Resenhas - Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico

isadorasx 22/05/2021

Em "Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico", os autores procuraram demonstrar através de diversos artigos uma definição mais aprofundada do que é o neoliberalismo e como esta doutrina é responsável por grande parte dos problemas encontrados na sociedade do século XXI. Mais do que uma uma teoria econômica, como é popularmente conhecido, o neoliberalismo consiste numa racionalidade política específica que requer que a lógica do capital seja imposta em todas as esferas, de maneira a eliminar subjetividades e produzir seu próprio discurso acerca do que é aceitável socialmente, a fim de definir uma norma das existências. Para isso, depende da produção de sujeitos que entendam como naturais os sofrimentos sociais que garantem sua hegemonia, logo, há uma mudança na maneira de se entender o sofrimento em si. Com um discurso híbrido entre psicologia e economia, houve uma reconfiguração do sofrimento psíquico, e, assim, o sujeito foi coagido a internalizar um controle de si mesmo a partir de critérios observados no universo de administração de empresas, ou seja, possui a falsa liberdade de ser um empreendedor de si mesmo, devendo otimizar o potencial de todos seus atributos valorizáveis, e, caso falhe, a responsabilidade de seu fracasso é inteiramente sua. Repleto de angústia e sentimentos de autoculpabilização, o indivíduo tem agora seu sofrimento tirado de seu contexto social e patologizado pela psiquiatria, que junto com a indústria farmacêutica e com o neoliberalismo, lucra com os inúmeros diagnósticos e suas respectivas medicações indicadas. O livro é muito completo e extremamente informativo, algumas vezes tive dificuldade em entender alguns conceitos, mas no geral os argumentos foram expostos de maneira clara e coerente. A leitura foi extremamente produtiva para mim, não fazia ideia de vários pontos relatados na obra e sinto que aprendi muito em poucas páginas. Recomendo ler e ir fazendo anotações, assim é possível absorver melhor os aprendizados.

Ana 15/01/2022

Necessário para entendermos o Brasil e o mundo de hoje....
Esse livro é o resultado de anos de estudos e pesquisas produzido pelo Latesfip, laboratório interunidades de teoria social, filosofia e psicanalise. É um conjunto de artigos feitos por diversos estudantes e pesquisadores. Foi organizado pelo filósofo Vladimir Safatle, o Psicanalista Cristian Dunker e o professor Nelson da Silva Junior.
Esse livro faz uma ligação direta e intrínseca entre as práticas neoliberais e as doenças e transtornos mentais da atualidade.
Nesse âmbito é importante esclarecer o que é o neoliberalismo e para isso devemos esclarecer tbm o que é o liberalismo. Tendo em vista que o neoliberalismo é um novo liberalismo. A sua Evolução, o seu desenvolvimento.
Liberalismo de uma forma ampla é uma doutrina política e econômica que valoriza as liberdades em todas esferas. Dessa forma, o estado deve intervir o mínimo possível para deixar a livre concorrência do mercado ou seja, da economia.
Sendo assim o neoliberalismo é a mutação dessa organização. Porém, de uma forma muito mais contundente.
Se com o capitalismo keynesiano era fundamental manter a saúde física e emocional dos trabalhadores para que eles continuassem trabalhando e produzindo. Nesse novo modelo econômico é imprescindível deixar o trabalhador doente, Incentivar a competitividade, enfraquecer quando não destruir laços empáticos entre as pessoas, ridicularizar atos solidários, criar um clima de disputa. Eu não vejo mais o outro como um colega que sofre as mesmas opressões que eu. Eu enxergo no outro um aniversário, um inimigo. Por isso uma das práticas mais comuns nesse cenário é o ataque a sindicatos, ataque a professores, reformas trabalhistas, Diminuição da seguridade social, estímulo a autogestão.
Agora o individuo é livre para ser seu patrão e se não consegue sobreviver, a culpa é totalmente dele mesmo. Daí um dos princípios fundamentais do neoliberalismo ser a meritocracia. Ele se esforça, ele tem que ser guerreiro, ele tem que dar conta de trabalhar em Condições sub humanas, em subempregos, a uberizaçao e precarização do trabalho faz com que surjam diversas doenças mentais entre elas a depressão. Pois quanto mais ele tenta, mais fica a Sensação de fracasso. Nenhum esforço parece ser suficiente, é sempre exigido mais. Mais dedicação, mais competência, mais inteligência. É necessário produzir sempre mais. Esse livro defende a idéia de que o neoliberalismo muito mais do que ser um sistema econômico, filosófico e político, é também social. É um formador de subjetividades. Ou seja, ele molda como as pessoas pensam, vivem, veem o mundo, a sociedade e a si mesmos. Um produtor de crenças e valores. Um dos grandes nomes do Neoliberalismo, a primeira ministra do Reino Unido de 1979 até 1990 Margaret Thatcher disse que a economia era apenas o método, o objetivo é mudar os Corações e as mentes das pessoas.
Dessa forma não é coincidência que a epidemia de depressão e transtornos mentais como ansiedade, pânico, borderline, fobia social entre outras apareceu concomitantemente com o avanço do neoliberalismo pelo mundo. O livro é excelente e extremamente necessário para entendermos em que horizonte o Brasil e o mundo se encontra atualmente.

Erica 26/04/2022

Necessário
Apesar da complexidade da leitura e do incômodo que ela causa, é um livro que todo mundo deveria conhecer.

Gabriel 31/12/2023

É um livro muito bom que permite ao leitor a percepção de como o neoliberalismo atua de forma a propiciar a extração de proveito (lucro e produtividade também) a partir da gestão do sofrimento, tudo a partir de um prisma psicanalítico.

Caio380 23/08/2021

Livro-Diagnóstico
O livro é um diagnóstico clinico, político, social e econômico do nosso tempo. Da nossa crise. Gostei e aprendi muito com as artigos presentes na obra. Consegui fazer várias conexões e relações com a Sociologia e Filosofia. De modo geral, as ciências humanas do Brasil ganham muito com o trabalho de pesquisa desenvolvido pelo Laboratório Interunidades de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise (LATESFIP). O sofrimento é tema central dos setes artigos que compõem o livros. Particularmente, gostei do texto do Christian Dunker "A hipótese depressiva" que nos ensina a olhar para a depressão a partir da gramatica social do sujeito depressivo. Descrevendo e mostrando, como a depressão forma uma casal típico-ideal com o neoliberalismo. Assim, o capitalismo é uma fábrica de produção em massa de sofrimentos psíquicos que possuem uma origem social comum, o modo de produção e suas relações de trabalho e dominação. Vale a pena enfrentar o livro, acredito que os leitores e leitoras de outras áreas encontraram alguma dificuldade com as citações de autores e obras. Mas, parte do esforço de sistematização do conhecimento científico passo por esse decoro ético, forma e necessário respeito as discussões teóricas. O que não é necessariamente um problema. Uma coisa me incomodou: feito o diagnostico. Qual são as possíveis alternativas ao sofrimento?

carolmc_ 06/07/2022

Leitura difícil
Como leiga, achei uma leitura difícil, mas consegui entender a profundidade da crítica. Nem tudo se resolve com terapia, nem tudo é patologia, o meio importa muito para o sofrimento psíquico, com cobranças desumanas e pouco retorno.

Vinoca 25/01/2023

Necessário para entendermos o que acontece hoje no mundo
A obra explícita como o neoliberalismo atua em nossa sociedade, fomentando decisões egóicas dos cidadãos de uma sociedade capitalista que tem como objetivo apenas a conquista e o acúmulo de bens materiais, pois esses são os únicos que podem significar uma superação do sofrimento que experienciamos em nossa existência. O sofrimento, denotado na obra, é um demarcador de uma "falha" do sujeito que não empreendeu direito, não colaborou como deveria, assim o trabalhador sofre demasiadamente, interpretando que a miséria que vivencia é obra dele mesmo, por conta das supostas escolhas livres que tomou, desviando o foco do verdadeiro problema, o problema sistêmico que permeia sua vida e tenta lucrar com ele de todos os modos, até mesmo quando ele sofre, ofertando, no sentido mercantil da palavra, salvações divinas e remédios que talvez ele não precise. Desse modo, o sujeito se perde do mundo onde habita com os demais, se tornando um narcisista sofredor que, algumas vezes, pode ter reações violentas com os outros indivíduos da sociedade, não violentando em hipótese alguma, o neoliberalismo, seu algoz vil.

Giovanna 23/02/2022

Necessário!
Um livro ótimo, bem detalhado, coerente e com muita informação necessária! Não indicaria para leigos pela leitura técnica, mas se for do interesse vale a pena ir pesquisando termos aqui e acolá pra mergulhar nessa obra!

CharlesSouto 14/07/2023

Uma obra profícua.

Convite a reflexão e entendimento para além da teoria do Neoliberalismo mas também como forma de vida e controle.

Debate atual.

marina510 26/11/2022

muito bom, ótimo livro introdutório pelas reflexões iniciais que propõe e como abrange vários tópicos, relacionando-os: passando do liberalismo para o neoliberalismo, a crítica aos principais teóricos do tema, a evolução do pensamento e tratamento de psicopatologias, mídia, dsm, etc etc etc. super vale a leitura

Gessica 04/05/2023

Essa obra possui bastante termos técnicos, principalmente na parte da psicanálise/psiquiatra, então a leitura tende a ser mais complexa pela utilização desse vocabulário.
Mas no geral, é possível compreender a mensagem que os autores trazem. O neoliberalismo se constituiu uma doutrina econômica e política, que entranhou nos modos de vida da sociedade através de discursos de cunho moral e subjetivo, a fim de persuadir os indivíduos de que estes são responsáveis pelo seu próprio fracasso ou sucesso, ignorando todo o contexto social e o cenário político em que estas pessoas vivem, trazendo a concepção de que cada pessoa é um sujeito-empresa. Daí o discurso exacerbado do empreendedorismo, que se naturaliza a ponto de hoje tudo ser visto como sinônimo de mercado e objeto de lucro: a saúde, a educação, a própria segurança, e até as coisas particulares da vida.
O discurso neoliberal, as modificações de palavras e vocabulários foram elementos chave para a transformação da mentalidade que hoje domina o pensamento e é a causa de comportamentos como a competição entre as pessoas, seja no ambiente profissional ou pessoal (a concepção de que é sempre preciso ser melhor que os outros), o individualismo extremo, ver se a si mesmo como um empreendedor de si, sensação constante de ser deixado para trás, a pressão pelo sucesso e pelo acúmulo de riqueza, produtividade em tempo integral, sendo responsáveis pelo aumento, nos últimos anos, de doenças mentais, como a depressão e a ansiedade.

Jess.Carmo 01/05/2021

Morde e assopra
É um excelente diagnóstico do neoliberalismo, com exposições interessantes de como as práticas psis se atrelaram a ele; mas quando o assunto é a psicanálise, os autores caem em um jogo de morde e assopra desestimulante.

Encontramos na obra considerações acerca da tacanha tentativa das categorias clínicas da psiquiatria de se afirmarem neutras, como se elas não dependessem de valores sociais externos à clínica.

A crítica ao individualismo, coroamento do modelo neoliberal, também está presente em todos os textos. Aqui a noção de liberdade neoliberal é mister para o diagnóstico feito pelos autores.

Entretanto, todas as críticas que os autores fazem à psiquiatria, coach e psicologia também cairiam como uma luva para a psicanálise. Por exemplo, pouco vemos psicanalistas discutindo sobre os valores que estão imbricados em suas categorias clínicas. Também há uma presente individualização da clínica psicanalítica. Sem falar no tabu que se tornou uma eventual proposta de regulamentação da prática analítica. Os autores tocam em algum desses pontos rapidamente, mas quase sempre se referindo à elite ipeísta brasileira dos anos 60, apagando a presença desses fatores na formação contemporânea do analista. A única crítica mais contundente é feita à famosa frase de Lacan de que o analista "não se autoriza senão de si mesmo". Se esse dito pretendia desafiar os poderes institucionais dos psicanalistas didatas, "50 anos depois, esse mesmo dito poderia ser usado como epígrafe do psicanalista neoliberal, autoempreendedor de si mesmo e de sua própria afirmação" (p.229).

O texto "A hipótese depressiva" está sem revisão. Os 3 primeiros textos são de longe os melhores da obra. O último texto faz, em diversos momentos, uma psicologização banal da sociedade brasileira. Confesso que achei os tópicos acerca de Hélio Pellegrino descartáveis.


site: https://www.instagram.com/carmojess/

Larissa.Cifarelli 11/05/2021

Importantíssimo
O livro é composto por um apanhado de artigos. Cada artigo se conecta pelo estudo do neoliberalismo e sua influência no contexto psíquico. Livro importantíssimo com reflexões históricas que nos trazem até os dias atuais.

Rodrigo 21/01/2024

Neoliberalismo
O livro "Neoliberalismo Como Gestão do Sofrimento Psíquico" de Vladimir Safatle investiga as relações entre neoliberalismo e saúde mental. Safatle argumenta que as políticas econômicas neoliberais afetam negativamente o bem-estar psicológico ao promoverem competitividade extrema e individualismo. Ele explora as implicações emocionais dessas dinâmicas sociais, oferecendo uma análise crítica das consequências psíquicas do neoliberalismo.

Fabim.Silva 01/08/2022

Criticismo abrangente de políticas neoliberais
Queria ter feito essa leitura ainda em época de graduação. Os estudos abordados conseguem trazer distintas análise e perspectivas dos males do capitalismo contemporâneo, sobretudo à área de saúde mental. Alguns pontos discutidos já possuem uma certa notoriedade, porém, o livro vai além em ilustrar diferentes desdobramentos que insidiosamente delimitam nosso sofrimento psíquico. Entende-se que grande parte do mal estar que sentimos no cotidiano é deliberamente estimulado e explorado. O exercício da liberdade é, paradoxalmente, a submissão latente as recentes normas sociais balizadas pelo predatismo econômico. A proposta do livro era realmente a que eu imaginava, o olhar desconfiado à realidade prática reafirma as ideias e problemas apontados pelos autores, a minha avaliação se amplia na medida em que a obra trouxe aquilo que eu estava buscando, além de expandir e complementar o criticismo social em escassez, característico, sobretudo, nos (des)governos recentes.