Tornar-se Negro

Tornar-se Negro Neusa Santos Souza




Resenhas - Tornar-se Negro


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hirna 09/01/2022

"[...] Como funcionamos nele, e como ele funciona em nós."
Um livro fundamental para se entender o mínimo sobre como as questões de raça não são nada óbvias na prática, por mais que muitas vezes pareçam, é uma questão de tornar-se mesmo, e não simplesmente ser, nascer assim. Porém abraçar cada ponto que isso envolve, principalmente os mais difíceis e dolorosos, ou seja, a maior parte do peso que isso possui dentro da nossa sociedade.

É igual aquela figurinha "o sistema é fo*a" ??
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Avyla 12/10/2023

Caramba
Simplesmente uma obra excelente.
O foco principal da autora é fazer um nexo entre a ascensão social do negro e a forma como ele se percebe.
A autora utiliza o método do estudo de caso com técnicas de história de vida. Ela coleta 10 histórias de pessoas negras em ascensão social.
Neusa, utiliza essas histórias e percebe como se constrói o Ego nesses indivíduos, que se caracteriza pela negação de si mesmo enquanto pessoa negra e desejo de ser igual ao branco.
A autora foi precursora nos estudos sobre a questão racial na psicologia e uma marcante psicanalista brasileira por isso, nessa obra Neusa utiliza os conceitos fundamentais proposto por Freud e faz um paralelo com a contrução do Ego pelo sujeito negro.
Para encerrar, como já dizia a grande psicanalista Neusa Santos Souza " ser negro é tornar-se negro"
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Luara 06/09/2021

Ascensão social negra, no Brasil: Um projeto individual e por isso impossível
Esse livro inscreve-se entre as obras pioneiras de psicanálise feitas por negros e em que o objeto assim o seja. A autora, trata-se de uma psiquiatra e psicanalista lacaniana, reconhecida por seus estudos sobre psicose, no qual, era frequentemente convidada para ministrar cursos, palestras e etc (Fontes: entrevista com Lázaro Ramos, para seu programa “Espelho”, disponível no YouTube, 2008; “Um grito no ar", pequeno documentário sobre Neusa, dirigido por Leonardo Souza, 2020; Programa “Falando Nisso, com o professor Christian Dunker, sobre “Psicanálise, sofrimento e racismo”, 2018, menciona a relevância do trabalho da Neusa Santos, para além da temática do racismo e psicanálise). Para quem já viu a emblemática entrevista para o programa “Espelho”, tenho algumas considerações: A autora estava tentando ser coerente com o aprofundamento obtido no campo da psicanálise, afinal, ela era uma mestranda, emergente em sua formação quando elaborou o livro. Como cientistas social em formação, observei que o livro faz muitos usos de uma análise sociológica e antropológica, acrescida a da psicanálise, mas o pressuposto é o da unidade social, o que torna o argumento dela na entrevista, muito legítimo, pois o interesse de uma análise clínica não ambiciona um entendimento geral e social, mas sua inferência está interessada na subjetividade que ainda que tenha impactos profundos pelo social, pois se relaciona com o mesmo, tal como no caso do racismo, sua formação e desenvolvimento é diferente em cada subjetividade, por isso ela insiste em uma análise do racismo caso a caso e questiona o interesse de criar um entendimento comum do que seja o racismo no contexto da ascensão social.

No entanto, mesmo que seu questionamento preze por uma sensatez, sua obra é inegavelmente um referencial para discussão da ascensão social do negro, por isso, legitimo-a e até mais como uma obra sociológica, com os ganhos da luz da psicanálise. Assim como Fanon, ela arriscou na originalidade, quando ela argumenta sobre a metodologia, até cita Freud e a sua criação conceitual através da análise de uma autobiografia, a saber, caso Schreber e o conceito de paranoia. Nesse ponto que a sua rigidez na análise, sobre sua própria obra a movimento para um afastamento, pode ser também fruto de críticas internas dos colegas, quanto a viabilidade da obra, como da ordem da psicanálise (leia-se racismo). Essa é uma reflexão, quase impossível de escapar, sendo negro e compreendendo a instabilidade que se é estar em algum espaço de destaque.

Seu suicídio antes mesmo da entrevista vir a público, 25 anos após a publicação dessa obra que marcou o movimento negro, pois o mesmo se apropriou de todas as análises das histórias-de-vida, ao apontar para a necessidade do fortalecimento da comunidade negra e modos de repensar nossas posições sociais em ascensão e retraçar estratégias enquanto comunidade, para a nossa saúde emocional, sobretudo. Todavia, o racismo tem tecnologias sofisticadas e por isso a preocupação da psicanalista encontra morada. As 10 entrevistas não dão conta da multiplicidade de formas com que o racismo poderá se exercer e o cruzamento imposto dos afetos com a violência, ainda não tão evidenciado na obra, quanto possível, mas muito presente na vida de pessoas negras com famílias interraciais, assim como no meu eu.

Partindo para o texto, o prefácio feito pelo professor Jurandir Freire Costa, bem encampado na psicanálise, é a leitura dele sobre o livro, enxergando todo um potencial teórico e clínico, com aqueles casos. São pouquíssimas páginas, mas enriquecedoras em que sintetiza muitos debates e articulações entre e sobre o tema do racismo no Brasil e psicanálise. Ele cita até o George Jackson, líder negro norte-americano, para dizer que Genet, na tarefa de fazer a introdução das suas cartas de prisão, descreve-as: “poema de amor e combate”, comparando a semelhança mediante a força e intensidade da obra postulada. Ele diz que, assim como Genet, não precisa fazer acréscimos a obra, no entanto, apenas de dizer isso, muitos foram os acréscimos sobre psicanálise e a condição social do negro. Contudo, destaco minha estranheza, não sei se já enviesada pela entrevista da Neusa, mas uma estranheza, quanto a dimensão psicanalítica para explicar a condição social do negro, empreendida por Jurandir. Esse movimento, me fez chegar ao seguinte entendimento, talvez a obra deveria ser apresentada não apenas como sendo da psicanálise, mas como das ciências sociais, por se articular a ela para pensar. O que é totalmente plausível, uma vez que, o conhecimento, bem como a realidade são relacionais, logo o que poderia comprovar a inferioridade da obra e fazer valer qualquer apontamento racista que ela tenha sofrido, serve como forma de legitimar a grandiosidade da mesma, por tecer um diálogo tão sistemático, não só com a sociologia, mas com a antropologia e a economia política.

Ademais, sistematizei em forma de lições o que me pegou de jeito na leitura, já que, o teor particular atinge o que tem de comum dessa experiência negra, mobilizando-nos a exercitar outras dinâmicas, com códigos tanto semelhantes como possíveis. Esse registro é totalmente pessoal, parte elaborada em texto e o restante em vias de tomar corpo, de tomar o meu corpo.

Ao ler “torna-se negro”, vivi uma experiência de sofrimento e de dor, parei várias vezes. Me reconheci em diversos momentos, nem sempre verossimilhança, mas pelas atualizações na reprodução do mito a envolver a ascensão social do negro, a saber: o negro como na escala do sucesso ou seja da ascensão, está no estrato mais inferior, até por uma determinação biológica dessa inferioridade moral e ética, enquanto o branco está na parte acima da escala, como biologicamente, moralmente e eticamente superior. Consequentemente, o sistema de valor do negro é o daquele inferior, o pobre, o burro, o feio, sujo (sexualmente falando inclusive - vide Luisa, quando afirma ter um veneno - neste caso está para impuro, próprio a mulher negra e ao homem negro, com outros códigos, no qual, ela põe a prova sua inexistência, estando com um homem negro).

Tornar-se negro no que tange a ascensão social, trata de esforçar-se para ser o Outro (branco), o que é impossível, mas lugar determinado como meio necessário, ainda que nunca se concretize o tornar-se garante a ascensão, nesse jogo de valorização/ desvalorização, o primeiro aspecto inclusive, a todo momento posto a prova, se determinando apenas sob a condição de luta/ esforço/ dificuldade e recusa da existência do racismo. Dito isso, o duplo aspecto da estruturação do inconsciente encontra consonância com o conceito de dupla consciência do Du Bois (referenciado como sendo do Fanon, pela autora). A consciência cindida do negro é permite com que ele tem um modo de existência desenvolvido para se relacionar com o negro e um outro para com o branco. Com isso, a ideia de segurança relacionada a posições consolidadas de status e reconhecimento, estão em suspenso quando se trata de negros, vive-se em uma constante de instabilidade, diretamente relacionada a violência racial. O único benefício é estar lá e por isso vale todo o esforço, pois do contrário não se conhece outros meios/ estratégias para lá estar.

A violência de ordem racial, para a autora, é fruto de um mito de origem constituído na escravidão em que se define a partir da imagem do negro submisso e inferior, para ela o regime escravocrata, ou seja, a lógica colonial cria o racismo, logo, a atualização desse mito é devedora da relação senhor e escravo. Nesse mito, escamoteia-se a origem do racismo e focaliza-se apenas no que está “evidente”, a saber: negro é sujo, negro é feio, negro é burro, negro mora em favela, negra tem veneno, negro tem uma performance sexual mais de dominação e etc. Nesse ponto, tenho uma discordância, quanto a origem do racismo se dar na escravidão, pensar que ele se reifica no Brasil através dela, me parece possível, porém, nos estudos do cientista social negro, Carlos Moore, o racismo anti-negro é muito específico e não nasce com a escravidão.

Por fim, entendo a repercussão dessa leitura de fundamental importância, para os interessados em voltar o olhar não apenas para o racismo enquanto categoria, como também para pensar a suas formas de operar nas relações. Este estudo inspira uma investigação mais precisa quanto aos códigos do racismo e como ele se manifesta, tão importante em uma sociedade pós George Floyd, que grita a todo instante ser antirracista e se preocupar com vidas negras e contraditoriamente dessa mesma boca, violências tão bem estruturadas em códigos desconhecidos/conhecidos saem.

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Marita13 11/03/2023

Como a professora da minha banca de TCC falou, nós negros temos que tomar consciência de nós mesmo (racial e político) e ler e reler esse livro. Neuza santos com Torna-se negro trouxe reflexões que persistem até hoje no campo da psicologia e negritude. O que é o negro no Brasil?! nossa muita coisa pra digerir
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Rita Nascimento 27/12/2023

Tornar-se Negro
A partir da metodologia Estudo de Caso e da coleta de história de vida de 10 pessoas negras em ascensão social, a pesquisadora e psicanalista, Neusa Santos Souza, desenvolveu nesta obra uma análise que se tornou indispensável para a compreensão da saúde mental, subjetividade negra e racismo no Brasil.
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