Mayara 28/09/2020
Uma leitura que nos leva à reflexões maiores
Afirma Mayara que esse foi um livro difícil de ser lido. Já no início da leitura eu fiquei me questionando se gostaria de ler esse livro nesse momento que estamos vivendo, diversas vezes me peguei pensando em desistir da leitura simplesmente por saber que me causaria algum tipo de incômodo, por conta da ligação com a realidade, apesar dessa questão, continuei a leitura e foi uma boa surpresa. O Pereira faz a gente querer saber tudo do seu relato, da sua vivência e da sua história... e foi assim que o livro que eu estava com medo de ler, foi lido em menos de uma semana.
Afirma Pereira tem uma essência um pouco diferente dos livros que costumo ler: a pitada pitada importante de retratar um fato acontecido na história da humanidade. Ele tem como cenário o fascismo italiano e a ditadura salazarista, no meio disso, um jornalista que tenta ser isento de questões políticas, mas que com o tempo, começa a perceber que não dá pra levar as coisas assim, se questiona e se ressignifica. Esses elementos em si desde o início fizeram ter uma ideia de como terminaria o livro e me chocou ver o quanto muitas partes me lembram o nosso país atualmente.
O Pereira consegue ser ao mesmo tempo enfadonho e também, carismático. Aos poucos vamos conhecendo sua história, que ele tanto tenta esconder. Com o tempo, entendemos o quanto ele é apegado ao seu passado e como todo o saudosismo lhe afeta diretamente no dia a dia, é muito interessante ver toda a evolução do personagem e sua construção no decorrer dos acontecimentos.
É difícil falar desse livro sem contar spoilers, mas gostaria muito que todo mundo lesse, para eu ter muitas pessoas com quem conversar sobre ele, vale a pena, principalmente para quem gosta de livros com contexto histórico.
Deixo aqui uma das frases que me chamou atenção durante a leitura, em um momento após relatar uma cena de violência extrema que Pereira presenciou:
"Apresentaram-se como polícia política, mas não mostraram nenhum documento que corroborasse sua palavra. Tendemos a excluir que se tratasse realmente de polícia, porque estavam vestidos à paisana e porque esperamos que a polícia de nosso país não lance mãos desses métodos. Eram uns facínoras que agiam com a cumplicidade de não sabemos quem, e seria bom que as autoridades investigasse esse acontecimento torpe."
Não sei vocês, mas esse trecho me lembrou muito a nossa realidade quando há por exemplo, manifestações de professores ou ações da polícia no Rio de Janeiro... (entre tantas outras menções que poderia fazer, mas afirmo que não irei prolongar o assunto).