Noturnos

Noturnos Kazuo Ishiguro




Resenhas - Noturnos


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edu basílio 02/05/2021

noturnos & a falta de sol

'noturnos', de 2009, é o único livro de contos de kazuo ishiguro. são cinco narrativas que têm em comum o fato de serem protagonizadas e narradas por músicos, além de terem seu "clímax" à noite ou prestes ao anoitecer. as aspas para o "clímax" foram propositais. muito da beleza da escrita de ishiguro está na solenidade e no sóbrio esmero técnico que ajudam a conferir grande força emocional aos seus ROMANCES. as maiúsculas para ROMANCES, de novo, foram propositais.

o que ocorre, ao meu ver, é que uma escrita com essas qualidades necessita de fato da extensão de um romance para se estabelecer, se enraizar, nos envolver e criar um resultado que seja belo e tocante. nesses contos, sem o espaço para tal e tentando forçar o humor pelo inusitado, o autor nos coloca diante de protagonistas fervendo botas velhas com temperos tentando obter algo com cheiro de cachorro, ou escondendo medalhas de um prêmio enfiando-as dentro de perus assados na cozinha de um hotel, ou tocando violão no meio do mato junto com uma turista mal humorada -- em todos os casos, com "finais" do tipo "oh, acabou?" (estão autoexplicadas as aspas para "finais").

após publicar 'não me abandone jamais' em 2005, ishiguro levou mais 10 anos para dar à luz o seu romance seguinte, 'o gigante enterrado', em 2015. isso é factual. agora eu vou me permitir expor três argumentos que embasam minha teoria (meio paranoide, assumo) sobre a gênese deste livro de contos:
    (1) já li mais de uma entrevista em que ishiguro relata ter reescrito 'o gigante enterrado' mais de meia dúzia de vezes, sem conseguir ter a sensação de conclusão, de ter em mãos algo que o satisfizesse plenamente.
    (2) seu sonho juvenil era ter uma banda de renome mundial antes de pensar em se tornar escritor, algo já declarado à exaustão em suas entrevistas. não acho, pois, improvável que ele tenha rascunhado ao longo dos anos algumas histórias sobre música.
    (3) traduzido em 40 países, finalista de 4 booker prizes e ganhador de um deles, a pressão editorial sobre ele não devia estar leve: "kazuo, querido, estamos já com 4-5 anos sem nada seu, precisamos do novo romance para antes de ontem".

... então, nesse meio tempo, por razões sobretudo comerciais, teria ele juntado alguns contos sobre música que acumulara nos fundos das gavetas, dado a esses textos uma polida rápida com o equivalente inglês de veja-remove-manchas, e publicado 'noturnos'? jamais saberemos, a não ser que ele o diga com todas as letras.
talvez sim.
ou talvez o cárcere forçado por essa pandemia esteja de fato me atirando no abismo da especulação e da loucura.
em todo caso, mesmo correndo o risco de escorregar para o clichê, o que eu digo com segurança é que a escrita do kazuo é grande demais para caber nesses cinco contos.

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Thiago Silva 16/02/2021

Noturnos - Kazuo Ishiguro
Este livro aparenta não refletir todo o talento do autor, visto que os contos tem propostas interessantes, embora a execução deixe a desejar.
Impressões sobre os contos
Conto1: aborda questões interessantes, mas execução fraca.

Conto2: só conseguia pensar patético, patético e patético.

Conto 3: proposta interessante, mas mais uma vez passa o sentimento sentimento de tanto faz como fez.

Conta4: conto que aliás carrega o nome do livro, embora tenha "mensagens importantes', o protagonista do conto é chato e todos os acontecimentos são sem graça.

Conto5: de longe o melhor conto, nele você consegue sentir que realmente está sendo falado de música e embora os personagens não sejam nada extraordinários, eles conseguem gerar interesse e o seu final é daqueles que deixa um gosto de quero mais.

Embora o livro não seja nada demais, é uma boa porta de entradas para se conhecer o autor.
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Higor 19/01/2018

'Lendo Nobel': sobre a influência da música em nossa vida
Ainda na adolescência, Kazuo tinha o sonho de ser músico, tendo se dedicado à escrita. Não que fora um fracasso no desejo inicial, afinal, trabalha desde 2011 com a cantora de jazz, Stacey Kent, compondo canções memoráveis. Logo, um livro de músicas para alguém com composições sólidas e prêmios literários não seria menos que espetacular.

"Noturnos", é um livro singelo de contos sobre música e anoitecer, como o próprio título indica. De poucos mais de 200 páginas, pode ser uma porta de entrada para o incrível e sublime mundo de Ishiguro, embora o leitor não se decepcione em começar com um romance, de fato, como o nostálgico 'Não me abandone jamais'.

É no cair da noite que os personagens chegam a constatações sobre o universo musical em que vivem, quase sempre caótico e alimentado por dificuldades e até desilusões. Basta ter algum amigo que vive de música ou arte para se ter uma noção de quão difícil e incerta é tal vida, mas que a mesma, apesar de tudo, proporciona momentos de satisfação e louvor. As cinco narrativas se desdobram diante disso: as empreitadas e os momentos de esperança.

'Crooner' - Um músico que se depara com o cantor favorito da mãe, e enquanto conversa rapidamente com ele, é surpreendido com um favor inusitado, deixando o leitor angustiado. A melancolia do leitor já conhecida em outros, é presente neste conto.

'Chova ou faça sol' - Um homem faz uma visita a um casal em conflitos, em que a música não é bem-vinda e tolerada a ser sequer mencionada. A melancolia ali, no entanto, divide lugar com um humor, o que, de alguma forma, fica um tanto forçado, deixando o meio do conto enfadonho, mas logo no final o autor retoma a sentimentos mais cativantes, salvando o conto a tempo.

'Malvern Hills' - Um dos melhores, o terceiro conto narra a tentativa fracassada de um músico malsucedido em ter inspirações para compor novas músicas. Decide então visitar a irmã e se adequar a sua rotina, quando um casal estranho de músicos suecos são a válvula de escape inexplicável e necessária para os dias desesperançosos.

'Noturnos' - O conto que dá título à coletânea é estranho em um primeiro momento, mas conta de forma sutil até onde uma pessoa pode ir por conta da fama, e o quão decadente o futuro que o espera pode ser. As atitudes tomadas, por conta da fama, e até mesmo que a solidão proporciona são incômodas, e é justamente o que faz o conto ser tão bom.

'Celistas' - Um conto igualmente estranho, que vai crescendo aos poucos, deixando o leitor confuso quanto a real mensagem por trás da história, mas quando enfim entendemos a proposta, é chocante e desconfortante e eu diria até ultrajante. O conto ideal para fechar a coletânea.

Um livro de música sobre música, e sobre noite também, aliás, Noturnos é o livro perfeito para se ler a noite, na madrugada, ou conforme o sol vai indo embora. A imaginação cria sua própria trilha sonora, o que não impede o leitor de ouvir alguma música que se afeiçoa, sem muitos barulhos ou timbres, apenas para que a serenidade da leitura se funda ao da canção.

Este livro faz parte do projeto 'Lendo Nobel'. Mais em:

site: leiturasedesafios.blogspot.com
Joviana 22/02/2020minha estante
Excelente resenha.




Leonardo 08/10/2014

Contos para se ouvir lendo jazz (ou o contrário?)
Eu gosto bastante de ler, e creio que isto está claro pelo meu blog e pelo meu canal no YouTube. Também gosto muito de música, apesar de não ser músico nem me considerar um entendedor do assunto. Sou um mero consumidor de música (mais ou menos como consumidor de livros) e tenho meu gosto, que é bastante abrangente, apesar de eu recusar o rótulo de eclético. Um dos meus sonhos secretos nada secretos é aprender a tocar um instrumento musical algum dia, preferencialmente o piano. Talvez daqui a uns trinta anos, quando eu tiver me aposentado, quem sabe.

Literatura e música, música e literatura. As duas artes juntas deve resultar em algo interessante, pensei, quando decidi pedir à Companhia das Letras o livro Noturnos, de Kazuo Ishiguro. É um livro de contos com histórias de música e anoitecer. Do escritor britânico (apesar de nascido no Japão, ele cresceu na Inglaterra, e seus livros são escritos em inglês), li apenas Never let me go, ou Não me abandone jamais, uma distopia de altíssima qualidade, um livro que me deixou muito, muito impressionado.

Eu esperava, portanto, por ótimas histórias, e não sei por que razão, enquanto pensava em escrever esse texto, a primeira ideia que tive é de que eu não havia gostado tanto assim dos contos, que eles seriam meramente ok. Quando peguei o livro para relembrar cada um dos cinco contos (eu li o livro em julho ou agosto, creio eu, e fiquei me amarrando para escrever a resenha), meu cérebro começou a trabalhar e eu só conseguia pensar: Acho que li esse livro rápido demais!

Por que pensei isso? Porque à medida que fui relembrando cada conto, eu via que tinha gostado bastante de todos eles, mas que eu havia passado correndo por cada uma daquelas histórias. E se há uma trilha sonora que casa bem com este livro é aquele jazz lento, pungente, como este April in Paris, cantado por Sarah Vaughan, citado em um dos contos:



Adianto, portanto, que Noturnos é um livro que eu preciso reler logo, porque não o li adequadamente, não o li como o autor, penso eu, queria que eu o lesse, como o próprio subtítulo sugere: histórias de música e anoitecer. É preciso deixar-se envolver pelas histórias como o dia deixa-se seduzir pelo anoitecer, sem pressa, sem violência, como um lento fechar de olhos.

O primeiro conto, Crooner, conta um episódio envolvendo Tony Gardner, um dos grandes crooners americanos, uma lenda viva da música. Ele está em Paris com sua esposa, com quem ele está casado há bastante tempo, para algo que parece uma segunda (ou terceira, ou quarta) lua de mel. Ele contrata um músico que encontra na rua para fazer uma serenata para a mulher. O conto é narrado por este músico, que revela, dentre outras coisas, que Tony Gardner é muito importante na sua história porque sua mãe era simplesmente louca por ele. O conto toma um rumo imprevisível e de certa forma cru, revelando uma dimensão bastante desagradável do show business. Muito, muito bom.

O segundo conto é Chova ou faça sol. Nele, Charlie e Emily, um casal em crise recebe em sua casa um antigo amigo, Raymond, que é visto como fracassado. O casal está quase se separando e Charlie, que está viajando a negócios, pede que Raymond fique com Emily e apenas seja ele mesmo durante alguns dias, meio que para convencer a esposa de como tudo deu errado para ele e como a esposa está melhor deixando de lado as velhas paixões e abraçando com mais força o pragmatismo. A situação absurda fará Raymond e Emily relembrarem a paixão que tinham em comum anos atrás (mesmo contra toda as recomendações de Charlie): a música. Um conto um tanto incômodo, que deixa um gostinho amargo na boca. Muito bom.

No terceiro conto, um músico que ainda não encontrou o sucesso vai passar uns dias num café que sua irmã mais velha mantém com o marido numas colinas turísticas. Lá ele ajuda nos afazeres enquanto tenta reencontrar sua inspiração. Ele conhece um casal de músicos, que o ajuda a refletir sobre a vida. Sim, a sinopse está péssima, mas foi um dos contos que mais gostei (e olhe que gostei muito de todos, percebi isso revendo os contos).

O quarto conto, Noturnos, é meu preferido, mas não vou falar quase nada dele, além do fato de envolver um músico muito talentoso, mas muito feio, que resolve, por pressão do seu empresário, fazer uma plástica numa clínica frequentada por muita gente famosa. Nesta clínica ele conhece uma atriz famosíssima e decadente, e vive uma aventura meio surreal com ela. Conto precioso.

O último conto, Celistas, conta a história de Tibor, um jovem celista cujo grande potencial é muito admirado pelos seus colegas músicos, e Eloise McCormack, uma famosa celista que decide orientar Tibor. É também um conto de desenvolvimento estranho, quase improvável, mas o talento de Ishiguro é em fazer-nos crer mesmo na mais improvável das hipóteses.

Repito: só ao rever os contos percebi que corri demais na leitura de Noturnos. É um livro para se ler como se ouve Nina Simone, sem pressa, sem esperar movimentos bruscos. Se isto lhe atrai, não perca tempo: você vai encontrar belíssimas histórias, que ficarão ainda melhores se lidas enquanto você ouve uma boa música.

Minha Avaliação:

4 estrelas em 5.

site: http://catalisecritica.wordpress.com
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Paula 08/03/2020

Morno
Esse livro me tirou da ressaca literária que durou todo o ano de 2019. E esse é o mérito dele pra mim. Um livro de contos que não gostei tanto, na verdade. Achei bem morno. Mas serviu pra distrair e quebrar a ressaca. São 5 contos que envolvem música e relações pessoais. Meu primeiro, e talvez único, Kazuo Ishiguro.
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Letizinha 27/07/2023

Proposta cumprida ??
Durante minha leitura, para abrir meus olhos além das palavras, li algumas resenhas sobre "Noturnos" na plataforma, e devo dizer que muitas falam como o livro traz histórias avulsas demais e sem contexto, coisa que, durante o início da minha jornada literária, tive como opinião. Entretanto, o livro realmente traz contos sobre o meio musical, tais como no "Noturnos" (conto 4[se não me engano]), onde mostra-se, em meio a façanhas de um saxofonista e uma celebridade, que dita as dificuldades de um musicista, que além de seu verdadeiro objetivo, devo cumprir com as ideias impostas pela sociedade para que ele seja imposto como "primeiro time".

Ademais, todos os contos têm um traço artístico, seja uma música que marca uma lembrança, ou então um músico em busco de seu florescimento. Enfim, é um livro bem interessante, principalmente àqueles que realmente entendem da "coisa".

Kazuo Ishiguro nos trouxe mais uma vez um vislumbre de sua mente sensível.


??Gratiluz!!! Boa leitura ???? ?? ?
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Lucas 21/09/2023

O livro nos apresenta 5 contos protagonizados por músicos, ou, no caso de um deles, de um amante da música. São histórias belas, simples e gostosas de se ler. Adorei os contos, que me passaram uma sensação de slice-of-life. São histórias cotidianas e com diálogos muito espontâneos, que dão uma grande sinceridade e fluidez a escrita.

Entretanto, alguns contos não são tão impactantes, embora divertidos. Gostei muito do que li, mas acabo deixando um 4 estrelas, ao invés de 5, como normalmente faço com os livros desse autor.

É uma boa obra, recomendo.
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iara 25/04/2024

Foi minha primeira leitura concluída do Ishiguro, já que o outro livro que eu tentei não fluiu muito bem, acho que não era o momento certo. Quanto a Noturnos, as histórias são, em sua maioria, interessantes e que prendem a sua curiosidade e esse é o problema; eu gostaria de saber os desfecho das pessoas, o que aconteceu etc., mas como são apenas recortes, você fica sem essa resposta.
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Claire Scorzi 09/07/2010

Música sublinhando dúvidas e esperanças
O conto mais emotivo dos cinco é "Crooner", um pouco incomum em se tratando de Ishiguro; contudo, contém mais emoção explícita sem ser piegas.
Em "Chova ou faça sol" pareceu-me estar diante daquilo que os americanos chamam de comédia dramática. Parecendo uma peça teatral, com entradas e saídas de personagens num espaço único, e cenas 'solo', faz notar aquele toque comum nas criações do autor - a infelicidade inconsciente de certas figuras. O conto também questiona aquilo que entendemos por 'perdedor', 'vencedor', e deixa dúvidas incômodas.
Em "Malvern Hills", a melancolia pintalgada aqui e ali de humor traz questionamentos semelhantes. Talvez "Noturno" seja o conto mais fraco; mas, em compensação, o último, "Celistas" fez-me pensar (não pela primeira vez no caso de Ishiguro) em Henry James, em especial na sua novela "A Madona do Futuro" que poderia estabelecer um estimulante diálogo com tal conto. Ambiguidade e a tocante visão do artista que espera estar preparado para a sua grande obra. Terá esperado demais?
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rafaella 25/04/2023

Curtinho e gostoso de ler!! gostei particularmente da malvern hills! mas a escrita dele brilha muito mais em histórias mais longas, isso não tem como negar.
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tavim 30/03/2024

Noturnos, de Kazuo Ishiguro
Aos acordes do anoitecer embalam-se as pessoas e seus amores; dissociá-los é desmaterializar a essência de que são feitos os momentos. vem como o vento as cifras as quais as notas se alinham --- notas são gente que tornam o tom atraente, música só é se há alguém ali pra sentir. e, à noite, galgam somente àqueles que nada mais tem a não ser de sua presença pras canções virem a existir num breve e único instante.

é tão tônico e suave que, com cinco contos, noturnos de kazuo ishiguro (prêmio nobel de literatura) parece se passar na calçada ao nosso lado numa espécie de 'desprotagonistas' num enredo de gente que contou o que ouviu, numa condição de precisar prestar atenção pra perceber o som que se circula. provêm da mesma matéria-prima dos músicos e seus instrumentos no ambiente dos restaurantes, e nem por isso se fazem menos importantes. as histórias acontecem por todos os lados e são belas, sendo elas notadas ou não.
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No Instagram, publico mais resenhas e ilustro todas as capas dos livros que leio.
Acesse @tavim para ver.
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Aguinaldo 22/12/2012

noturnos
Comprei esse livro por acaso. E que boa surpresa arrumei para mim mesmo! São cinco contos muito bons. No primeiro um velho e pragmático crooner americano, hospedado em Veneza, convida um jovem músico a acompanha-lo em uma serenata para sua mulher. O rapaz e o crooner conversam um bocado sobre amor e afeto, sucesso e música, sobre a relação de homens com as mulheres. No segundo um sujeito, professor de línguas, que viaja pelo mundo em função de seu trabalho, é convidado para ficar hospedado na casa de uns amigos, colegas de quem era muito íntimo nos tempos da faculdade. O reencontro, algo amalucado, mistura mágoas e expectativas. No terceiro conto um jovem músico resolve passar uma temporada no interior inglês, na pousada/restaurante de sua irmã mais velha, trocando a oportunidade de alguma paz para trabalhar em suas composições e eventuais ajudas na cozinha. Ele conhece um casal de cantores suiços de meia idade, com quem troca algumas experiências. No quarto conto um músico respeitado profissionalmente mas que ainda não alcançou o sucesso que acredita merecer é convencido a fazer uma cirurgia plástica. Na clínica onde a operação é realizada ele conhece uma mulher muito famosa e espirituosa, que de alguma forma apresenta a ele as nuances do mundo do show business que ele desconhecia. Na última das histórias Ishiguro faz um músico contar a história de um jovem colega que foi enfeitiçado por uma espécie de anti-musa, uma mulher que após um bloqueio musical parece vampirizar jovens músicos para descobrir como eles continuaram seus estudos, apesar das dificuldades. Em todas as histórias a experiência estética da música domina a narrativa. Em todas elas o leitor encontra uma dificuldade de comunicação, como se os personagens conseguissem apenas se expressar através da música que produzem e não por meio da vida em si. O que eu entendo como dificuldades de comunicação se manifesta nas lições de moral que personagens impõe aos demais, na raiva contida que se acumula neles, nas reflexões que cada um tem de suas carreiras, em contraposição a de seus amigos ou colegas. Encontramos também digressões sobre as diferenças entre as gerações, sobre como cada pessoa (ou geração) lê o mundo de uma forma distinta das demais. Impressionante como um escritor pode ser capaz de fixar em livro sentimentos tão sutis e poderosos.
[início 05/12/2012 - fim 06/12/2012]
"Noturnos: histórias de música e anoitecer", Kazuo Ishiguro, tradução de Fernanda Abreu, São Paulo: editora Companhia das Letras, 1a. edição (2010), brochura 14x21 cm, 210 págs. ISBN: 978-85-359-1636-2 [edição original: Nocturnes: Five stories of music and nightfall (Londres: Faber and Faber) 2009]
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Leila de Carvalho e Gonçalves 02/11/2017

Cinco Contos
Após premiar a jornalista bielorrussa Svetlana Alexievich e o compositor norte-americano Bob Dylan, em 2017, a Academia Real Sueca optou por uma por uma escolha menos ousada. O vencedor do Prêmio Nobel de Literatura foi o nipo-britânico Kazuo Ishiguro, um ficcionista respeitado, que, curiosamente, trabalhou como músico na juventude e até hoje compõe, tendo parcerias famosas com a cantora de jazz Stacey Kent.

Portanto, não é por acaso que ?Noturnos - Histórias de Música e Anoitecer" gire em torno do universo da música. Publicado em 2009, o livro reúne cinco contos recheados de canções, como ?I Fall in Love Too Easily? e ?One for My Baby?, que o público adora e os eruditos torcem o nariz.

Em comum, as histórias atingem seu clímax, ao cair da noite. Também abordam a difícil e até mesmo injusta relação entre talento e sucesso, trazendo à pauta quais concessões podem ser válidas, para fazer parte da lista dos bem-sucedidos, quando as esperanças tornam-se escassas.

Exibindo uma atmosfera melancólica, os narradores atuam mais como observadores do que protagonistas e mediante uma palavra acidental, acabam oferecendo um novo rumo para as histórias que, muitas vezes, não gostariam de revelar ou pudessem compreender. Na minha opinião, este é o maior mérito de Ishiguro como contista.

Quanto aos contos, o primeiro e o último são ambientados em Veneza, começam e terminam numa cafeteria da Piazza San Marco, todavia, as semelhanças param por aí, pois ?Crooner? encaminha-se para um provável divórcio, enquanto ?Celistas? acena para um possível casamento. Já em ?Noturno?, o foco é o recomeço na meia-idade, enquanto que ?Faça Chuva ou Faça Sol? e ?Malvern Hills? tratam da imaturidade prolongada.

Para finalizar, obedeça a sequência de leitura, pois algumas personagens participam de mais de uma história e algumas revelações poderão ser descobertas antes da hora, reduzindo seu impacto.

Nota: Adquiri o ebook que, com índice ativo, atendeu minhas expectativas.
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Tati Iegoroff (Blog das Tatianices) 21/03/2018

Um livro para quem ama música... e para quem quer saber mais sobre ela
Veja a resenha completa em: https://blogdastatianices.wordpress.com/2018/03/20/noturnos-kazuo-ishiguro/

Esteticamente falando, Noturnos é lindo: capa azul, bordas das páginas na mesma cor, pássaros desenhados na capa, com um lindo violino. No entanto (e para a nossa sorte) o livro vai muito além desta beleza exterior, nos trazendo cinco contos protagonizados por instrumentistas e amantes da música e escritos em linguagem coloquial, fácil de ler e de se apaixonar.
Antes de falar sobre os contos, no entanto, vale a pena tentar entender o título do livro: na linguagem musical, um “noturno” é uma música clássica que reproduz estados de espírito únicos e extremamente líricos e que, originalmente, deveriam ser executadas em eventos sociais que ocorriam a noite, ao ar livre. A ambientação dos contos de Ishiguro não são exclusivamente noturnas, uma vez que os músicos tocam em diversos momentos do dia. Mas há o lirismo dos “noturnos” e os estados de espírito únicos.
O primeiro conto do livro chama-se Crooner. Com ele já pude aprender várias coisas sobre o mundo da música que, mesmo sendo uma de minhas paixões, eu desconhecia: crooner, por exemplo, é um cantor ou cantora de música popular que canta com uma orquestra ou conjunto instrumental. Além disso, o crooner que aparece nesta história é real: Tony Gardner (e eu nunca havia escutado nada sobre ele…).
Neste conto conhecemos o jovem músico Jan, cuja mãe era apaixonada por Tony Gardner. Numa bela tarde, enquanto Jan toca em uma praça de Veneza, ele avista Tony Gardner e decide ir conversar com ele. A partir disso Jan descobre muitas coisas: conhece Lindy Gardner, esposa de Tony; ouve um pouco mais da história de ambos; descobre que Tony já não é mais o mesmo sucesso de antes. Um conto sobre fama, amor, fins e recomeços.

Em Chova ou faça sol Raymond, que dá aulas de música na Espanha, decide visitar seus amigos de faculdade, Emily e Charlie, em Londres. Ao chegar lá, porém, vê-se diante de um casal em crise que quer usá-lo para demonstrar que existem outros tipos de fracasso na vida. Um conto cheio de intrigas, rancores, segredos e mágoas.

Malvern Hills começa ambientado em Londres, mas logo passamos para Malvern Hills, no interior da Inglaterra, onde o narrador, um músico iniciante decide se refugiar para compor mais algumas músicas. Para isso, no entanto, ele hospeda-se na casa de sua irmã, Maggie e seu cunhado, Geoff e os ajuda no café que possuem. Ali ele conhece Tilo e Sonja, que lhe causa uma péssima primeira impressão. Mais tarde, porém, este jovem músico encontra novamente Tilo e Sonja e os três conversam de igual para igual: todos ali são músicos. Um conto sobre inspiração, preconceito e, novamente, amor.

Noturno, além de ser um conto com o título muito parecido com o do livro é, também, o conto mais extenso de todos, além de ser o mais cheio de aventuras, altos e baixos, confusões. Aqui um saxofonista acaba se rendendo à ideia de fazer uma plástica facial em Beverly Hills para poder, finalmente, estar entre os melhores da música. Durante o período de recuperação ele conhece ninguém menos que Lindy Gardner (sim, a mesma do primeiro conto!) e então muitas coisas malucas começam a acontecer. Um conto sobre aceitação, sucesso e aparências.

O último conto, Celistas, nos conta sobre quando Tibor, um músico em início de carreira, conhece uma americana que se considera uma virtuose. Pois bem, fui (novamente) pesquisar e, na música, a virtuose está relacionada ao excepcional domínio técnico desta arte. A tal moça americana, no entanto, possuia muito deste talento técnico, mas pouco tocava de verdade. Ainda assim, ela conseguiu ajudar Tibor. Um conto sobre amizade, influências e talento.

Apesar de histórias independentes, os contos carregam algumas semelhanças ou proximidades entre si: os finais, por exemplo, são bem abertos, deixando muito espaço para que nossa imaginação complete a história; a música que aparece nas histórias muitas vezes é o jazz (tanto é que o nome de Chet Baker aparece em todas elas) ou algum outro tipo de música considerado mais clássico; as narrativas não são exatamente felizes, ainda que consigam ter um toque de leveza e graça.

Noturnos foi um livro que, apesar da rápida leitura, me fez pensar sobre as histórias e me fez pesquisar e conhecer muitas coisas sobre o mundo da música. Para quem ama ler e ama música é, sem dúvidas, um prato cheio. Mas também não é um livro restrito somente a este público, graças à sua linguagem e narrativas que prendem.

site: https://blogdastatianices.wordpress.com/2018/03/20/noturnos-kazuo-ishiguro/
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Luciana.Esteves 05/05/2020

Gostei do livro, mas não gostei da sensação de que todos os contos ficar inacabados. Talvez a ideia seja está.
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