Pavozzo 13/01/2024
Colecionando provas e conquistando corações.
Se há uma palavra para qual eu tivesse que sintetizar "O Colecionador de Ossos", primeiro livro da série mais famosa do escritor americano Jeffery Deaver, seria "personalidade" - e aqui, há muita, concentrada principalmente na figura do criminalista Lincoln Rhyme.
Aposentado devido a um acidente de trabalho que o deixou tetraplégico, Lincoln é um daqueles sujeitos rabugentos, de língua afiada, mas com bom coração e que todo mundo ama. Seu cuidador, o jovem Thom, não fica por baixo, e as interações entre os dois servem para dar uma graça, um certo alívio a uma história marcada por tantas atrocidades.
Tudo começa com um seqüestro de dois passageiros de um táxi, recém-chegados à Nova Iorque, que culmina no desaparecimento de um e na descoberta do corpo do outro enterrado próximo a uma ferrovia. Sem qualquer vestígio do paradeiro do assassino, com apenas um punhado de pistas que parecem ter sido deixadas na cena do crime propositadamente, e com um grande evento das Nações Unidas prestes a acontecer na cidade, o Departamento de Polícia de Nova Iorque pede - quase implora - pela ajuda de Lincoln, conhecido pelo seu talento lendário de desvendar pistas, para solucionar este mistério. Para isso, a equipe vai contar com a participação de Amélia Sachs, policial da radiopatrulha, mulher decidida e de temperamento forte, que sem querer se vê envolvida neste caso e será uma peça fundamental para ajudar no trabalho do criminalista: ela será os olhos, os braços e as pernas de Lincoln.
Falando em cenas de crime, aqui elas tem um papel crucial. É uma profusão de detalhes - desde a coleta de provas vestigiais, a análise laboratorial e as conclusões tiradas pelo protagonista - que confere à história, ao mesmo tempo, riqueza e um pouco de fastio. Algumas dessas conclusões podem parecer um tanto "mirabolantes" - como justificar que o fato de se ter encontrado um pouco de alisador de cabelo em uma das cenas de crime significa que o próximo assassinato vai ocorrer no bairro mais setentrional da cidade?
Mas o que incomoda mesmo são as mudanças súbitas de cena ao longo de todos os capítulos e que, longe de conferirem algum dinamismo à leitura, confundiram-me a ponto de ter que retornar algumas vezes para conseguir entender o que estava acontecendo.
No entanto, pode-se dizer que a história é bem amarrada; praticamente não há acontecimentos gratuitos e as reviravoltas - sim, no plural - são surpreendentes. Há pistas falsas para o leitor, ou seja, Deaver lhe sugere sutilmente algumas teorias para no final lhe pegar de calças curtas.
É interessante que esta não é só a história de um policial atrás de um assassino, mas também a história de um homem que consegue encontrar uma nova razão de viver depois que a vida lhe deu todos os motivos para desistir.
PS: Deixo aqui uma nota de descontentamento com essa tradução da BestBolso. Há diversas imprecisões, e cenas que foram difíceis de se imaginar com clareza; mas uma vez consultado o original, pude atestar que o problema não estava no autor.