Mateus 09/01/2021
Aquele clássico para ler em um dia
“A Ilha das Almas Selvagens”, de H. G. Wells, integra a lista de livros clássicos curtos e, à primeira vista, bastante simples, composta por várias obras como “Frankenstein”, de Mary Shelley, e “O Médico e o Monstro”, de Robert Louis Stevenson. Mas assim como esses dois exemplos – essenciais em qualquer biblioteca –, Wells tem muito a apresentar ao leitor.
O livro traz as aventuras de Edward Prendick, que após sobreviver a um naufrágio, vai parar em uma ilha isolada, onde conhece o enigmático Dr. Moreau e seu ajudante, Montgomery. Ao fazer cirurgias em animais das mais variadas espécies, Dr. Moreau é capaz de transformá-los em seres parecidos com humanos, apesar de tenderem mais à bestialidade. Essas criaturas, meio humanas, meio animais, são criadas às dezenas por Dr. Moreau e passam a viver na ilha, representando um grande perigo para Prendick.
A narrativa criada por Wells, assim como sua escrita, podem até não surpreender muito à primeira vista, mas é inegável sua contribuição à literatura. Afinal, “A Ilha das Almas Selvagens” é considerado por muitos como um dos primeiros romances de ficção científica, e isso em uma época em que o termo nem havia sido criado.
É importante destacar que, ao falar em ficção científica, não me refiro a histórias que se passam no espaço e repletas de naves e alienígenas, como é geralmente associada hoje em dia. Na verdade, o gênero em si vai muito além, trazendo narrativas que mesclam o futuro, a ciência e a tecnologia – exatamente o que temos aqui.
Na obra, vemos um homem brincando de Deus e criando novos seres à revelia, a partir de um processo real conhecido como “vivissecção”, mas que aqui é tratado de forma totalmente imaginativa. Em sua busca por criar um humano-animal perfeito, Dr. Moreau não se importa em causar uma enorme dor física a seus experimentos e nem tampouco provocar a maior dor vivenciada dia a dia pelos seres humanos: a dor da existência (que, dependendo do ponto de vista, pode ser considerada maior do que a dor física).
Em pleno 2021, “A Ilha das Almas Selvagens” não vai surpreender muito o leitor se ele considerá-lo apenas como uma obra normal entre tantas outras. Isso porque, como você deve ter percebido, essa mesma história e esses mesmos questionamentos já foram abordados em centenas de outras obras. Por isso, é importante ter a importância histórica do livro em mente durante a leitura e lembrar que, sem H. G. Wells, esse tipo de narrativa poderia jamais existir.
Para quem tem dúvidas quanto ao título do livro, a tradução literal do inglês seria “A Ilha do Dr. Moreau”. No entanto, quando ele foi lançado no Brasil, em 1935 (com tradução de Monteiro Lobato), acabou ganhando o mesmo título da adaptação cinematográfica, “A Ilha das Almas Selvagens”, lançado em 1932.
Em relação à edição do livro que tenho em mãos, é bonita e foi muito bem feita pela editora Bandeirola, tendo sido utilizado o mesmo texto traduzido por Monteiro Lobato. Entendo o saudosismo da editora por utilizar o mesmo texto da década de 1930 (não é à toa que a obra faz parte da coleção “Clássicos Vintage”), mas é uma pena não terem feito uma nova tradução, já que o texto peca em alguns aspectos típicos da época em que foi lançado originalmente (como na construção de frases e, especialmente, nos diálogos).