Nívia 05/02/2014
Daqueles livros que nos fazem sentir.
"Por que não morremos num período assim? Antes que tudo comece a esboroar. Nem sei se é no fundo ou na superfície que começa a erosão. A primeira tristeza não partilhada. A primeira solidão em que se vira as costas e, ao voltar, não se encontra mais a presença reconfortante. Apenas outra solidão, de costas. A consciência está alerta: está acabando. O resto vem depois. Todo o cortejo".
Foi o trecho acima, destacado sozinho na parte de trás do livro, que me chamou a atenção. Queria ler alguma obra de Lya Luft fazia tempo, mas nunca tinha parado para pesquisar sinopses e títulos. Eu já segurava um outro livro da autora - que, agora, nem me recordo qual era - quando decidi trocá-lo por "As Parceiras". E, quando finalizei minha leitura(em menos de 24h, coisa que há tempos não fazia), tive a certeza de que não poderia ter começado a conhecer essa escritora de uma forma melhor.
Em "As Parceiras", Lya Luft nos apresenta um texto leve, porém com fundo pesado. De leitura fácil, mas de reflexão profunda. Nos traz uma personagem principal marcada pela maldição da infelicidade que perdurava em sua família - "a família de perdedoras" - de geração a geração, mas que, mesmo com todo o medo de ver as mesmas desgraças acontecerem em sua história, tentava ser feliz. E, por vezes, até acreditava que seria possível.
É uma história de melancolia, de angústia. É sobre acreditar, desacreditar, acreditar mais um pouco e, depois, ver que, talvez, não tenha jeito mesmo. É sobre uma mulher que morre em vida, antes de dar o último suspiro. Sobre fantasmas do passado, sótãos de verdade e sótãos metafóricos. É sobre a loucura da vida.