A Sombra e o mal nos contos de fadas

A Sombra e o mal nos contos de fadas Marie-Louise von Franz




Resenhas - A Sombra e o Mal nos Contos de Fada


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Sanoli 23/04/2018

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Wagner 19/01/2019

OS CORVOS...

(...) Os corvos parecem saber quando haverá cadáveres para se alimentarem. Nos tempos antigos sempre acompanhavam os exércitos, esperando comida. Eram os mensageiros de Wotan e a direção de seu voo presagiava a derrota ou a vitória. Eles não só transmitiam aos Deuses o que acontecia na Terra, mas quem conseguisse ler os sinais, os auguria, conseguia ler a intenção de Deus através co comportamento dos Corvos (...)

in: VON-FRANZ, Marie Louise. A sombra e o mal nos contos de fadas. São Paulo: Paulinus, 1985. pg 272.
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Carla.Parreira 21/10/2023

A sombra e o mal nos contos de fada
?
Eis um pouco da leitura e o que mais me interessou nela: A nossa própria vida carrega em si um sentido interno que é o de restaurar a nossa unidade primeira. Não é o espiritual que aparece primeiro, mas o psíquico. Para chegar até Deus, toda pessoa tem necessidade de passar pelo âmago que existe dentro de si e, quando se chega a ele, chega-se também ao próprio mistério de Deus. Ao ser imagem do divino, o humano adota suas características, de modo particular, quando faz a experiência de seu centro. Ao fazê-la, faz ao mesmo tempo a experiência da totalidade da imagem e da experiência de um Deus incomensurável.
O ego vai conquistando sempre mais a liberdade para conviver, arriscar-se, confrontando-se com a sua sombra. A pessoa passa a fazer um caminho no qual percebe as mudanças e as transformações em si, até chegar a aproximar-se da totalidade do centro, o self. Entrar em contato profundo com o interior equivale a uma aproximação gradativa de Deus. As transformações interiores impulsionam a alma ao autoconhecimento genuíno, suscitado pelo descobrimento contínuo do mundo interior, fazendo com que a alma abandone a falsa imagem do próprio eu, que muitas vezes é baseada na imagem feita pelos outros.
Se os egípcios foram os primeiros a utilizar a interpretação dos sonhos, coube aos gregos aprimorar tais técnicas e inseri-las no diagnóstico e tratamento de doenças. Com base na visão mítica, acreditavam que a doença era a consequência da violação de um tabu ou de uma ofensa aos deuses. A cura consistia em restabelecer a relação entre o plano somático e o espiritual, buscando-se identificar no sintoma, o aspecto com o qual o indivíduo havia se desconectado e deveria voltar a se reconectar. As práticas curativas caracterizavam-se como verdadeiros rituais, desenvolvidos nos templos dedicados a Esculápio, o deus da medicina. A atenção e o entendimento dos sonhos, ao lado da música, meditação e dieta, caracterizavam-se nesta época, como atividades, mediante as quais era possível um restabelecimento do equilíbrio entre psique e corpo.
Na Grécia Antiga, os filósofos Heráclitos (544-483a.C.) e Aristóteles (384-322a.C.) desenvolveram a ideia de que os sonhos estão ligados ao aspecto interior do indivíduo, sendo representações (metáforas), fragmentos de lembranças do dia e/ou revelavam o estado mórbido do corpo. Já Hipócrates (460-357a.C.) escreveu um tratado sobre o diagnóstico através da atividade onírica. Este tratado era praticado nos templos de Asclépio onde a pessoa enferma era colocada para dormir e lá ficava até o momento em que um sonho revelasse a origem da doença e um tratamento adequado para a cura. No antigo Egito (1991-1786a.C.) foi escrito o chamado ?papiro de Chester Beatty?, com suas conclusões sobre os significados dos símbolos oníricos. Os sonhos eram interpretados somente por sacerdotes e eram consideradas mensagens da deusa Ísis. Em seguida, observam-se inúmeras citações sobre sonhos na Bíblia. Suas aparições são como eventos sobrenaturais, proféticos, ou seja, como a principal forma de comunicação de Deus com os profetas.
Um sonho não compreendido não passa de um simples episódio, mas a sua compreensão faz dele uma vivência. O potencial total de cura contido em nossos sonhos não se atualizará a não ser que seja acompanhado pelo crescimento e desenvolvimento da consciência. A palavra consciência deriva dos termos latinos ?con?, que expressa ?com?, e ?sciere?, ?saber?, vindo a significar ?saber com? ?outro?, sendo que este outro pode ser uma pessoa, alguma parte de si ou o próprio Deus. Registrar, pintar, refletir afetivamente sobre as imagens oníricas são formas concretas de a consciência participar da individuação. Existem duas maneiras de se ver o sonho como atividade compensatória. O sonho compensatório, em primeiro lugar, pode compensar distorções temporárias na estrutura do ego e assim dirigir o sujeito a um amplo entendimento das suas atitudes e ações. A segunda e mais profunda maneira é aquela que coloca o ego de frente com uma necessidade de uma adaptação mais rigorosa ao processo de crescimento e amadurecimento psíquico, a individuação.
Interessante notar que deslocamos atributos de uma pessoa para outros elementos e pessoas do sonho (teoria da subjetividade). Então sonhamos com uma pessoa que aparentemente não é aquela pessoa, ou identificamos num suposto desconhecido alguns traços de personalidade de alguém que conhecemos. Os contos retratam, através de seus personagens e acontecimentos, os nossos próprios temores e incapacidades, contra os quais teremos de lutar, assim como os animais, as velhinhas ou os objetos mágicos representam as nossas capacidades e possibilidades internas, conhecidas ou não, que poderemos obter para superar nossas dificuldades.
O ?final feliz? sugere a criança que todas estas tentativas para superar o medo, vencer os desafios, enfrentar forças que personificam conteúdos negativos ou sombrios podem ser coroadas de êxito, dando-lhe o estímulo necessário para que ela encontre saída frente a estes obstáculos. A criança não pensa senão a partir de si, ignorando mais ou menos os pontos de vista dos outros, acreditando que todos pensam como ela. A criança afirma sem provar, e não tem a necessidade de convencer.
Quando partes de nossa sombra pessoal não estão suficientemente integradas, a sombra coletiva pode passar furtivamente por essa porta. O próprio diabo exemplifica tal personificação da sombra coletiva. Encontramos o mesmo esquema na família, onde a ovelha negra é forçada a carregar a sombra dos outros. Então o que fazer com a sombra? Não é saudável ignorá-la nem absorvê-la demais. Quando o ego se relaciona com o self, que é o símbolo unificador, o conflito se resolve e o ego funciona em sua totalidade. Este é o modo normal de os opostos funcionarem. Ao contrário disso, o caos acontece quando o ego defende um lado ou o outro, margeando sempre num só oposto. Dessa forma o ego não acompanha o fluxo da vida. Naturalmente, um comportamento muito unilateral, gera atitudes que são destrutivas. Quando um lado ou aspecto é muito reprimido ele simplesmente explode de maneira incontida porque não se autodomina. O lado negativo não precisa ser reprimido, ele é apenas a contraparte que gera equilíbrio ao lado positivo. A perfeição não nega e nem reprime a imperfeição, ela simplesmente envolve a harmonia dos opostos. Assim a imperfeição passa a ser a ausência da perfeição, e não uma existência concreta em si.
Numa série de sonhos, podemos ver que uma mudança da personalidade está em preparação, e então temos que esperar para ver o que surgirá do inconsciente; mas antes do tempo certo nada pode ser acelerado, nem os acontecimentos exteriores nem a realização interior. O processo interior possui seu próprio limite de tempo e seu próprio ritmo, não podendo ser de forma alguma apressado. Uma sombra é um forte poder instintivo, e se não quisermos empacar diante de um problema insolúvel, certas coisas têm que ser esquecidas para que possamos prosseguir. Somos objeto de reconhecimento e crítica, e quem não se aventura fica numa espécie de meio-termo.
Se as pessoas são eticamente sensíveis e escrupulosas as coisas tornam-se mais difíceis: não se consegue viver porque se procura ser perfeito demais, de modo unilateral. Este é o conflito que a religião cristã nos colocou: até onde devemos ir? E se levamos muito longe o conflito com a sombra, empacamos ou somos mártires, ou então temos que blefar um pouco, vivendo a sombra sem olhá-la muito de perto para manter uma defesa saudável. As pessoas tentam ser decentes, mas perdem as raízes e daí não sabem como seguir adiante. O indivíduo se torna neurótico porque a outra metade de sua personalidade não aceita a decisão e se rebela furiosa. Ele tem fantasias hipocondríacas, depressões, mau-humor e não sente prazer em seu trabalho. Isto pode ser visto frequentemente em pessoas que tentam ser muito moralistas.
Nessa situação, tudo o que o ser humano tentar fazer não dará certo: é odioso ceder à sombra e é ruim rejeitá-la ? se ceder ele é mau, se não ceder pagará por isso, e isto é o que eu chamaria de típico conflito de sombra. Não há como decidir entre prós e contras para chegar numa solução. Se alguém for incapaz de mudar de atitude ou blefar um pouco, o complexo básico da sombra na natureza humana torna-se insolúvel, pois ele produz uma situação na qual não se consegue fazer o que é certo. Nessa hora uma pessoa fraca usará uma muleta e pedirá conselhos a alguém, ou então negará o conflito, dizendo não haver conflito. Infelizmente isso se repete e quase sempre dá maus resultados, surgindo então à velha regressão em que a mão direita desconhece o que a esquerda faz. A solução criativa seria algo inesperado que resolve o conflito em outro nível. Uma decisão brota do inconsciente que não é nem esta nem aquela, mas é algo que simplesmente redefine a situação. Isto pode levar semanas ou meses; é uma tensão de opostos que não deve ser decidida pelo ego, pois a solução criativa do conflito de sombra significa pôr de lado o ego, seus padrões e conflitos, entregando-se por completo às forças desconhecidas de nossa própria psique.
No homem o que não está integrado cai no domínio da anima. Consequentemente, exorcizar a anima geralmente significa uma rediscussão de problemas religiosos. A anima pode inspirar o mundo mental do homem pela leveza com que capta novos conteúdos e os apresenta a ele. Ela o inspira, mas ele é que tem de realizar a tarefa; é exatamente o oposto do relacionamento biológico, no qual o homem fertiliza e a mulher leva em si a criança. O veneno na anima consiste no fato de ela sempre tentar fazer o homem acreditar que é o grande porta-voz da nova verdade, ou o oposto. Em geral, ela é mais do tipo mentiroso histérico que exagera e distorce um pouco as coisas. O meio mais fácil de observar um homem influenciado pela anima é perceber quando ele começa a mentir: nesse ponto é apanhado pelas pequenas distorções. Todo estado emocional tende ao exagero e à distorção dos fatos, e a anima possui tais qualidades.
Imaginação ativa é sentar-se separado de seu ódio ou grande amor e então discutir com este fator, mas deixando fora o objeto. O objeto de seu ódio ou amor é algo a que o inconsciente se agarra avidamente e através disso surge o pensamento voluntarioso, exatamente o oposto da imaginação ativa. As pessoas pensam no que amam, ou no que gostariam de fazer, e acreditam que isto é imaginação ativa, mas isto é magia e pode até dar vazão a uma psicose. Se nos aborrecemos com alguma coisa ficamos discutindo o tempo todo conosco, mas isso é imaginação passiva, completamente diferente da difícil arte de se sentar separado, ?desidentificando? e olhando algo objetivamente.
Se as pessoas conseguem fazer imaginação ativa durante horas, então estão erradas; quando feita corretamente, depois de dez minutos fica-se exausto, pois ela implica num esforço real e não num ?deixar acontecer?, o que seria imaginação passiva. Por exemplo, se estou sentindo ódio de alguém eu devo me separar da personagem-sombra em mim que está sentindo ódio e questioná-la por que tal emoção (o que eu usualmente faço separando a Carla da Princesa Perfeição). E se o sentimento é uma projeção de alguém sobre mim, também devo tecer o diálogo com o personagem-sombra do outro, e não imaginando o outro diante de mim. Dessa forma podemos analisar e observar a emoção ou o problema sem estar nele e sem senti-lo como sendo-nos, pois que em verdade a emoção ou o problema parte de nós, mas nós não o somos de modo algum. As pessoas esquizofrênicas mergulham a tal ponto no inconsciente coletivo que penetram no inconsciente de todo mundo, enxergando as coisas de uma forma espantosa.
Numa situação onírica podemos nos comportar como um imbecil ou herói e então dizemos que não é assim que nos vemos, mas é assim que o inconsciente nos vê ? é a fotografia do nosso ego a partir do prisma do inconsciente. Este é um aspecto em que essa fotografia costuma ser a situação inicial dos contos de fada: ela retrata a situação consciente, mas a partir do inconsciente. Pode-se com acerto dizer que os sonhos são produtos do inconsciente, mas são fenômenos na orla da consciência ? somente aqueles que não podemos lembrar é que são inconscientes. Os contos de fada compartilham tanto da atemporalidade do inconsciente, como do tempo relativo do consciente, porque não estão completamente no inconsciente.
Na análise pessoal as interpretações são aceitas quando ?dão um clique?, e se isso não ocorre, há estagnação; aí a análise pode propor este ou aquele passo e o analisando concordará, mas nada acontecerá. Os contos de fada ?escritos? por um autor não são genuínos, pois até certo ponto contêm o problema deste. Todo tipo de perturbação psicológica se revela em problemas de adaptação social, ou na atitude diante da morte, ou em situações tais como a relação sexual, isto é, onde quer que seja necessária uma reação instintiva, pois tais reações requerem o auxílio de modelos arquetípicos vitais e importantes.
Existem situações arquetípicas em que o ser humano necessita de sua personalidade total; se ele possuir uma cisão neurótica, ele a revelará em tal situação. ?Debaixo da cama? é o lugar escondido onde os complexos reprimidos e os problemas vivem, minando aos poucos a condição consciente e finalmente até mesmo o descanso da pessoa. É por isso que uma consciência pesada, com preocupações ou coisas reprimidas de fato perturba o sono, mantendo a pessoa acordada. Se nós somos tomados por um estado emocional exagerado a respeito de qualquer coisa, é porque em geral nossa libido e vitalidade inconsciente não estão fluindo na direção certa ou não estão se dirigindo para o devido lugar.
A realização do self sempre traz consigo a restauração da ingenuidade, a reação pura e total da criança. Mas a pergunta é: ?Será que preciso ser infantil ou terei de voltar a ser criança?? Como disse Cristo: ?Aquele que não se fizer criança, não entrará no reino dos céus?. Primeiro é preciso tornar-se adulto, e depois criança. Às vezes vemos que a civilização cristã preferiu acreditar que se deve permanecer como um pequeno cordeiro de Jesus para se atingir o reino dos céus, mas o que é de fato necessário é a restauração da capacidade espontânea de uma reação natural total, apoiada, por assim dizer, no self. O pássaro (ou peixe) é um princípio único e não uma dualidade, um símbolo genuíno do self que vem das profundezas do inconsciente, uma espécie de ideia intuitiva de totalidade, responsável pela situação dual do mundo consciente. O mal não vem do princípio da consciência, mas de um arquétipo negligenciado do inconsciente. Por outro lado, embora a consciência não possa ser responsabilizada, ela é responsável indiretamente, pois a batalha existe no inconsciente devido a uma determinada atitude consciente errada.
Na pior neurose o ponto culminante é também a ocasião da cura. É melhor se manter sempre numa atitude de dúvida com relação ao próprio comportamento, o que significa fazer o melhor que se possa, sempre admitindo, porém, a possibilidade de ter cometido um erro. Isso é colocar a imaturidade de lado, o lado infantil de se apegar a unilateralidade. Nisso entende-se que as chamadas reações éticas da psique inconsciente às vezes são bastante objetivas e diferentes de nossos padrões éticos conscientes. O consciente pode ser bastante moralista e o inconsciente não, ou vice-versa. Uma reação ética, mesmo proveniente das camadas do inconsciente coletivo da psique humana, parece ser algo altamente individual e específico. Não há uma regra básica padrão para o comportamento humano, pois as contradições sempre existem. Se assim não fosse, não haveria individualidade.
Em seu artigo ?A Consciência? Jung menciona uma senhora que se achava uma santa e que toda noite sonhava com as mais sujas obscenidades sexuais. Este é um exemplo grosseiro do que chamamos de lei de compensação. Nós sabemos igualmente que, às vezes, as pessoas que vivem o seu lado mais sombrio, reprimindo seu melhor ego, têm todos os tipos de sonhos com Cristo, com redentores da humanidade e assim por diante. Quando se pensa que não consegue fazer algo ou então adotar um determinado comportamento ou jeito de ser, na verdade é porque estamos reprimindo esse arquétipo ou sombra dentro de nós, mas isso sempre nos ataca interiormente.
Nos contos de fadas o mal não surge apenas sob a forma de demônios da natureza vivendo na floresta, na neve, montanhas ou lagos, mas também pode originar-se de pessoas mortas. As almas dos mortos, principalmente os fantasmas de assassinos ou pessoas assassinadas, e as almas daqueles que morreram em batalhas, ou das pessoas que morreram antes do tempo, adquirem poderes demoníacos. Tem-se a impressão de que suas vidas não chegaram a um final natural e harmonioso, mas foram interrompidas de forma violenta. A explicação primitiva é a de que o espírito do morto está ressentido por causa de uma frustração, o que o torna demoníaco. Por exemplo, conta uma lenda que o fantasma de uma mulher que cometeu o suicídio sempre tenta seduzir outras mulheres, pois somente assim podem ir para o Além e renascer, entrando de novo na roda da existência, retornando à vida. Até elas encontrarem uma substituta têm que rondar pela área intermediária entre vida e morte, e é por isso que buscam uma substituta, tentando seduzir outras mulheres. Aqui o fantasma não age apenas por maldade, mas com o objetivo de se libertar de sua existência intermediária da qual não pode voltar à vida e nem ir definitivamente para o Além.
As forças do mal na natureza, que são desagradáveis e destrutivas para a vida humana, pertencem à experiência arquetípica do mal: fome, frio, fogo, deslizamentos de terra e avalanches, tempestades do mar, perder-se na floresta, os grandes inimigos do homem (entre eles os animais, como o urso polar, o leão, o crocodilo, etc.). Esses podem ser os símbolos ou as personificações do mal. Mas é impressionante a existência de uma forte tendência de se representar tais criaturas na forma dupla: metade humana e metade animal. Isso conduziu à teoria amplamente divulgada entre os etnólogos de que os espíritos do mal são produto da fantasia de indivíduos esquizofrênicos, de que as pessoas que veem e lidam com os espíritos do mal, como o curandeiro e o xamã, são simplesmente os indivíduos psicóticos da tribo que aterrorizam o resto de seu povo com fantasias psicóticas.
As pessoas ameaçadas por uma raiva patológica costumam sonhar com um deslizamento de terra ou avalanche e aí, o inconsciente utiliza uma imagem simbólica hábil para predizer não um desabamento exterior, mas interior, no qual o comportamento cultural, imbuído na personalidade, é completamente encoberto e substituído por um único modo de comportamento ? agressão, medo ou algo desse tipo, uma poderosa reação primitiva que podemos chamar de natureza pura. Portanto, não podemos negar que os espíritos maléficos na natureza se refiram não apenas ao verdadeiro mal contido na natureza, mas igualmente à natureza pura dentro de nós, que contém esses mesmos fenômenos. Se olharmos por esse ângulo, o fato de que essas criaturas sejam representadas como aleijadas é muito adequado, pois isso implica uma natureza humana unilateral e distorcida.
Se uma pessoa ficar sozinha por muito tempo, seu inconsciente despertará e ela será apanhada, por bem ou por mal; será possuída pelo demônio, ou encontrará uma realização interior maior. Quem se introverte dessa maneira, segundo atestam os que procuraram a santidade no passado, é inicialmente atacado pelos demônios, porque primeiro essa energia fortalece o que chamaríamos de complexos autônomos do inconsciente. O fruto da solidão só será positivo depois de serem resolvidos tais complexos, pois antes disso, a solidão significará lutar com vinte mil demônios diferentes. A solidão dá vida ao que existe no inconsciente, e se não soubermos como lidar com esse material, ele surgirá primeiro de forma projetada. Assim, quem vive sozinho não somente atrai o mal de sua própria natureza, constelando-o através do inconsciente, mas também atrai projeções. É por isso que os solitários dão a impressão de serem estranhos. Quando não conseguem nos compreender, as pessoas projetam sobre nós o seu próprio mal. E é isso o que acontece quando sonhos solitários e, consequentemente, estranhos.
O mal é um esqueleto. É aquele espírito ?sem vida e sem amor? que sempre foi associado à essência do mal. É a destruição pela destruição, que até certo ponto todo mundo possui em si. É melhor tratar o mal como estando fora da pessoa, segundo as regras da sabedoria natural dos contos de fada. A neurose costuma ser um ?mais? e não um ?menos?, só que um ?mais? não vivido, uma possibilidade de se tornar mais consciente, ou mais criativo, que não se realiza por alguma desculpa esfarrapada. Um dos momentos em que a imaginação ativa é indicada é quando as pessoas se encontram sob uma emoção dominadora. Não precisa ser necessariamente raiva, pode muito bem ser quando se está apaixonado de forma possuída, ou sem se saber como manter a cabeça no lugar, ou em qualquer tipo de emoção que nos domina, arrebata e tira a liberdade. Geralmente aconselhamos às pessoas em tal situação a personificarem sua emoção e conversarem com ela, para que de alguma forma a emoção se manifeste, tentando lidar com ela como se fosse um ser real.
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