Um, nenhum e cem mil

Um, nenhum e cem mil Luigi Pirandello




Resenhas - Um, Nenhum e Cem Mil


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Nikolau 26/04/2010

Cabecinhas ocas
Véio, cabecinhas ocas, num lê esse livro não véio! Vô te dá treis razão:

1- Você se acha o bão porque estuda numa merda de facu onde pagô passô, num te ensina porras nenhuma e vc pensa que sabe tudo. Vai lê Capricho, Danusa Leão e outros parangolés.
2- Seu pai desmata, explora funcionário, enfia na poupança (sobretudo na dos pobres), dá uma merreca na igreja e assiste missa no domingo pra aliviá a conciência,te compra livros de boas maneiras e livros de como vencer na vida sem fazê porras nenhumas. Vai lê Japonês Shiniachico, Lair Ribeiro, Dale Carnege, Tiba e outros menos realizados.
3- Ce é um porra, explorado pelo patrão e num passa de um lambe botas? Num lê esse livro não, veio! Vai lê crônicas do Torero, do Avalone, do Simão, vai assisti Pânico na TV, Faustão, Gugu, Datena, vai pentear macaco que você ganha mais!!!
Só não leiam este livro que é coisa para quem pensa, sacô mano véio?
Agora, socê entendeu o meu lance, vá em frente. Depois pegue um Camus, um Thomas Mann, um Machado, um Graciliano... e por aí vai. E leve de quebra o meu abraço.
andre.rossipola 05/05/2015minha estante
1. não
2. não
3. não


Renata Ferraz 03/10/2017minha estante
Achei essa resenha um grande desserviço, não entendi por que recebeu tantas curtidas.


ranacstll 22/01/2022minha estante
KKKKKKKKKKKKKK morri


ranacstll 22/01/2022minha estante
Indo ler ?????


EuSouGabryel 13/02/2022minha estante
MANO OQ ACONTECEU AQUI KKKKKKKKKKK


lialamar 18/02/2022minha estante
an??


Américo 15/08/2022minha estante
Melhor comentário que vi no skoob até agora kkkkkk


Gustavo.Fortes 11/11/2022minha estante
O que a gente pretende quando vem até as resenhas dos leitores é saber a opinião deles a respeito do livro, com críticas que nos motivem ou não a lê-lo.
Esse tipo de comentário seu é de uma arrogância sem tamanho. Por ele, fico imaginando a pessoa intragável e desprezível que você é, apesar de achar ser esse seu comentário uma mera representação de alguém que fala muito e pouco faz.
Não fique magoado...é só um toque. Leve de quebra meu abraço.




Roberta 14/03/2021

"Se para os outros eu não era quem eu acreditava ser para mim, quem eu era?" (P.19)

"Sejam sinceros: nunca lhes passou pela cabeça de desejar ver viver. Vocês cuidam de viver para vocês, e fazem bem, sem se preocuparem com o que podem ser para os outros, não porque a opinião dos outros nada lhes importe, não porque, ao contrário, lhes importe muitíssimo, mas porque têm a doce ilusão de que os outros, de fora, devem vê-lo como vocês mesmo se veem" (p. 33)

"Então, meus amigos, precisamos nos consolar com isto: que a minha realidade não é mais verdadeira do que a de vocês, e que tanto a minha como a de vocês duram só um momento" (p.43)

Um comentário aparentemente aleatório sobre um detalhe fisico e somos arrebatados até a alma do nosso protagonista. Foi meu primeiro contato com a obra de Pirandello e não será o único. A edição da Nova Alexandria tá ótima.
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Marinho 03/08/2015

Você, quantos são você?
“Quem somos?” é uma pergunta tão inerente à capacidade de autoconsciência do homem que guia o direcionamento da filosofia desde o seu princípio. Em uma obra densa, que é menos um romance que um monólogo metafísico, Luigi Pirandello modifica essa questão básica: transforma-a em “Quantos somos?” e, a partir dela, tece um discurso sobre a complexidade do espírito, a dicotomia entre ser algo e parecer algo, e o jogo de aparências sociais que suprime a existência de tal complexidade.

É possível traçar um paralelo interessante entre esse livro e outro com igual poder de visão interior: “A Paixão segundo G.H.”, de Clarice Lispector. Em ambos os livros, um acontecimento trivial (lá, uma barata em um armário; aqui, a percepção de um defeito congênito) são responsáveis por desdobrar toda uma série de dúvidas e questionamentos psíquicos, em um momento único de inspiração no qual o personagem “se percebe” como ser pensante. Mas enquanto na obra de Clarice essa “viagem” interna é essencialmente a nível de indivíduo, Pirandello aborda também as consequências que tal existência de “várias pessoas em uma” implica no âmbito social.

Segundo ele (através da voz do protagonista, Vitangelo Moscarda), não é possível descrever com exatidão a persona que habita um corpo físico, pois a alma constitui-se de um amplo universo psíquico; um livro com várias páginas, sendo que cada uma corresponde a um traço da personalidade. E tais páginas não são lidas na totalidade por aquela pessoa no qual o indivíduo interage, sendo portanto impossível para o alheio conhecer este em sua totalidade, sendo que nem o próprio indivíduo se conhece. Em outras palavras, o ser humano possui uma enorme capacidade, imanente e inconsciente, de metamorforsear-se e moldar-se às pessoas e às circunstâncias ao seu redor, tornando-se assim uma constante “imagem” do que realmente é. Se para A você é X, para B você pode ser Y. O que realmente acontece é que você é, ao mesmo tempo, X e Y, mas A ou B só conseguem ver um lado seu, aquele lado que eles optam, também inconscientemente, para que se torne o seu característico.

Justamente por ser um atributo, quase sempre, involutário, a ação têm o seu início quando Moscarda percebe a dimensão do valor social de tal fato. Afinal, em um só, quantos homens existem? O homem que está aqui, agora, pode não ser o mesmo que estará neste mesmo corpo daqui a alguns segundos. O simples ganho de um conhecimento já pode ser responsável por modificar o pensamento e, por isso, transformar o homem. O homem do presente nunca é o mesmo homem do passado. Podem existir (e existem) vários ids coexistindo, como se o corpo fosse o condomínio de centenas de almas, sem nunca se ter a certeza exata de qual delas está assumindo o corpo físico em determinado momento. E aí somos levados à questão cuja resposta intitula o livro: “Quantos somos?” Podemos ser dez, cem, mil, cem mil, dentro de uma só unidade. Ou de fato “não somos”. Não existimos como um, mas sim como vários, o que leva a crer que nós (o eu) , como cremos piamente existir como únicos, não existe. Somos “um, nenhum ou cem mil”. As três respostas estão corretas.

E, se já é bastante penoso para alguém ter que lidar com essa apresentação multifacetada do ser, em batalhas de ‘”si contra si mesmo”, as limitações impostas pela vida em sociedade, que exige um comportamento ereto e contínuo, são um contraponto à existência de múltiplas personalidades, pois o homem responde por suas ações como um só, abstendo-se das inconstâncias de pensamentos. A vida social, portanto, segundo o autor, torna-se um desafio, pois é preciso a todo momento saber lidar com as escolhas, e escolher de um modo unitário e moral, condizente com a conduta precedente do indivíduo. Qualquer passo fora dessa linha pode automaticamente ser entendido como loucura. Deve-se escolher as máscaras para usar, vestindo o espírito o máximo possível, e deixar com que enxerguem apenas a ponta do iceberg interior, em nome de uma rígida estrutura indissiocrática.

Como Pirandello afirmou, ele não é escritor de farsas, como a desconstrução social e o bom humor da obra podem até sugerir, mas sim de tragédias. A estrutura social é bastante firme; questionamentos e desalinhos com a maneira comumente unidimensional de entender o caráter não serão bem quistos. A partir do momento que o homem ganha a consciência de sua multiplicidade, ele está fadado a viver em uma “prisão dentro de si”, com correntes invisíveis atadas pela vida em conjunto de não se expressar tudo aquilo que ele tem vontade ou poderia vir a se tornar. A fuga da materialidade, a necessidade de comunhão com a natureza, a recusa em se permitir viver em tal estado de aparências que mais lhe parece uma bufonaria, tudo isso é facilmente compreendido do ponto de vista ontológico; mas a sociedade é, essencialmente, ôntica, e tal conduta é concluída como insanidade.

Ao permitir uma vasta abertura para o leitor olhar tanto “para dentro de si mesmo” quanto “para o mundo ao redor, “Um, Nenhum e Cem Mil” torna-se assim uma importante obra da literatura moderna. Ao obrigar a quem o ler tentar reconhecer quem realmente representa aquela imagem que aparece no espelho, pode-se constituir tanto,a depender do curso de tais reflexões, em objeto tanto de fixação das correntes quanto de libertação.
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Eloiza Cirne 06/02/2020

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Com um estilo irônico e divertido, Pirandello nos conduz pela percepção de mundo de Vitangelo Moscarda. Se observarmos com calma, algumas de suas questões são as nossas próprias. Livro para se ler devagar, voltando parágrafos inteiros para entrar no mundo de um personagem inesquecível.
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Rafa 22/03/2022

"Um, nenhum, cem mil", um Pirandello
"A senhora só pode reconhecer-se posando: estátua sem vida. Quando alguém vive, vive sem se ver. Conhecer-se é morrer. A senhora fica tanto tempo se olhando nesse espelho, em todos os espelhos, porque não vive. Não sabe, não pode ou não quer viver. Quer se conhecer em excesso - e não vive?. - p. 199

Tudo começou com um nariz, que caia levemente para a direita. A narrativa se desenvolve ali nas raias do absurdo, onde reverbera o riso. Mas é um livro sobre a solidão. Ele era o banqueiro usurário, imagem de seu pai; era o marido, Gengê; era Vitangelo Moscarda, a quem se solicitava a mão de assinar as ordens no banco... cem mil Moscardas e, no entanto, quem ele era? A imagem que o olhava no espelho não pronunciava resposta, sendo ela mesma uma pose, calculada. Havia um sequestro de seu ser pela imagem ali refletida, toda espontaneidade acabava. Ao se distrair, já não podia se ver. Quem era?

Aos poucos o que se descortina é o horror: a solidão de não se encontrar na imagem dada pelos outros e não ter imagem para si.

Cada um cria uma diversa realidade para o nosso personagem, as quais, sendo dele, no entanto, não lhe é facultado penetrar. E quem o poderia ver, ultrapassar-lhe o nariz? Como alterar esse quadro, tornar-se um, enfim?

Lacan defendeu que a nossa identidade deriva de imagens como em um espelho. Esse seria o modo como aprenderíamos a nos ver, como formaríamos nosso ego. Através da imagem que o outro tem de nós. Vários outros, ?milhares de imagens fraturadas e fortuitas, como numa colagem cubista? (Manguel).

A proximidade desta narrativa com ?Seis personagens à procura de um autor?, peça do mesmo autor, é gritante! E os textos conversam entre si: a mutabilidade e infinitude do ser (somos tantos, e um a cada momento); o vazio das palavras e a decorrente dificuldade de comunicação quando todos trazemos dentro de nós um mundo de coisas, que inevitavelmente ditarão o tom da interpretação de quem fala e de quem ouve; a construção que fazemos de nós e que fazem de nós.

Mais: o personagem e o homem - "Um personagem, senhor, pode sempre perguntar a um homem quem ele é. Porque um personagem tem, verdadeiramente, uma vida sua, assinalada por caracteres próprios, em virtude dos quais é sempre "alguém". Enquanto um homem, não me refiro ao senhor agora, um homem, assim, em geral, pode não ser ninguém". (Seis personagens..., p. 349)
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Carolina 03/11/2023

O sacrifício da multidão de vidas que poderíamos viver e que, no entanto, não vivemos.
"É preciso compreender a minha obra, que eu não sou um autor de farsas, mas um autor de tragédias. E a vida não é uma farsa, é uma tragédia. O aspecto trágico da vida está precisamente nessa lei a que o homem é forçado a obedecer, a lei que o obriga a ser um."

Lembro perfeitamente quando vi uma criadora de conteúdos sobre livros postar uma resenha (e alguns trechos marcados do livro) e que de imediato já me veio em mente aquela vontadezinha de conhecer o Pirandello. E, claro, eu não poderia estar mais certa de que essa leitura seria luz para os meus olhos e um despertar em minha mente. O tipo de leitura que eu amo absorver, ter como um gás de estudos — de vida? Talvez. Tal como diz Luigi, ele não se considera um filósofo e nem pretende ser, mas que de fato esse livro foi rico em trechos filosoficos ah isso foi.

Eu realmente fico muito contente de reservar minutos (ou até horas, quando dá) do meu dia, para poder ler algo tão bom e tão enriquecedor pra alma. E nesse feriado pude concluir mais um que posso colocar com tranquilidade na lista dos meus favoritos. Um, nenhum e cem mil, nos mostra o quanto o humano é limitado em suas escolhas, mas o autor vem nos trazendo as cem mil possibilidades de termos essa harmonia individual. O sentimento do nosso equilibrio moral. Pirandello nos mostra que tudo na vida passa, vida, tempo, amores, feições. Mas o que nos torna unicos e que se mantem intacto são as nossas individualidades como pessoas.
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Larissa1218 06/01/2022

?Se para os outros eu não era quem eu acreditava ser para mim, quem eu era??

Depois que sua mulher aponta um defeito seu que nunca havia notado- seu nariz é torto para a direita- o protagonista entra numa interminável crise de identidade. Me vi muito imersa nessas reflexões sobre as múltiplas perspectivas pelas quais somos vistos e como somos uma, nenhuma e cem mil pessoas ao mesmo tempo. Meu cérebro fritou horrores com essa recomendação que peguei, por incrível que pareça, no tiktok.
Julinha 07/01/2022minha estante
mds o tiktok trazendo cultura meu pai


Lulu 07/01/2022minha estante
Também peguei a recomendação no TikTok, pretendo ler esse ano!


YasminGR455 09/01/2022minha estante
Também estou aqui só pelo tik tok kkkkkkkkkkkk
Espero que seja bom mesmooooo




Tapioca 15/09/2012

Ao ter sua percepção de si confrontada pela esposa, Vitangelo Moscarda percebe que cada indivíduo possui uma consciência própria e que, portanto, a cognição de cada um lhe é particular e incomunicável. Moscarda então surta na solidão existencial de seu ego, assumindo que o personagem que ele havia atribuído a si próprio só existia para ele, portanto não fazia sentido sê-lo. Passa então entregar-se às múltiplas personalidades que lhe atribuem, mas também a descontrui-las, de forma a provar a todos que, assim como o personagem que ele havia inventado para si só existia para ele, também os outros personagens eram criações particulares de cada um. Essa crise de personalidade leva todos a construírem um novo personagem comum, o Vitangelo louco, no qual o narrador se acomoda, pois é o único personagem livre dos constrangimentos de ser alguém para alguém. Sendo louco, Vitangelo pode ser nenhum ou cem mil, conforme o momento lhe aprouver, mas não consegue mais ser um. A narrativa, portanto, conta a história sobre como um personagem entra em crise de identidade, mergulhando num processo de multiplicação de sua personalidade de acordo com as percepções que lhe atribuem e nesse processo acaba não conseguindo mais encontrar uma identidade que dê coerência a sua vida e aos seus relacionamentos sociais. Embora tenha sido escrito no começo do século, o livro tem um conteúdo querido aos pós-modernos, que é a contestação da verdade. Vitangelo enlouquece no infinito de possibilidades que a pós-modernidade proporciona ao indivíduo, quando constata que não há verdades coesivas. É o eu-cartesiano que confirma sua própria existência estando consciente, mas que acredita que a consciência é intrasmissível. A percepção de cada um pertence somente a esse um e não pode ser compartilhada. Certamente, Vitangelo nunca aventurou-se com experiências psicodélicas.
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Marília 05/12/2020

Durante a leitura a gente vai vendo como a nossa mente é complez
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Jose 13/11/2022

Qual rosto você acha que tem?
Você tem certeza que é a mesma pessoa para você mesmo? E para as outras pessoas?

Qual a face que você mostra para a sua família, amigos, conhecidos? E qual o ser que eles veem em você?

Você pode ser um, nenhum e cem mil.
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Fabio Michelete 19/03/2014

Mergulho Filosófico
Até onde você está disposto a ir, quando mergulha em seus pensamentos e reflete sobre sua vida, sua identidade e um sentido para suas experiências?

Intuo que todos nós temos esses momentos filosóficos pessoais. É uma necessidade, como dormir e comer. Melhor, é um automatismo, como o pulsar de nossos corações. Temos esta impressão de que somos únicos e especiais, ao garimparmos boas ideias em nosso íntimo, ao mesmo tempo que ansiamos por ver essas ideias também descobertas por outros. Ficamos felizes quando as vemos confirmadas nas palavras de alguém que respeitamos, ou nas páginas de um livro.

Uma epifania está lá, espreitando no escuro, para te pegar no momento entre a vigília e o sono, ou ensaboado no banho, entre as falas de uma aula, num copo de vinho, ou observando as faixas na estrada. É como se distraídos pudéssemos acessar uma prateleira com informações que sempre estiveram lá, mas por alguma razão permaneciam empoeiradas, aguardando que explorássemos seu conteúdo.

Algumas dessas ideias que construímos, tenho a impressão, não evoluirão até mais do que simples sensações ou certezas, difíceis de traduzir em palavras. Quando tentamos fazê-lo, parecem perder seu charme, sua sabedoria se esvai, fugidia – ou pior, tornam-se errôneas, incompletas. Outras vezes, nos vemos chegando a conclusões já conhecidas e expressas por outros, com uma sensação de que chegamos a ela de um jeito novo, e que ao invés de termos andando em círculos, traçamos um espiral, revisitando ideias num nível acima do anterior, renovados por alguma mudança que sua chama produziu em nós.

Neste livro, o personagem descobre, a partir de um inocente comentário da esposa, que não é quem pensa que é. Ou melhor, que é para cada um que o vê uma pessoa diferente. Impotente diante da construção que os outros fazem de si. Esta descoberta evolui com as páginas do livro, com implicações enormes em sua vida.

Luigi Pirandello faz este mergulho sem qualquer rede de segurança. Olha para a escuridão confiante, como se soubesse de antemão ser capaz de lidar com quaisquer perigos que saíssem dali. Mais que isso, convence-nos que não é ele próprio (o autor) quem faz este percurso, mas seu personagem principal. Podem imaginar como é fascinante ser testemunha dessa façanha? Ler o destrinchar de pensamentos complexos, traduzindo-os na experiência e contexto de seu personagem, convencendo-nos que não se trata dele próprio? Dar a esta divagação ritmo suficiente para que possamos acompanha-lo, e ao mesmo tempo sermos surpreendidos ou uma ou outra decorrência desta ideia inicial.

Achei fantástico. Virei fã, e sem dúvida procurarei outros livros do autor.

Trecho Selecionado:

- Porque para se ver é preciso fechar a vida em um átimo. Como diante de uma máquina fotográfica. A senhora assume uma pose. E posar é como se tornar uma estátua por um momento. A vida se move continuamente, e nunca pode ver a si mesma.
- Quer dizer que eu, viva, nunca me vi?
- Jamais como eu posso vê-la. Mas eu vejo uma imagem da senhora que é só minha – uma imagem que certamente não é a sua. A sua, viva, a senhora talvez a possa ter vislumbrado em alguma foto instantânea que lhe fizeram. Mas sem dúvida deve ter tido uma ingrata surpresa. Talvez tenha até relutado em se reconhecer naquela imagem descomposta, em movimento.
- É verdade.
- A senhora só pode reconhecer-se posando: estátua sem vida. Quando alguém vive, vive sem se ver. Conhecer-se é morrer.
(...)
Estou certo de que ela, assim como eu, depois daquela fala e de tudo o que já lhe dissera sobre o tormento do meu espírito, experimentou naquele exato momento a sensação de ver abrir-se à sua frente, desmesurada e tanto mais pavorosa quanto mais lúcida, a imagem de nossa irremediável solidão.
(...)
Todo o orgulho desmoronava.
Ver as coisas com os olhos que não podiam saber como os outros olhos a viam.
Falar para não ser entendida.
Não valia mais nada tentar ser alguma coisa para si.

E nada mais era verdade, já que nenhuma coisa era em si verdadeira. Cada um por sua conta a assumia como tal, apropriando-se dela para preencher a própria solidão e dar à sua vida uma consistência qualquer, dia a dia.
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Carol 01/02/2022

Um dos melhores livros que já li, onde a personagem principal, Vitangelo Moscarda, é capaz de fazer uma reflexão identitária muito profunda em cima de um comentário que sua esposa faz: ?seu nariz é mesmo ligeiramente torto para a direita?.

Quando Vitangelo percebe suas imperfeições ele começa a observar o fato dele ser um corpo e ser visto de forma diferente por cada pessoa. Um outro detalhe importante é que o ?Moscarda de nariz torto? também reflete no ponto que a cada segundo ele se torna uma pessoa diferente e o antigo Moscarda de um segundo atrás deixa de existir.

Explicar uma filosofia profunda em forma de conto e com tanta clareza é uma arte, super indico este livro! Muito conhecimento pode ser tirado dele!
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fernandaararuna 17/08/2022

"...a minha realidade não é mais verdadeira que a sua..."
e foi quando li esse trecho pela primeira vez, que me veio uma vontade urgente de ler a obra de luigi o quanto antes possível, devido estar passando por um momento de crise que se igualava ao próprio conteúdo do livro. cada parágrafo era um soco no estômago e me fazia refletir sobre diversas visões que temos de si e dos outros, sobre os diferentes graus de personalidade do ser humano. perspectivas que eu já havia tido observado, mas nunca antes tinha conseguido descrever em palavras.

ideais, ações e até a própria estética do ser humano se faz parte da individualidade de cada um e mesmo que alguns conceitos que igualem ao do outro, cada um tem seu parâmetro de vida de acordo com a sua vivência e o seu tempo. não cabe a mim, nem a você querer modificá-lo e cronometrá-lo, até que urgente e solicitado seja.

e tudo isso foi relatado até a primeira metade do livro, após isso, tudo se tornou muito repetitivo e confuso, o que deixou a leitura cansativa e entediante, eu só queria terminar as páginas logo. porém, o livro é muito bom e super recomendável para quem gosta de analisar as singularidades do ser humano e suas questões sociais tanto para si, quanto para estudos acadêmicos.
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