Jessica599 17/08/2020"Qualquer um pode virar um refugiado. Basta que seu país desmorone. Ou você desmorona junto, ou você vai embora.”Em A Odisseia de Hakim, Fabien Toulmé nos conta a história real de Hakim, um refugiado da Síria que teve de abandonar família, amigos, trabalho e sonhos para buscar uma vida digna em outro lugar. Logo no início, o autor nos conta de onde surgiu a vontade de escrever sobre a realidade dos refugiados e eu fui atingida por suas palavras de uma forma singular e impactante. No preâmbulo, ao falar sobre o momento em que viu uma reportagem no jornal sobre 400 migrantes que morreram afogados tentando atravessar o Mediterrâneo, Fabien faz uma autoanálise e nos convidou a fazer o mesmo quando escreve:
"Será que a repetição desses naufrágios de migrantes tinha feito com que nos acostumássemos ao horror? (...) Porque, mesmo que isso pareça evidente, é bom sublinhar que os migrantes não são uma entidade. São um conjunto de indivíduos, de nacionalidades, de histórias, com razões diferentes para querer deixar seus países."
Cada capítulo narra uma etapa da jornada de Hakim. A história começa com ele contando ao Fabien como era sua vida na Síria um pouco antes de 2011 (ano em que a guerra começou) e a graphic novel traz uma breve, porém muito bem explicativa, contextualização sobre o assunto e só por isso eu já recomendaria a leitura, mas há muito mais coisa aqui para ser lida, conhecida e sentida.
A guerra na Síria teve seu início em 2011 dentro do contexto de Primavera Árabe quando várias manifestações de oposição ao governo de Bashar al-Assad começaram a acontecer. Civis armados, bloqueios de alimento, escassez de água... a sobrevivência das pessoas ali foi ficando cada vez mais difícil e é nesse contexto que Hakim sofre uns maus bocados tentando ajudar a família e, em seguida, torna-se um refugiado no Líbano, Jordânia e Turquia.
Desde os primeiros capítulos eu já sabia que A Odisseia de Hakim seria uma das melhores leituras do ano e que bom que eu não estava errada. Carregada de sentimento, de história e de conhecimento, a graphic novel é um grande exercício de empatia e proporciona um olhar mais profundo para as pessoas que vivem nessas situações. É preciso, sim, olhar para as vítimas da guerra e enxergá-los como pessoas, e não como um número, não como uma estatística.
Neste primeiro volume, acompanhamos Hakim da Síria à Turquia e assim que o próximo for lançado, pretendo ler logo que possível. Recomendo muitíssimo.
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