesse com a sua promessa para com a pátria fazendo uma promessa ilegal, e que também levasse a mesma pena aquele que fosse acusado aliciar as forças armadas contra o governo.
Então, as sociedades passaram a adotar uma nova constituição para evitar a entrada de espiões.
Quanto à participação das forças armadas, vale ressaltara a afirmação de Thompson de que é errôneo afirmar que os marinheiros não possuíam interessem políticos, que tivessem pouca noção dos acontecimentos . E afirma ainda que em Manchester, os ideais da Sociedade tiveram sucesso em penetrar no exercito.
Um medo, e esperança para outros, recorrente era a possibilidade de uma invasão francesa a fim de derrubar o governo vigente. Em 1797, o medo era tão grande que formou-se associações legalistas armadas e corpo de voluntários, tanto contra as sociedades quanto contra a França, afim de combater uma possível invasão. Este medo também estava presente dentre os intelectuais.
Thomas Evans – um dos lideres da SLC juntamente com John Binns – afirmou que o governo francês trairia a causa revolucionária e fez a proposta de que as Sociedades se unissem aos voluntários. Havia um medo de que a França subjulgasse a Inglaterra, tornando-a apenas uma província. Mesmo dentre os favoráveis a invasão francesa rodava uma cartilha onde apresentava-se cinco pontos que a França deveria obedecer após derrubar o governo britânico, eram eles: 1) que as ilhas britânicas formariam “republicas distintas.” 2) Que caberia a cada um escolher sua forma de governo. 3) Todos que se unissem aos invasores deveriam receber armas. 4) Que não se pagaria nenhum tributo alem dos necessários para cobrir os gastos da invasão e 5) Que a França limitaria suas aquisições aos seus navios e possessões ultramarinas dela tomados pelos aliados.
Mas o perigo da invasão Francesa despertou uma verdadeira onda nacionalista, e embora Place destacasse uma cisão no movimento, apontando revolucionários “que viviam num mundo taberneiro de fantasia paranoica” e revolucionários sérios e compromissados, como o grupo democrata londrino que não via nenhum esperança se não uma deposição com ações violentas.

Gibert Wakefield – um excêntrico estudioso clássico, como define o autor – afirmou que os trabalhadores em si pouco tinha a perder com a invasão, já que o povo já vivia em uma miséria lamentável.
Com o passar dos anos, a luta pouco evoluindo e a repressão elevada, Thompson percebeu uma desilusão crescente por dentre os intelectuais do movimento.
John Binns já não conseguia conceber a ideia de um único movimento nacional, como havia idealizado anos antes. Thelwall se retirou, renunciando a sua vida publica indo viver no interior, embora continuasse a ser vigiado por espiões, como ele mesmo dizia. Por outro lado, os trabalhadores que já se encontravam sem uma liderança nacional – uma vez que estes líderes haviam se retirado, como Thelwall, estavam desacreditados, como Binns, ou simplesmente estavam presos – lutavam para manter alguma organização.
Observou-se uma certa falência no movimento no meado dos anos 90. Já havia dificuldade para efetuar as reuniões, já que alguns taberneiros expulsavam os participantes interrompendo as sessões alegando que os revolucionários estariam promovendo uma baderna, alem do fato de que as cédulas para as votações e afins se toraram cada vez mais escassas, uma vez que os impressores das cidades começaram a se negar a trabalhar para as sociedades temendo o governo. No entanto, Thompson deixa claro que este fato não elimina o movimento, nem mesmo o enfraquece, mas inaugura uma nova vertente.
O autor afirma que este fato se apresentava como um novo começo, uma vez que o pânico contra-revolucionário se apresentava em todas as camadas sociais. Houve um verdadeiro apartheid dentre as classes, a aliança entre Burgueses industriais com um proletário em formação – aliança cuja Thompson alega ser “natural” – se rompeu logo após se formar. Este foi o fator, segundo o autor, decisivo para a não existência de uma revolução na Inglaterra. Com o rompimento desta “aliança natural” não houve uma classe bem distinta e sim uma separação, o que dificultou – para não dizer, impossibilitou – a existência de uma só união nacional como sonhara Thelwall e Binns anteriormente.
Com a desilusão dos líderes, o movimento mostrou uma carência dos recursos intelectuais e dos homens das classes mais educadas da sociedade. Thewall teria afirmado ao visitar Sheffield em 1976 “... É um corpo sem cabeça, infelizmente não tem um líder”, mesmo que pessoas de propriedade e influencia estivessem no movimento “ninguém tinha coragem de assumir seu partido” assim, embora Thelwall afirmasse que havia uma consciência política elevada em Sheffield, à falta de um líder condenava o movimento.
Embora o movimento tenha sido derrotado, Thompson delega a ele uma importância elevada devido ao seu legado, todo este processo revolucionário teria levado uma ampla politização para as classes mais baixas da sociedade. Tradições encarnadas em personagens, muitos estes que foram para a America. Alem de uma reminiscência deste espírito contestador, uma vez que em algumas cidades alguns comerciantes e artesãos continuaram a se reunir.
Thompson chega a afirmar em um amadurecimento de uma “consciência operária” proporcionada pelos anos de repressão. Além de um forte apelo pela democracia em todas as camadas da sociedade, as revoltas deixaram como legado uma nova afirmação dos diretos dos homens e um enriquecimento das tradições da fraternidade e da liberdade.
Assim, a história dos revoltosos se demonstrou – como afirma o autor – uma história da derrota dos reformadores da classe média e uma rápida orientação para a esquerda dos radicais plebeus. Os resquícios puderam ser sentidos por até cinquenta anos depois.
A revolução sonhada pelos idealizadores intelectuais do movimento nunca ocorreu de fato, mas uma espécie de revolução ocorreu, um revolução na forma de pensar política, a agitação formada nos anos das revoltas, difundiu o pensamento revolucionário por quase toda a Inglaterra de uma forma ligeira, e principalmente, este novo pensar político derrubou o velho tabu sobre as agitações e o numero limitado de membros. E a reedição do livro de Place “O direito dos homens” fora reeditado e lançado pouco após a derrota dos revolucionários, o que demonstra presença de uma consciência do ocorrido.
Fato que comprova a afirmação ocorreu em Nottingham, em uma placa, colada em um poste lia-se: ”Todos os Vagabundos serão apreendidos e punidos por lei” então, escreveu-se “Tiranos” em baixo da palavra “Vagabundos” e – conforme afirmou o legalista que relatou o fato – “ninguém se incomodou em tira-la”.

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