Aione 30/07/2021Espere até me ver de coroa é o romance de estreia de Leah Johnson. Publicado no Brasil pela Globo Alt e traduzido pela escritora Solaine Chioro, foi o primeiro livro jovem adulto a ter sido escolhido para o Clube de Leitura da Reese Whiterspoon, além de ter sido indicado a diversos prêmios.
Liz é uma jovem negra e pobre estudando em um colégio predominantemente frequentado por alunos brancos e ricos. Assim, ela faz de tudo para não chamar a atenção. Porém, ao não conseguir uma bolsa de estudos para a faculdade de seus sonhos, ela se vê obrigada a se candidatar como Rainha do Baile — que premia os vencedores com a bolsa que ela precisa.
Espere até me ver de coroa foi aquele livro delicioso de se ler. Extremamente divertido, me peguei dando risada em diversas passagens. O humor de Leah Johnson é ótimo e foi muito bem adaptado para o português na tradução. Também, como um bom livro YA, é repleto de referências da cultura pop, e gostei muito da caracterização de Liz como jovem negra, inclusive por suas referências. Como o livro é narrado em primeira pessoa, há uma fluidez muito grande na leitura, além de uma proximidade maior com a protagonista.
Mas, para além da diversão, Espere até me ver de coroa é muito sensível na abordagem de seus diversos temas, para além das questões típicas da confusa fase da adolescência: saúde mental, já que Liz é ansiosa; racismo; homofobia. É emocionante ver o empoderamento de Liz e sua compreensão de que ela tem todo direito do mundo de ocupar os espaços que deseja. Houve muita sagacidade de Leah Johnson em demonstrar o quanto espaços brancos e heteronormativos não buscam incluir a diversidade, mas forçar quem é diferente desse padrão a se encaixar nele.
Além de temáticas relevantes e uma representatividade essencial, Espere até me ver de coroa entrega um romance delicioso, daqueles de se encantar pelas personagens e torcer por seu final feliz; uma dinâmica muito sincera sobre a complexidade das amizades, com personagens que, mesmo errando, não necessariamente são pessoas ou amigos ruins; e um quadro familiar que nos deixa, no mínimo, com quentinho no peito. A Aione adolescente, mesmo que com uma vivência completamente diferente, se identificou com Liz por sua preocupação em não querer levar problemas extras para casa, procurando resolver sozinha aspectos que não necessariamente precisariam ser resolvidos por ela. Leah Johnson insere, também, a questão da anemia falciforme de maneira natural na narrativa, mesmo que não seja uma temática aprofundada.
Em linhas gerais, Espere até me ver de coroa me proporcionou uma leitura deliciosa, com sorrisos do começo ao fim e momentos de lágrimas nos olhos. Liz é uma protagonista incrível e poderosa, capaz de servir de exemplo para muitas jovens que precisam de alguém como ela em quem se espelharem. E, para aquelas pessoas mais velhas, que não tiveram a mesma representatividade quando mais novas, é — no mínimo — um afago no peito.
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