Lauraa Machado 11/06/2020
Um dos piores livros que já li
Eu nunca fui de falar para alguém não comprar um livro do qual não gostei, mas é isso que tenho vontade de falar agora. O mundo está praticamente acabando, nós estamos no meio de uma crise imprevisível, não é hora de sair comprando livro ruim e inútil e perdendo seu tempo com ele quando você poderia ler outro melhor ? ou até um pior, mas que pelo menos tenha essência, sentido ou propósito e algo interessante para te dar vontade de ler além da primeira frase.
Sei que a Kiera Cass vende por causa de A Seleção e que ela não deve ter tido que convencer seus editores a publicarem outro livro dela, mas queria muito saber como ela conseguiu publicar este, porque absolutamente nada salva aqui. Nada. Às vezes sua intenção era só escrever o pior livro que seria capaz de escrever e ver se as pessoas ainda seriam burras de comprar e ler. E eu fui. Parabéns, Kiera. Ficou péssimo, mas você claramente provou que nós compramos livros pela capa e por lembranças e esperanças de coisas melhores.
A maior ironia de tudo é a sinopse ser basicamente a Hollis se incomodando de ser só um adereço bonito para o rei quando este livro é só isso mesmo. Ele vai deixar sua estante mais bonita. E esse é o máximo que ele consegue acrescentar na sua vida.
Não estou com tanta raiva quanto pareço, mal tem coisa suficiente para odiar. É um livro tão sem sentido, sem emoção e no qual acontece tão pouca coisa, que ainda sinto que não li! Parece uma pegadinha, que alguém vai aparecer do nada e dizer que, na verdade, este não é o livro! E que o livro ainda precisa ser publicado! Não tem nada aqui! Mas já passou da hora de eu ser mais específica, né?
Pode parecer que estou sendo grossa desnecessariamente, mas eu falo do fundo do meu coração que a Kiera precisa pegar esses livros dela e entregar para um terapeuta. Ela precisa de terapia. Já é o oitavo livro dela que eu leio e sua necessidade de constante aprovação externa fica clara pelas suas protagonistas. Tá todo mundo o tempo inteiro preocupado com a Hollis, ou a amando ou a odiando, mas sempre pensando e falando dela. Isso porque ela não é nada, não tem poder nenhum e nem personalidade. Ela é a garota que não tem talento nenhum, não sabe fazer nada direito (tocar piano, falar outra língua, ler, dançar), mas que todo mundo acha que brilha e é apaixonante.
Outro problema dela que é um reflexo muito transparente da autora é sua infantilidade. As atitudes que a autora trata como encantadoras são muito imaturas! Ela não fala em momento nenhum a idade de Hollis, mas não me surpreenderia se dissesse que ela tem doze anos. Sério mesmo, sem maldade, eu tinha que ficar me lembrando que ela não tinha doze anos, porque era exatamente assim que ela se comportava!
Outra coisa que já percebi pelos livros da autora é que ela não é muito sagaz ou engraçada. Todas as piadas aqui foram forçadas. Mesmo estando na narrativa, eu nunca consegui imaginar o rei rindo do que a Hollis falava, porque não tinha a menor graça! Não eram nem comentários engraçadinhos, só daqueles esquisitos que fazem todos te olhar de lado como se você estivesse forçando a amizade. Ela não tem senso de humor e quando tenta demais, faz brincadeiras imaturas e inapropriadas, depois reclama que os lords do país não a levam a sério. Pior é vê-la sendo admirada pelo espírito livre que pertence a alguém com pelo menos cinco anos a menos que ela devia ter.
Eu esperava um livro simples, mal escrito e com personagens inúteis e foi bem o que encontrei. Não tenho nada contra o rei propriamente, apesar de ele ter atitudes agressivas que em nenhum momento a autora abordou, pelo contrário, só tratou como normal. Também não tenho nada contra ou a favor do Silas, que tinha tudo para criar uma tensão de amor proibido e acabou não marcando nem um pouco.
A Delia Grace foi uma surpresa agradável por uns cinco minutos e depois voltou a não importar. A autora fez questão de repetir o nome composto dela um milhão de vezes, às vezes várias seguidas, e eu fui pegando ranço só por isso, mas ela foi a única personagem com algum tipo de personalidade. A Valentina foi uma decepção depois de algumas pessoas me dizerem que ela seria interessante. Todos os outros personagens são basicamente clichês superficiais e modelos genéricos de personagens. Nada a acrescentar.
Outra ironia do livro é a Hollis querer ter opinião e não ser só julgada pelo seu exterior, mas ela e todos os personagens são bidimensionais demais. Aliás, toda a história é. Nada aqui tem substância. Tem, sim, alguns momentos em que a autora achou necessário ficar dando lição sobre o universo e ele, apesar de genérico, seria o suficiente para uma história bacana. Só que não tem história aqui, sabe, e até essas lições do universo da história foram tão deslocadas e sobrecarregadas, que só pioraram tudo.
O enredo é risível, para falar a verdade. Se você começar a ler na metade do livro, não vai perder nada. A grande reviravolta do final não tem nem pé nem cabeça e, o pior, a autora fez a mesma coisa que em A Seleção. Colocou a protagonista em seu lugarzinho seguro durante o maior problema e só a liberou depois de estar tudo acabado. Ela simplesmente não consegue escrever cenas difíceis. Eu fiquei até a última cena do livro pensando, "Acho que agora alguma coisa vai acontecer, alguma coisa bacana tem que ter," mas nunca teve. Não tem enredo e eu consigo te explicar a história com spoiler em três frases.
Eu não espero livros complexos da Kiera Cass, já sabia que não acontecia muita coisa e que o romance seria instantâneo e sem desenvolvimento. Mas tem algumas coisas que eu espero dela sim. Espero cenas fofas, frases bonitas e com significado, cenas divertidas e uma leitura prazerosa. Não tem nada disso aqui. Não tem nada de divertido, a narrativa não vai para a frente ao mesmo tempo que parece pular frases e desenvolvimentos. Tem muita frase bonita sem significado nenhum que perdeu completamente sentido e acabou vazia. E não tem nenhuma emoção, absolutamente nenhuma cena fofa.
Emoções são construídas, histórias são construídas com seus tijolinhos que sustentam o que vem depois, suas cenas, atitudes dos personagens, pensamentos da narradora, o que ela nota, o que ela diz, tudo isso importa e é o que dá emoção e significado para o que vem depois. Kiera não construiu nada aqui. É um livro vazio, com detalhes revoltantes, uma capa muito bonita, muita fama atrás e palco demais para um autora que não tem absolutamente nada a dizer e nada a acrescentar na vida de ninguém.
Eu poderia criticar mais mil coisas, porque tem mil detalhes péssimos no livro, mas não quero mais falar dele ou da autora por um bom tempo (quem sabe para sempre?).
Tem uma única emoção que este livro me fez sentir: raiva. Depois do movimento #PublishingPaidMe no Twitter que mostrou como autores negros ganham menos adiantamento do que autores brancos, independente de sua carreira e talento, só fico pensando no quanto a Kiera deve ganhar por livros que não podem nem ser chamados de medíocres. Não costumo falar isso, porque cada um decide fazer o que quer da sua vida, mas não compre este livro. Não perca seu tempo. Existem livros melhores, livros no mesmo tipo de universo, por autores de diversas raças que têm algo a dizer, que têm talento e histórias para contar. Não precisamos dar palco e dinheiro a quem só quer fazer uma capa bonita e desperdiçar todo o time, apoio e fama que tem. Se você está curioso demais para o que vai acontecer na história, me avisa que eu faço um resumo e posto no meu blog. Enquanto isso, vai ler algo melhor, pelo seu bem.
E é isso.